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OPINIÃO
Democracia e gratuidade
JOSÉ RUBENS REBELATTO
e SILVIO PAULO BOTOMÉ
As universidades brasileiras
usualmente são confrontadas
apartir de qualquer um de seus aspectos: "público x privado", "democráticas x centralizadas" etc.
Mas enfatizar as diferenças caricaturando-as em dicotomias absolutas só leva a uma falsificação dos
problemas de fundo e a uma diminuição da atenção do que é mais
importante: o papel das instituições e os procedimentos mais
apropriados para realizá-lo de maneira ampla na sociedade.
Uma universidade não é apenas
uma escola responsável pela formação de pessoas. Ela produz o conhecimento e a tecnologia que alimentam essa formação. Precisa ser
constituída por pessoas com aptidão, tempo e recursos para, além
de ensinar, produzir o conhecimento que vai garantir a qualidade
desse ensino. Sem conhecimento,
sem acesso amplo a ele e sem sua
transformação em ações pela população, nem é possível haver uma
"sociedade". Dessa forma, o acesso
ao conhecimento e à educação é
direito social, não mercadoria.
Simplificar o conceito da universidade em "paga ou gratuita" é
desprezar os maiores valores que
ela possui. A discussão correta é
quanto investir, de que maneira,
com quais critérios. O ensino é
sempre pago, por meio de mensalidades (diretamente) ou impostos
(indiretamente). Quem não paga o
ensino em um país cujos níveis de
impostos são tão altos?
Uma pessoa pagar ao Estado, por
impostos, ou a um particular, por
mensalidades, não evidencia o
grau de democratização do ensino.
A democracia exige muito mais do
que considerar só a forma de pagamento. Se os alunos do ensino público, por exemplo, receberem benefícios sem perceber o quanto
eles custam para a sociedade, há o
risco de uma "deformação" educacional: o diploma não representa
um compromisso de devolver à sociedade esse investimento.
Assim, dizer que "o valor arrecadado com as mensalidades dos
alunos pode representar a verdadeira democratização do ensino
superior brasileiro" (Opinião, pág.
1-3, 6/1) não é argumento para demonstrar que uma universidade
gratuita é antidemocrática. O que a
democracia exige é o respeito profundo aos direitos sociais que os
impostos devem garantir. Tão profundo que faça com que todos se
preocupem com os procedimentos
para usar os recursos arrecadados.
Brigar com o vizinho e chamá-lo
de antidemocrático por ser gratuito (ou outro motivo) é dispensável.
Importa mais investir em esforços
por um ensino universitário socialmente significativo e acessível a
todos. Como fazer isso é uma descoberta que não se esgota nos modelos atuais, embora alguns queiram impor fórmulas aos demais.
José Rubens Rebelatto, 43, doutor em educação pela Unicamp, é reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Silvio Paulo Botomé, 52, doutor em ciências
pela USP, é professor titular da UFSCar.
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