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PARADEIRO MISTERIOSO
São Pedro muda rotina com suposta presença de jovem acusada por morte dos pais; promotor vê fantasia
Fora da cadeia, Suzane é atração no interior
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PEDRO (SP)
Nas ruas, nos bares, nas casas,
não há tema tão constante nas
conversas dos 33 mil moradores
de São Pedro, a 198 km de SP,
quanto a presença no município
de Suzane von Richthofen, 22,
que aguarda, em liberdade, seu
julgamento pela morte dos pais.
Nos últimos três meses, os relatos de habitantes que dizem já ter
visto, reconhecido e até conversado com a jovem são diversos
-embora a defesa dela não confirme e a acusação duvide e cite a
hipótese inclusive de poder haver
algum tipo de fantasia coletiva.
As atividades relatadas à Folha
por mais de uma dezena de moradores que afirmam ter tido algum
contato com ela do final do ano
passado ao começo deste incluem
caminhadas pela rua, compras
num supermercado, numa loja de
móveis e numa de produtos de R$
1,99. Às vezes, estaria de óculos escuros. Alguns falam até em festas.
Balconistas e vendedores se orgulham em dizer que já atenderam Suzane -mesmo que não
gostem dela. Vizinhos exaltam ter
observado a jovem de passagem.
Mesmo seu "sumiço" nas últimas
semanas, depois que uma equipe
de televisão esteve no local, não
apagou essa sensação de furor.
"Ela esteve na loja de móveis
onde eu trabalho e até entregou os
cupons de uma promoção que
sorteava um carro. Mas eu não
quero ela por perto não", afirma
Silvia Rodrigues, 29, citando um
dia da semana antes do Natal.
"Até que ela foi simpática, tem
cara de boazinha", conta Luciane
Cabral Dutra, 17, caixa da loja
"Quase Tudo R$ 1,99" e que diz
ter atendido Suzane duas vezes de
um mês para cá. Ela afirma que,
acompanhada de uma mulher
bem mais velha, a jovem comprou doces e pagou em dinheiro.
O dono do estabelecimento diz
que a presença dela atraiu curiosos depois que um cliente saiu de
lá contando a notícia na praça
central. Segundo ele, dezenas foram aos corredores da loja, que ficou lotada, mas não a abordaram.
O bairro onde ela teria ficado,
Novo Horizonte, com mais de
cem casas de alto padrão, virou
atração. É comum deparar com
habitantes da cidade e até de fora
-como da vizinha Águas de São
Pedro- circulando de carro nas
imediações só para ver se conseguem espiar a suposta Suzane.
O casal Sílvia e Júnior conta que
já se acostumou a ser abordado
por turistas querendo saber onde
a jovem está. A moradora Ana, 34,
diz que seu marido, com medo,
pediu que ela não deixasse mais a
filha de 12 anos brincar na rua.
Histórias das mais fantasiosas
se multiplicaram. Não há quem
não tenha ouvido falar em discussões dela com moradores numa
praça, sobre a matrícula de Suzane numa academia ou para nadar
na piscina municipal -algo negado com veemência por aqueles
que poderiam ter testemunhado.
No discurso dos moradores, até
namorado ela já teve lá -em referência a E., jovem conhecido em
São Pedro por seu corpo tatuado,
por só andar de carro equipado e
por freqüentar muitas "baladas".
Entrevistado pela Folha, E.,
aparência de 20 anos, diz não querer ser identificado e mostra irritação diante da boataria sobre esse relacionamento. Mas afirma ter
conhecido, conversado e saído
com Suzane e alguns amigos
"umas quatro ou cinco vezes", do
final de 2005 ao começo de 2006.
Ele dá inclusive detalhes dos supostos encontros. O primeiro deles, numa tarde de domingo, na
praça central, na data do último
jogo do Campeonato Brasileiro.
O jovem E. é amigo de uma mulher de 28 anos condenada por
tráfico de drogas e que ficou presa
no Centro de Ressocialização de
Rio Claro junto com Suzane -e
que também vive em São Pedro.
ET de Varginha
A suposta passagem de Suzane
mudou a rotina do município e
foi noticiada no jornal local. A
"Folha de São Pedro" contestou a
Promotoria ao dizer que a jovem
não tem paradeiro desconhecido.
"Nós moradores de São Pedro
sabemos onde ela pode ser encontrada: pelas ruas e eventos da cidade, mais precisamente no bairro Novo Horizonte, zona norte.
Para nós, ela é figura conhecida,
que não faz intenção de se esconder", escreveu a publicação.
O promotor Roberto Tardelli
diz não acreditar que Suzane tenha ficado em São Pedro. "Ela pode até ter passado algum dia. Mas
me parece mais uma história como a do ET de Varginha", afirma.
O advogado Antônio Cláudio
Mariz de Oliveira, representante
oficial dela, não respondeu aos
pedidos de entrevista. Mas Luzia
Helena Sanches, advogada que se
tornou amiga da jovem, nega ter
conhecimento da presença ou da
passagem dela pelo município.
A jovem foi presa em 2002, após
confessar ter participado do plano para assassinar seus pais, junto
com Cristian e Daniel Cravinhos
-este, seu namorado na época.
Suzane obteve em junho autorização para sair da prisão e aguardar
seu julgamento em liberdade.
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