São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2007

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Lula anuncia fim da crise sem indicar solução

Presidente disse estar confiante de que a situação nos aeroportos será de "paz, não apenas na Semana Santa, mas daqui para a frente'

Ele pediu aos controladores, que continuam insatisfeitos após a suspensão das negociações, que "não prejudiquem mais o povo"

PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo sem uma solução concreta para a crise aérea e com a eficácia do controle da FAB sobre a situação ainda a ser provada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem estar "confiante de que os aeroportos brasileiros vão encontrar paz e normalidade, não apenas na Semana Santa, mas daqui para a frente".
O petista voltou a acusar os controladores de vôo de "falta de sensibilidade" e foi dúbio em relação à provável punição dos que se amotinaram na sexta-feira passada.
Se por um lado disse que "o governo não vai punir ninguém, longe de mim punir alguém", por outro o presidente afirmou que "as pessoas precisam aprender que, no regime democrático, o respeito às instituições e à hierarquia é fundamental". Os amotinados já são alvo de inquéritos militares.
Na sexta-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, costurou um acordo com os controladores amotinados, em nome de Lula, em que prometia que não haveria punições. Na segunda-feira, após a crise militar gerada pela quebra de hierarquia estar instalada, o governo recuou e entregou o caso à Aeronáutica. Também suspendeu as negociações com a categoria -provocando nova tensão entre os controladores.
Agora, a principal preocupação do presidente é "reconstruir um clima de respeito à hierarquia, de disciplina, de que cada um saiba sua função e tenha de cumprir e, sobretudo, um clima de respeito ao povo brasileiro", como disse ontem na entrevista, no Itamaraty.
A promessa de paz daqui para a frente nos aeroportos veio junto com um apelo do presidente aos controladores. "A única coisa que eu peço aos controladores é que, se quiserem fazer algum protesto contra alguma pessoa, que façam, mas não prejudiquem o povo brasileiro. Porque as pessoas querem viajar, trabalhar, ter um mínimo de tranqüilidade."
O presidente, mais uma vez, mostrou-se contrariado com os controladores de vôo.
Disse ser o mais aberto da história para o diálogo, e "não existe nenhum movimento, por mais justo que seja, que justifique terceiros pagarem a conta". "Não é possível que as pessoas não tenham sensibilidade de ver milhares e milhares de pessoas ficando noites inteiras nos aeroportos porque as pessoas querem discutir um problema específico de uma categoria", afirmou.
Ele deu a entrevista depois de almoço em Brasília com o presidente do Equador, Rafael Corrêa, quando de bom humor, brincou com os problemas.
Ao falar sobre a crise no setor aéreo, negou que esteja para mudar seu ministro da Defesa, Waldir Pires, embora a mudança já esteja definida e foi até comentada em encontro com políticos anteontem.
"Não tem troca de ministros. A reforma ministerial acabou. Se quedem "tranquilis'", disse o presidente, sorrindo, ao brincar com a língua espanhola -o correto é "tranquilos".

Medo de avião
Na entrevista após o almoço, o presidente voltou a dizer que tem medo de voar de avião e que a crise aérea deixa gente que, como ele, tem esse temor, "à beira do infarto". Um passageiro morreu no final de semana em Curitiba, após esperar mais de 12 horas por um vôo.
"Já é desconfortável viajar de avião. Eu, como muita gente, tenho medo de andar de avião. Ando porque sou obrigado. Se você já tem o medo, e chega ao aeroporto e essa tensão é elevada à quinta potência, porque você tem os atrasos dos vôos, não tem as informações corretas, a pessoa fica à beira do infarto", disse.
O presidente afirmou que a situação agora está sob gestão da Aeronáutica, mas que "os controladores [de vôo] precisam ser respeitados como profissionais".
"A questão é que a Aeronáutica assumiu, como deveria desde o começo, a responsabilidade de manter a aviação aérea civil funcionando normalmente. O comandante [Juniti] Saito sabe os problemas que existem, mais do que ninguém ele sabe encontrar a solução desses problemas. Agora, vamos esperar."


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