São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2001

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SISTEMA PRISIONAL
Assassinato foi assumido por dois detentos; 5 funcionários e 16 familiares foram tomados como reféns
Rebelião em Guarulhos acaba com 1 morto

Juca Varella/Folha Imagem
Ambulância deixa o prédio da Penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos, às 20h35 de ontem, após fim da rebelião de três horas


ALENCAR IZIDORO
GABRIELA ATHIAS

DA REPORTAGEM LOCAL
Um preso foi assassinado ontem na Penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos (Grande São Paulo), durante uma rebelião de três horas. Seis detentos fizeram cinco funcionários e 16 familiares como reféns. O motim foi assumido pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo a direção do presídio, dois presos se entregaram pela morte de José Coelho de Souza. Eles também tentaram enforcar Ednaldo Andrade Pereira, que só conseguiu escapar com vida porque se fingiu de morto.
A Secretaria da Administração Penitenciária informou que eles foram atacados, em uma cela onde não havia rebelados, porque queriam aderir ao movimento iniciado pelos outros.
A rebelião começou por volta das 17h, quando cinco carcereiros da unidade 2 (que abriga aproximadamente 1.300 presos) foram rendidos. Os detentos estavam armados de estiletes.
A maioria das 605 pessoas que participaram da visita de ontem já havia ido embora. Segundo a secretaria, 16 parentes permaneceram como reféns por vontade própria. Eles só saíram às 20h, após negociação com Antoninho Reis, diretor da Penitenciária Adriano Marrey. A Polícia Militar não teve que entrar no local.
O presídio de Guarulhos foi um dos 29 que aderiram aos motins simultâneos organizados pelo PCC no Estado, no último dia 18.
De acordo com líderes do PCC, a rebelião de ontem foi motivada pela ameaça de transferir presos da facção da unidade 2 de Guarulhos para a unidade 1, dominada por grupos rivais. "Tivemos de fazer isso para evitar a morte dos irmãos", disse G., líder do PCC na Penitenciária do Estado.
Um funcionário da unidade rebelada, que não quis se identificar, confirmou a intenção de transferir cinco presos ligados ao PCC para a unidade 1.
Questionado sobre isso, Antoninho Reis se recusou a dar detalhes. "Estamos verificando."
Segundo G., a situação desses cinco presos começou a ficar "crítica" quando eles foram transferidos da Penitenciária de Iaras (a 385 km de São Paulo) para Guarulhos, há cerca de dez dias.
Eles teriam sido espancados por funcionários na saída de Iaras e na chegada a Guarulhos.
O diretor da Penitenciária Adriano Marrey apresentou outra versão. Ele disse que os seis que organizaram o motim queriam ser transferidos para outro local.
"Eles participaram da rebelião dos dias 18 e 19 e temiam sofrer represálias", disse Reis.
Segundo ele, a maioria dos detentos de Guarulhos não concorda com esses motins. Reis não soube dizer, porém, por que os presos da unidade aderiram à mobilização simultânea. "É uma boa pergunta, que eu também faço. Talvez seja porque poucos dominam muitos."

Reunião
Hoje os presos da Penitenciária do Estado reúnem-se para fazer uma avaliação sobre o primeiro dia de visita após a rebelião. Segundo líderes do PCC, os presos, mesmo os que não são ligados à facção, ficaram insatisfeitos com o tratamento dado às visitas.
Assim como ocorreu na Casa de Detenção anteontem, a fila de familiares na Penitenciária do Estado teria começado a se formar ontem por volta das 4h, mas muitos visitantes só teriam conseguido entrar por volta das 14h.
Na Detenção, os funcionários disseram que as filas são sempre longas em razão da grande quantidade de visitantes.























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