São Paulo, sábado, 05 de fevereiro de 2011

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Apagões aumentam 90% em dois anos

Sete Estados do Nordeste ficaram sem energia ontem; número de ocorrências subiu de 48 em 2008 para 91 em 2010

Para especialistas, o problema deve se repetir porque falha em um ponto pode afetar toda uma região do país

DE SALVADOR
DE SÃO PAULO
DE BRASÍLIA


Um blecaute de grandes proporções atingiu ontem sete Estados do Nordeste e causou problemas de abastecimento de água, atendimento em unidades de saúde, trânsito e tráfego aéreo.
O apagão, que durou até quatro horas, atingiu Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia é mais um que aumenta a estatística de cortes de energia no país.
O número de apagões graves no Brasil -como o de ontem- cresceu ao menos 90% de 2008 a 2010, segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
O maior número de apagões é resultado, segundo especialistas, das condições climáticas adversas e da falta de investimentos.
Segundo boletins do ONS, foram registrados no ano passado 91 desligamentos superiores a 100 MW (o equivalente ao consumo médio de uma cidade com 400 mil habitantes). Em 2009 foram 77 desligamentos acima de 100 MW e em 2008 foram 48.
O número de blecautes caiu entre 2005 e 2008, mas voltou a subir em 2009. Naquele ano, o apagão mais abrangente na história do país deixou sem o fornecimento de energia 70 milhões de pessoas em 18 Estados.

INTERLIGAÇÃO
Especialistas dizem que apagões continuarão se repetindo por conta da principal característica do sistema elétrico brasileiro: a interligação -em que grandes linhas de transmissão levam energia para todo o país.
Para o engenheiro Afonso Henriques Moreira Santos, que foi presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) durante o governo Fernando Henrique Cardoso, esse modelo é ultrapassado e vulnerável, já que um problema em um ponto pode afetar toda uma região ou até mesmo todo o país.
Assim como Santos, o presidente do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, defende a construção de mais usinas termelétricas próximas aos centros de consumo para guarnecer as cidades em caso de problemas. Ele cobra também a modernização das linhas e equipamentos relacionados à transmissão.
Segundo Santos, países como os EUA investem na interligação do sistema para complementar o abastecimento, enviando energia de ponto distante a outro só quando há risco de faltar energia neste local. Aqui, a interligação é a base do sistema e a troca de eletricidade entre as regiões é a norma.
O presidente da Abrage (Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia Elétrica), Flávio Neiva, afirma que os sistemas de transmissão brasileiros já são redundantes, ou seja, há equipamentos extras para caso de falhas dos principais.
Ele explica que a transmissão poderia ser reforçada com novas linhas, por exemplo, mas que sairia muito caro para o consumidor, que é quem paga os custos da transmissão, geração e distribuição.
(MATHEUS MAGENTA, FILIPE MOTTA E LORENNA RODRIGUES)


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