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Blocos de rua de SP resistem apesar de pressão por silêncio
Desfiles dos grupos começam hoje e se estendem até a próxima quinta-feira
Buma não foi autorizado a circular porque, diz a Justiça, causava prejuízo à Santa Casa; moradores também reclamam da bagunça
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Plínio Marcos, fantasiado de
Pierrô, levava a multidão, seguido pelas atrizes Etty Frazer,
porta-estandarte, e Eva Wilma,
que pulava distribuindo sorrisos. Cantavam marchinhas e
sambas pelo centro de São Paulo, chamando os engravatados
para pular o Carnaval.
Foi assim que começou o
desfile da Banda Bandalha, em
10 de fevereiro de 1972. O primeiro bloco carnavalesco que
saia na capital paulista há anos,
nasceu para mostrar que "cordão de paulista não é só cordão
de isolamento" e "bloco de paulista não é só bloco de concreto
armado", conta Carlos Costa, o
Carlão, 75, fundador do bloco
ao lado de Plínio Marcos.
Recado dado: o sucesso foi
tão grande que 3.000 pessoas
se juntaram à folia, segundo os
jornais da época. Ao lado de homens vestidos de mãe-de-santo, trabalhadores tiravam a gravata e seguiam a multidão.
"Ninguém sabia sambar, mas
estava todo mundo lá", lembra
Carlão. Dos prédios, moradores
jogavam papéis picados. Mais
de cem repórteres registraram.
Em 1975, a Bandalha virou
banda Redonda - após brigar
com o secretário municipal de
Cultura da época, Plínio Marcos desistiu. Coube a Carlão
continuar a tradição. O circuito
ainda hoje começa na rua da
Consolação com a avenida Ipiranga, segue pelo Teatro Municipal e pela praça da República.
No último Carnaval, reuniu
9.000 pessoas quando chegou
ao Teatro Municipal, de acordo
com os cálculos de Carlão.
Embalados pelo sucesso da
banda Redonda, muitos blocos
surgiram nesses 38 anos de festa. Neste ano, 11 vão desfilar pela cidade, a partir de hoje, em
meio a brigas judiciais, reclamações de vizinhos e pedidos
de silêncio.
Seriam 12, mas o Buma (Bloco Unidos da Maria Antônia),
criado em 1989, não foi autorizado pela Subprefeitura da Sé a
sair. Um parecer judicial disse
que causava prejuízo à Santa
Casa, que fica próxima ao circuito do bloco. Somou-se um
abaixo-assinado de moradores
que reclamavam da bagunça e
dos participantes bêbados, diz
João Carlos Bozzo, 66, o "Midnight", organizador do bloco.
Ele entrou com um pedido de
liminar para poder sair com o
bloco e aguarda a decisão.
"Eles querem morar perto do
inferno, mas não querem sentir
calor. Deviam morar no Morumbi, em Alphaville", dispara
"Midnight" contra os vizinhos.
Carlão afirma ter visto outros casos iguais e credita a culpa à luta de classes. O Buma
costuma sair da Santa Cecília,
bairro vizinho à rica Higienópolis. "Esse pessoal de classe
mais alta não gosta de barulho.
A [banda] Gueri-Gueri acontecia nos Jardins. O [bloco] Pholia na Faria no Itaim [Bibi]. A
burguesia também implicou e
eles tiveram que sair".
Sobreviveram os blocos que
têm o apoio da comunidade.
"No Bixiga, não temos qualquer
problema porque os moradores
participam", diz Cândido José
de Souza, 60, do bloco do Candinho, de 1981. "Eles sabem que
a banda só passa uma vez por
ano". E a Redonda, mais uma
vez, vai passar ao som de "A
Jardineira", de Orlando Silva.
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