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Filho de pedreiro chegou a executivo
DA REPORTAGEM LOCAL
Melhor aluno da turma de 80
do curso de engenharia elétrica, o
pastor evangélico Walter Thomaz, 65, formou-se com média
8,22. Filho de uma costureira e de
um pedreiro, Thomaz foi um calouro tardio -entrou com 34
anos na Escola Politécnica. De dia,
o rapaz estudava na USP. De noite, atuava como técnico de manutenção elétrica na Eletropaulo.
Para Thomaz, que quando
criança ajudava a família fazendo
carreto de feira, engraxando sapatos e trabalhando em uma pizzaria, não há dúvida: ter sido um super-estudante foi o que lhe garantiu o salto social. Quando se aposentou, depois de 32 anos na mesma empresa elétrica, transformara-se em assessor da diretoria.
Ascensão social consta também
do relato do primeiro colocado na
turma de 80 da Faculdade de Direito, o hoje professor de direito
processual civil da USP e advogado empresarial especializado em
contenciosos e arbitragem Carlos
Alberto Carmona, 48.
Formado com média 8,76, casado, duas filhas, Carmona cresceu
em uma família típica de classe
média. Hoje, o professor mora em
Alphaville, bairro endinheirado
na Grande São Paulo, e mantém
escritório de advocacia na valorizada avenida Faria Lima.
Mas as novas ondas geradas pelos modismos, tendências e desenvolvimento tecnológico muitas vezes surpreenderam os melhores alunos da turma de 80. A
economista Maria Luiza Gomes
Brandão, 48, formada com média
8,87 -segundo lugar no ranking
da escola- é funcionária da prefeitura de São Paulo. Ela explica a
opção pelo serviço público, que
sabidamente paga pouco: "A gente estudou em uma época anterior
à globalização, à queda do Muro
de Berlim, à internet. A gente
acreditava no Estado, achava que
ele podia fazer mais coisas".
No caso da medicina, as mudanças também não foram poucas. Há duas décadas, radiologia,
dermatologia, oftalmologia ou
otorrinolaringologia não eram
atrativas para os estudantes. O desenvolvimento da ressonância
magnética, as cirurgias corretivas
de problemas de visão ou a fusão
da dermatologia com a cosmética
transformaram esses campos em
focos de grande interesse.
Fenômeno análogo aconteceu
com a área de doenças infecciosas
e parasitárias. "Veio a Aids, que
urbanizou a especialidade, o
maior conhecimento sobre infecção hospitalar, e o tratamento de
infecções em transplantados. Mudou o trabalho do profissional da
área", lembra o primeiro lugar em
medicina, Ronaldo Cesar Borges
Gryschek, média 9,12.
Na engenharia química, o primeiro colocado, Carlos Alberto
Meliani Ribeiro, 48, média 7,61,
viu sua carreira e a de seus colegas
migrarem para áreas fronteiriças
à de administração. "Conheço
poucos engenheiros que trabalham strictu sensu naquilo em
que estudaram. A maioria foi para
a área gerencial." O segundo colocado na engenharia química é hoje executivo da Rhodia. O terceiro
trabalha na Tailândia, no manejo
de rejeitos industriais.
Da lista dos melhores da engenharia, o único que segue trabalhando na área tornou-se professor da própria USP. "Eu não queria ser gerente, queria me manter
na área técnica", explica o segundo colocado na engenharia elétrica, média 7,92, Walter Kaiser, 48.
Mesmo com salário menor do
que receberia trabalhando em
uma grande empresa, Kaiser acha
que a vida universitária compensa: "Eu trabalho dentro de um
bosque, o campus da USP, tenho
um agradável ambiente profissional e uma relativa liberdade de
horários. A vida não é só ganhar
muito dinheiro", diz.
(LC)
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