São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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MODERNIZAÇÃO

Na luta por notoriedade, vale até casamento "afro-tecno" nas ruas de Salvador

Blocos afro e afoxés disputam holofote com bandas de axé

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Com parte do corpo pintada com desenhos tribais, dançarina da Timbalada chama a atenção dos foliões durante o desfile do grupo


DANIELA FALCÃO
enviada especial a Salvador

Modernizar-se para sobreviver. Sem espaço na mídia e, consequentemente, sem patrocinadores, os blocos afros e afoxés de Salvador resolveram aproveitar a dupla comemoração do Carnaval de 2000 (500 anos do descobrimento, 50 anos de criação do trio) para disputar holofotes com bandas de axé music e pagode.
O primeiro passo foi dado há cinco meses, quando os organizadores dos afros começaram a negociar com a Prefeitura de Salvador mudança no horário e no local de desfile. A maioria saía às ruas nos bairros em que foram criados, na periferia de Salvador, longe das câmeras.
"Há interessados em investir nos blocos afros, mas eles querem que a gente saia no horário nobre. Se não aparecer na TV, fica difícil fazer negócio", diz Paulo Bonfim, diretor do Ilê Aiyê. Com respaldo até dos blocos de trio, os afros ganharam espaço em horário nobre e estão dividindo as ruas da Barra e do Campo Grande com as estrelas da axé music.
O afoxé Filhos de Gandhy foi um dos pioneiros na luta por espaço na mídia. No ano passado, com o apoio do padrinho Gilberto Gil, deixou o Pelourinho na segunda-feira de Carnaval, para tomar de assalto as ruas da Barra.
Neste ano, repete o feito, saindo amanhã à tarde na Barra, com a presença de Gil. Os blocos de índio, que usam percussão e sopro em vez de teclados e guitarra, seguiram o exemplo.
O Apaches do Tororó sai hoje ao meio-dia no Campo Grande, abrindo o desfile dos maiores blocos de axé, como o InterAsa (do Asa de Águia), Eva e Camaleões (Chiclete com Banana). Na terça, abre a programação na Barra.
Olodum e Ilê Aiyê foram ainda mais radicais. Na busca pelo espaço perdido para a axé music e pagode, aceitaram convite de um fabricante de energéticos para dividir a carroceria do trio com o DJ paulista Paulo Buga. Para quem conhece o Ilê -grupos apegado às raízes e que, até hoje, não permite a entrada de brancos no bloco-, a parceria assustou.
Mas para Paulo Bonfim, o "casamento" afro-tecno é natural. "Não vamos mudar nossas características. Encaramos isso com seriedade, não é oportunismo."


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