São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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Blocos de rua de SP resistem apesar de pressão por silêncio

Desfiles dos grupos começam hoje e se estendem até a próxima quinta-feira

Buma não foi autorizado a circular porque, diz a Justiça, causava prejuízo à Santa Casa; moradores também reclamam da bagunça

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Plínio Marcos, fantasiado de Pierrô, levava a multidão, seguido pelas atrizes Etty Frazer, porta-estandarte, e Eva Wilma, que pulava distribuindo sorrisos. Cantavam marchinhas e sambas pelo centro de São Paulo, chamando os engravatados para pular o Carnaval.
Foi assim que começou o desfile da Banda Bandalha, em 10 de fevereiro de 1972. O primeiro bloco carnavalesco que saia na capital paulista há anos, nasceu para mostrar que "cordão de paulista não é só cordão de isolamento" e "bloco de paulista não é só bloco de concreto armado", conta Carlos Costa, o Carlão, 75, fundador do bloco ao lado de Plínio Marcos.
Recado dado: o sucesso foi tão grande que 3.000 pessoas se juntaram à folia, segundo os jornais da época. Ao lado de homens vestidos de mãe-de-santo, trabalhadores tiravam a gravata e seguiam a multidão. "Ninguém sabia sambar, mas estava todo mundo lá", lembra Carlão. Dos prédios, moradores jogavam papéis picados. Mais de cem repórteres registraram.
Em 1975, a Bandalha virou banda Redonda - após brigar com o secretário municipal de Cultura da época, Plínio Marcos desistiu. Coube a Carlão continuar a tradição. O circuito ainda hoje começa na rua da Consolação com a avenida Ipiranga, segue pelo Teatro Municipal e pela praça da República.
No último Carnaval, reuniu 9.000 pessoas quando chegou ao Teatro Municipal, de acordo com os cálculos de Carlão.
Embalados pelo sucesso da banda Redonda, muitos blocos surgiram nesses 38 anos de festa. Neste ano, 11 vão desfilar pela cidade, a partir de hoje, em meio a brigas judiciais, reclamações de vizinhos e pedidos de silêncio.
Seriam 12, mas o Buma (Bloco Unidos da Maria Antônia), criado em 1989, não foi autorizado pela Subprefeitura da Sé a sair. Um parecer judicial disse que causava prejuízo à Santa Casa, que fica próxima ao circuito do bloco. Somou-se um abaixo-assinado de moradores que reclamavam da bagunça e dos participantes bêbados, diz João Carlos Bozzo, 66, o "Midnight", organizador do bloco. Ele entrou com um pedido de liminar para poder sair com o bloco e aguarda a decisão.
"Eles querem morar perto do inferno, mas não querem sentir calor. Deviam morar no Morumbi, em Alphaville", dispara "Midnight" contra os vizinhos.
Carlão afirma ter visto outros casos iguais e credita a culpa à luta de classes. O Buma costuma sair da Santa Cecília, bairro vizinho à rica Higienópolis. "Esse pessoal de classe mais alta não gosta de barulho. A [banda] Gueri-Gueri acontecia nos Jardins. O [bloco] Pholia na Faria no Itaim [Bibi]. A burguesia também implicou e eles tiveram que sair".
Sobreviveram os blocos que têm o apoio da comunidade. "No Bixiga, não temos qualquer problema porque os moradores participam", diz Cândido José de Souza, 60, do bloco do Candinho, de 1981. "Eles sabem que a banda só passa uma vez por ano". E a Redonda, mais uma vez, vai passar ao som de "A Jardineira", de Orlando Silva.


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