|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LEI SECA
Presidente evita ser fotografado fumando, mas bebe em público
Especialista critica atitude de Lula
DA REPORTAGEM LOCAL
Se por um lado o governo é
elogiado por debater uma regulamentação das bebidas alcoólicas pela primeira vez na América Latina, uma possível associação da imagem do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao álcool preocupa especialistas.
"Existe um processo educativo
que acho que deveria ocorrer
com Lula", disse à Folha, de
Washington, Maristela Monteiro, responsável pelos programas de combate ao álcool da
Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).
Enquanto esconde a cigarrilha
-ele já foi flagrado fumando
escondido, alegando não querer
dar mau exemplo-, Lula não
se furta a brindar em público,
como fez em outubro passado
em Blumenau, na Oktoberfest
(segunda maior festa de cerveja
do mundo). "Morra de inveja",
brincou com um fotógrafo.
Sob Lula, a caipirinha virou
"bebida nacional" por decreto
presidencial. Vinhos foram sorteados nas confraternizações de
fim de ano. E a cerveja é metáfora nos discursos, na resposta às
críticas. "O companheiro trabalha das 7h às 18h (...) e às vezes
pára para tomar uma cervejinha. Quando chega em casa,
não tem nenhum elogio pelas 12
horas (...), mas tem críticas pela
meia hora em que tomou uma
cerveja", disse o presidente em
junho do ano passado.
A reportagem procurou a dirigente da Opas para que falasse
sobre a questão da regulamentação da bebida e pediu um comentário sobre imagens e discursos do presidente.
"As pessoas de projeção política, como ele, e também social,
como artistas, devem ter uma
educação sobre o impacto do
que falam. Acho que é simplesmente desconhecimento da dimensão do problema, da importância que ele tem como
modelo, da postura que precisa
ser benéfica para a saúde pública", afirmou Monteiro.
Procurada na última quinta-feira, a assessoria de Lula solicitou perguntas por e-mail, mas
não as respondeu.
"Vou falar em termos gerais.
Eu acho que todo dirigente, toda figura pública que é associada a uma política pública, deve
tomar todo o cuidado para evitar associações em relação ao
consumo de tabaco e de álcool.
É uma questão de imagem, separar o que você faz na vida particular", afirmou Pedro Gabriel
Delgado, coordenador de Saúde
Mental do Ministério da Saúde.
"Eu acho que não há razão para esconder [tanto o consumo
do álcool quanto do cigarro]",
diz, de Seattle, a socióloga Beatriz Carlini Marlatt, pesquisadora associada do Departamento
de Psiquiatria da Universidade
de Washington. "Ele poderia
usar o exemplo para ensinar
que beber tem o seu momento e
lugar", afirmou.
"Não me surpreende [a postura do presidente]", diz Ilana
Pinsky, psicóloga da Universidade Federal de São Paulo especialista em propaganda de álcool, sobre o conflito cigarrilha-caneca de chope representado
por Lula. "A indústria do tabaco
é tida como inimiga, a do álcool
não. O álcool está inserido na
cultura, é tolerado."
(FL)
Texto Anterior: Saúde: Governo não conclui projeto sobre álcool Próximo Texto: Política tem oposição de indústria e governo Índice
|