São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

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BALANÇO 2005

Na periferia, houve continuidade de algumas obras, como o Fura-Fila, mas sem projetos novos de destaque

Serra prioriza intervenções na região central

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Revitalização da ""cracolândia", abertura de calçadões para os carros, estudo sobre a demolição do Minhocão, reforma das praças da República e da Sé, projetos de ampliação na av. dos Bandeirantes e nas marginais Tietê e Pinheiros.
Em seu primeiro ano, a gestão José Serra (PSDB) reservou à região central - e não à periferia- suas propostas mais ousadas e polêmicas de intervenção urbana.
A prefeitura até deu continuidade a parte das principais obras de governos anteriores nas áreas mais distantes, como as da Radial Leste, da Jacu-Pêssego e do Fura-Fila, além de dois hospitais e de prometer cinco novos CEUs.
Mas a gestão Serra só teve sua "marca própria" no centro -recebendo alguns elogios pela atenção dada à área e também críticas de que estaria preocupada apenas com a questão urbana e estética, sem dar a mesma atenção aos problemas sociais da região.
Uma das ações de maior destaque se deu na "cracolândia". Com a polícia, a prefeitura fechou bares e hotéis que abrigavam tráfico, usuários de drogas e prostitutas.
Nos meses seguintes, decretou como de utilidade pública uma área com 750 imóveis, que poderão ser desapropriados para atrair investimentos nos setores de tecnologia e cultura. Foram aprovados incentivos fiscais, com redução de IPTU e ISS, às empresas que quiserem se instalar no local.
Na "cracolândia", a presença maciça de prostitutas e usuários de crack foi substituída por ruas um pouco mais vazias. A sensação de abandono, porém, persiste. E ainda é possível ver meninos com a droga por lá ou nas imediações, para onde alguns migraram.
"Se eu for ao Morumbi ou a outros lugares, também vou ver menino usando crack. O importante é que a "cracolândia" não é mais aquela coisa concentrada, um endereço do crime", diz Andrea Matarazzo, subprefeito da Sé, sobre as intervenções que comandou.
A reforma das praças da Sé e da República -que foi cercada-, com mudanças que devem dificultar a presença de moradores de rua, também reforçou a discussão sobre até que ponto essa revitalização não estaria sendo feita de modo somente a empurrar os problemas para outras áreas.
Cesar Bergstrom, diretor de urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), está entre os que consideraram "infelizes" intervenções como a da "cracolândia" sob a alegação de que foram medidas "isoladas" e "de marketing", "factóides", sem tratar da cidade inteira e mudando os problemas de lugar.
"O governo está mal de planejamento, a periferia está sem proposta", diz Bergstrom, que votou em Serra e faz questão também de citar aquilo que considera acertos do tucano -como a "despolitização das subprefeituras" e a "despoluição visual", vetando a propaganda de imóveis em calçadas.
O subprefeito Matarazzo exalta as melhorias do centro, citando a atração de universidades. Também diz que a segurança melhorou -a quantidade de guardas municipais será até fevereiro duas vezes maior que há um ano.
Ele nega caráter "elitista" em suas ações e diz que há abrigos para receber em condições dignas as pessoas que vivem nas ruas.
A abertura de calçadões para os carros -que será feita de forma gradual- e os projetos de ampliação na av. dos Bandeirantes e nas marginais Tietê e Pinheiros também foram polêmicos.
No caso dos calçadões, a idéia é liberá-los para a passagem de tráfego local. Na Bandeirantes, a intenção é retirar seus semáforos e construir uma faixa adicional. Nas marginais, há estudos para a construção de uma nova pista pedagiada, sob concessão privada.
De um lado, esses planos facilitam a circulação. De outro, são criticados por focarem os carros, modo de transporte mais prejudicial à sociedade -problema semelhante ao dos túneis construídos no último ano da administração Marta Suplicy (PT).


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