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Promotor vê contradição entre pai e madrasta
Depoimentos sobre a morte de Isabella, 5, têm divergência na seqüência dos fatos, diz Francisco Taddei Cembranelli
Para a Promotoria, também há diferenças em relação às informações dadas por testemunhas; o casal, que está preso, nega o crime
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O promotor Francisco José
Taddei Cembranelli, que acompanha as investigações sobre a
morte de Isabella Oliveira Nardoni, 5, disse ontem que há
contradições nos depoimentos
dados à Polícia Civil pelo pai e
pela madrasta da menina.
As diferenças, segundo o promotor, são em relação à seqüência dos fatos. Ele, no entanto, não explicou quais são os
pontos estranhos, alegando
que isso feriria o segredo no inquérito decretado pelo juiz
Maurício Fossen.
Na última quinta-feira, a pedido da polícia e da Promotoria,
a Justiça decretou sigilo sobre a
investigação e a prisão temporária por 30 dias do pai de Isabella, o estagiário de direito
Alexandre Nardoni, 29, e da
madrasta da menina, a estudante Anna Carolina Jatobá,
24, considerados os principais
suspeitos pela morte da criança. Os dois alegam inocência.
Cembranelli também citou
pelo menos quatro pontos que
entende serem divergentes em
relação às declarações dadas
por testemunhas.
Isabella morreu no último
sábado. A criança foi encontrada caída, com parada cardiorrespiratória, no jardim do prédio do seu pai, na zona norte de
São Paulo. A menina, que morava com a mãe, Ana Carolina
Cunha de Oliveira, tinha passado o dia com o pai, a madrasta e
os dois irmãos por parte de pai.
A Polícia Civil, que trata o caso como um assassinato, investiga se a menina foi asfixiada e
se também teria sido jogada pela janela, do sexto andar.
A prisão de Nardoni e de Anna Carolina, segundo a polícia,
foi pedida devido a pontos que
precisam ser esclarecidos.
"Contradições existem. Alguns aspectos são obscuros",
disse Cembranelli, em coletiva
na sede do Ministério Público.
De acordo com o promotor,
os relatos feitos pelo pai e pela
madrasta de Isabella têm vários pontos que não batem com
as informações fornecidas por
testemunhas. "Nós não temos
aí versões que se completam.
São versões opostas que se chocam", disse o promotor.
Uma das supostas inconsistências apontadas por Cembranelli é o fato de o casal ter omitido a existência de sangue no
apartamento. No mesmo dia, a
perícia feita pela polícia encontrou manchas no corredor, no
quarto dos irmãos de Isabella e
na tela de proteção da janela,
por onde ela teria sido atirada.
"Nem mesmo quando eles
[Nardoni e Anna Carolina] retornaram [ao apartamento] revelaram que havia sangue na
entrada, perto da porta de ingresso. [O sangue] era visível a
ponto de o delegado, quando
fez o levantamento do local, ter
notado, chamado a perícia e o
sangue foi colhido ali na hora."
Outro ponto divergente nos
depoimentos, na opinião do
promotor, refere-se ao fato de
momentos depois da morte da
menina, com ela ainda no chão,
testemunhas afirmarem ter
ouvido o pai dizer que um ladrão arrombou o apartamento.
De acordo com Cembranelli,
peritos do IC (Instituto de Criminalística) não constataram
sinais de arrombamento.
Ainda segundo a Promotoria,
as informações de que havia
um "ladrão" e que ocorreu um
"arrombamento" não constam
na declaração que Nardoni deu
no dia seguinte à tragédia no 9º
Distrito Policial (Carandiru).
"No depoimento dele não
existe fugitivo algum nem arrombamento", disse Cembranelli, que afirma ainda que em
nenhum momento consta no
inquérito que alguma testemunha tenha ouvido Nardoni falar
que viu esse "ladrão".
Essa informação foi dada na
última quarta à Folha pelo sargento da Polícia Militar Luiz
Carvalho. O PM disse que ouviu o pai de Isabella dizer que
viu uma pessoa jogar sua filha
pela janela. Ele conta que relatou isso em seu depoimento.
Outra versão apontada pelo
Ministério Público como contraditória refere-se ao momento em que o casal afirma ter subido ao apartamento.
"Tem versões do casal que
não foram confirmadas e outras que foram desmentidas
por testemunhas. É por isso
que acho a versão deles fantasiosa", disse o promotor, sem
dar detalhes.
O promotor, no entanto, revelou que duas pessoas relataram à polícia ter ouvido um barulho como o de uma porta corta-fogo batendo no momento
em que a menina teria caído.
Nardoni e a mão biológica de
Isabella tinham tido atritos
mais fortes nos últimos meses
em decorrência do pagamento
de R$ 250 de pensão. A mãe
exigia R$ 1.800 para colocá-la
na natação e no inglês.
Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, da Reportagem Local
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