São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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Prefeitura destrói calçada projetada por Lina Bo Bardi

Paralelepípedos que cobriam 70 m em frente ao Sesc Pompéia foram arrancados

Direção do Sesc reclama e afirma que não foi avisada; prefeitura recua e diz que vai refazer trecho dentro da concepção original do piso

FILIPE MARCEL
RICARDO VIEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Parte do projeto idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), as calçadas em frente ao Sesc Pompéia, na rua Clélia (zona oeste de SP), foram destruídas -sem o conhecimento prévio da entidade- por funcionários da prefeitura.
Os paralelepípedos antigos foram arrancados para dar lugar às lajotas cinza e vermelhas intertravadas que fazem parte do calçamento padronizado pela prefeitura e já implantado em várias ruas da cidade.
Os blocos de ardósia cinza que atravessam o Sesc de ponta a ponta foram serrados na divisa com a calçada. No lugar, os responsáveis pela obra espalharam, na noite de anteontem, uma mistura de concreto com pedregulhos, o que acabou atrapalhando a passagem de pedestres e cadeirantes.
A direção do Sesc reclamou. "A gente amanheceu com a calçada quebrada", disse o diretor regional em exercício do Sesc, Luiz Galina. Segundo ele, foi preciso ser feito às pressas um piso provisório para que seus cerca de 5.000 freqüentadores pudessem entrar no prédio.
Agora, a prefeitura, que quebrou os cerca de 70 metros de calçada na madrugada de 30 de dezembro, decidiu refazer todo o trabalho -vai manter os paralelepípedos.
O assistente técnico de obras da prefeitura Ângelo Mellio disse que a determinação de reconstruir a calçada na mesma concepção do projeto original é do secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo.
Mellio, porém, diz que serão feitas adaptações no calçamento, para melhorar a acessibilidade. "Trocamos o piso de prédios tombados na avenida Paulista. O objetivo principal [da padronização das calçadas] é garantir a acessibilidade."
O Sesc Pompéia, porém, diz que o terreno já era inclinado e que uma trilha de ardósia assegurava a acessibilidade dos cadeirantes -não havia, segundo a entidade, necessidade de mudar nada na calçada.
Mellio reconheceu que pode ter havido uma falha pelo fato de o Sesc não ter sido avisado da obra. "O usual é avisar o proprietário da calçada de que ela será reformada."
Ele também admitiu que foi um "equívoco" da prefeitura ter feito a obra no período de festas, época em que o Sesc Pompéia fica ainda mais cheio.
Segundo o assistente técnico, não é possível estimar quanto a prefeitura irá gastar com a reforma da calçada. Ele diz apenas que "não haverá muita diferença de custo".
A reforma do restante das calçadas da região continua inalterada -e deverá estar concluída em 30 dias.
O arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz, que participou do projeto inicial da calçada, considera que Lina Bo Bardi conseguiu "realçar a arquitetura do Sesc Pompéia". Ele acha louvável a iniciativa da prefeitura de padronizar os calçamentos, mas considera que essa calçada deveria ser mantida, principalmente por fazer parte da arquitetura do prédio.


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