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CIDADE EM MOVIMENTO
Atraídos pela concentração de serviços, clínicas e centros médicos tomam o lugar dos casarões e cortiços
Hospitais modificam o perfil da Bela Vista
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ruas escuras e vazias, cortiços e
casarões não são mais o símbolo
da Bela Vista, no centro de São
Paulo, graças aos investimentos
de hospitais e clínicas médicas. O
crescimento consolida o bairro
como pólo de serviços de saúde,
atrai médicos e provoca mudanças no comércio local.
Só nos últimos 15 meses, surgiram três novos hospitais -as novas unidades do Beneficência
Portuguesa e da Pro Matre e um
centro especializado em cirurgias
pouco invasivas, o Cecmi-, além
da ampliação do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz e da reforma total
do Paulistano, que está em curso.
Surgiram ao menos oito prédios
projetados para clínicas nos últimos cinco anos. Casas antigas,
marca do bairro, deram lugar a
serviços ligados à atividade.
Juntos, Oswaldo Cruz, Beneficência e Cecmi aplicaram declarados R$ 103 milhões. O Paulistano,
repaginado por dentro e por fora,
não revela valores. A Pro Matre
não divulgou quanto pretende investir nos 13 andares do prédio da
rua Cincinato Braga, nos fundos
do Hospital Santa Catarina.
Com as novidades, a construção
civil saiu em busca do público disposto a pagar até R$ 200 mil por
um apartamento de 50 m2 para
morar perto do trabalho.
Essa conjunção de investimentos mudou a aparência do bairro.
Sumiram os pequenos hotéis e
pensões com ar de "boca do lixo",
os cortiços e ruas vazias. O comércio se sofisticou, a vida ficou mais
cara. Todos os projetos dos hospitais têm concepção futurista, com
vidro e aço na parte externa. "Como o bairro não tem a "grife saúde", para atrair público investiram
em uma arquitetura diferenciada", diz a urbanista Regina Monteiro, diretora da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo).
Na rua Mastro Cardim, resta
pouco dos casarões que viraram
cortiços com as janelas cheias de
roupas ao sol. Os terrenos deram
lugar a flats e clínicas. Espremidas
e solitárias, duas casas antigas
contrastam com as fachadas envidraçadas da parte nova do Beneficência. O único morador só espera o imóvel ser vendido para sair.
"A valorização cruzou a [avenida] Paulista, o lado dos Jardins se
esgotou, os médicos estão à procura de casas", diz o corretor Hélcio Quirino. Os aluguéis subiram:
uma casa de 100 m 2, alugada por
R$ 1.500 até dois anos atrás, sai
atualmente por R$ 2.500.
Há uma relação direta entre o
crescimento dos hospitais e a reconfiguração do bairro. Desde
2001, o Oswaldo Cruz, por exemplo, dobrou o número de leitos
-são 220- e acaba de concluir
uma expansão de 21 mil m2.
Maior complexo hospitalar privado da América Latina, o Beneficência já começou a operar o prédio de 13 pavimentos para clientes
de alta renda. Serão 60 leitos e sete
salas de cirurgia. Será uma espécie
de hospital-hotel, com acomodações também para familiares.
Para receber pacientes em tratamento e seus parentes, o flat Arai
Residence, a 50 m do Oswaldo
Cruz, cobra R$ 1.782 por mês.
A Pro Matre conclui ainda neste
ano um complexo médico de 13
andares na esquina das ruas Cincinato Braga e 13 de Maio, ao lado
da Clínica do Esporte e nos fundos do Hospital Santa Catarina, a
menos de 200 metros da unidade
Paraíso dos Laboratórios Fleury.
O Paulistano já foi reformado
em 2005, mas o projeto prevê mudanças no entorno. A decoração
interna do prédio de 25 anos, antes uma "caixa de fósforo" e hoje
remodelado com cor de aço polido, foi feita por um cenógrafo.
Mas o que atrai tantos médicos
e hospitais? A razão é prática e revela uma tendência de conexão
cada vez maior entre médicos e
hospitais. E ainda uma característica bem paulistana: o trânsito.
Para Arnaldo Cividanes, diretor
médico do hospital Cecmi, não há
como fugir do nicho. "Os médicos
rodam entre clínicas e hospitais
próximos. Em São Paulo, não dá
para operar no Santa Cecília, correr para o Itaim e voltar para uma
urgência no Bela Vista."
Para Regina Monteiro, mesmo
com o contraste entre o bairro novo e o antigo, a reformulação é
pouco agressiva. "Os projetistas
fizeram uma coisa boa. Esses prédios novos para clínicas eliminaram muros, colocaram fontes,
criaram garagens gratuitas."
Ainda assim, os estacionamentos se multiplicaram. A rua Maestro Cardim tem ao menos nove. A
mensalidade chega a R$ 150, e a
hora inicial, em média, é de R$ 4.
À exceção do entorno do Beneficência, não há congestionamentos. E, à noite, o bairro se apaga, fica silencioso e tem vias tranqüilas.
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