São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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HC testa celular que controla glicose no sangue de diabético

Programa instalado no telefone calcula qual a dose de insulina a ser aplicada

Intenção de criadores do sistema, que nasceu numa incubadora de empresas da USP, é que ele chegue ao mercado em alguns meses

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Analy Pereira, 21, que testa programa eletrônico de celular


RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Diabéticos atendidos pelo Hospital das Clínicas de São Paulo estão testando um sistema inédito que usa o celular para controlar a taxa de glicose no sangue. O programa eletrônico instalado no telefone permite calcular com precisão a dose de insulina que deve ser aplicada antes de cada refeição.
O diabetes é uma doença caracterizada por problemas na produção ou na ação da insulina, hormônio do pâncreas que faz com que a glicose chegue às células e se transforme em energia. Com o tempo, se não for controlada, a doença provoca problemas nos rins, nos nervos, nos olhos e no coração. O Brasil tem 8 milhões de diabéticos, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes.
A doença é mantida sob controle com a administração de insulina artificial, que impede o excesso de glicose no sangue. O grande desafio dos diabéticos é determinar com precisão a quantidade de insulina a ser aplicada.
Para isso, precisam fazer uma série de cálculos, que inclui a quantidade ingerida de carboidrato e glicose (é necessário consultar uma tabela nutricional), o nível de glicose no sangue (é preciso fazer um furinho no dedo) e até a hora do dia (quanto mais cedo, maior a quantidade de insulina).
De acordo com médicos endocrinologistas, é comum que os pacientes cometam erros na hora de calcular os carboidratos. Acabam tomando insulina demais ou de menos, o que prejudica o controle da doença.
Com o sistema em teste no Hospital das Clínicas, o diabético não precisa fazer contas. Ele faz a seleção de seu cardápio -no celular- numa lista com 600 alimentos e as respectivas medidas (colheres, copos e fatias, por exemplo). A quantidade de carboidratos é calculada automaticamente. Em seguida, digita o nível de glicose no sangue (o furinho no dedo continua sendo necessário). O programa leva em consideração a hora do dia e até o tipo de insulina usado. O índice de insulina a ser aplicada aparece no visor.
"Agora estou tranqüila, porque sei que não existe o risco de errar", diz a estudante Analy Garcia Pereira, 21, que está participando dos testes. Ela conta que, antes de usar o celular, tinha mal-estar, dor de cabeça e tontura porque não conseguia calcular corretamente a quantidade de insulina. "A contagem de carboidratos às vezes é difícil. Alguns alimentos não estão na tabela. Eu acabava tendo de chutar os valores."
A endocrinologista Karla Melo, que coordena os testes, afirma que outra vantagem do sistema é o fato de todos os dados do celular serem automaticamente transferidos para um prontuário eletrônico, ao qual apenas o médico do paciente tem acesso. "Isso permite avaliar o tratamento em tempo real e fazer as alterações necessárias", diz.
O software GlicOnline foi desenvolvido numa incubadora de empresas da USP (Universidade de São Paulo) e recebeu R$ 500 mil da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A intenção dos criadores do sistema é que chegue ao mercado ainda nos primeiros meses deste ano e que seja adquirido principalmente por operadoras de planos de saúde. O preço de cada licença está estimado em cerca de R$ 25.
"Estão surgindo equipamentos cada vez mais sofisticados que estão facilitando a vida dos pacientes. Até pouco tempo atrás, era impensável que certos tipos de diabético chegariam à velhice com saúde, livres de complicações", afirma o endocrinologista Walter José Minicucci, da diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes.


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