São Paulo, domingo, 5 de abril de 1998

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AVENTURA
Menos de dois meses após morte de companheiro, Waldemar Niclevicz começar preparativos para atingir o K2, no Himalaia
Brasileiro quer escalar pico mais difícil do mundo

FLÁVIO ARANTES
da Agência Folha, em Curitiba

O alpinista paranaense Waldemar Niclevicz, 32, está no Nepal iniciando uma de suas mais difíceis aventuras: a escalada do K2, a segunda montanha mais alta do mundo, com 8.611 m, localizada no oeste da cordilheira do Himalaia, no Paquistão.
Se tudo der certo, Niclevicz deve chegar ao pico do K2 na segunda quinzena de julho do ano que vem para permanecer, no máximo, duas horas no topo da montanha.
Caso as condições ambientais não sejam favoráveis, a permanência será de apenas 15 minutos, tempo estritamente necessário para fincar lá a bandeira do Brasil e fazer algumas fotos.
Waldemar Niclevicz foi o primeiro brasileiro a conquistar o Everest, a montanha mais alta do mundo. Chegou lá junto com Mozart Catão, alpinista brasileiro que morreu no início de fevereiro tentando escalar a parede sul do Aconcágua, na Argentina.
Niclevicz afirma nunca ter pensado na morte. "Eu preciso da montanha para sentir que estou vivo. Ela faz parte da minha vida."
Até conquistar os poucos minutos de fama, o alpinista terá percorrido um ano e quatro meses de preparação. A aventura de Niclevicz começou no dia 20 de março.
Tamanha antecedência se explica. O K2 tem 238 metros a menos do que o Everest, mas é considerado a montanha mais difícil do planeta para se escalar. "Ela é muito inclinada, com alternância constante de rocha e neve."
O Everest já foi escalado por 740 alpinistas de todo o mundo. Segundo Niclevicz, para cada sete êxitos, houve uma morte.
Se conquistar o K2, Niclevicz vai se juntar a um seleto grupo de 122 alpinistas que até hoje chegaram ao topo da montanha. No K2, a relação entre êxito e fracasso cai para pouco mais de dois por um. Até hoje, 53 alpinistas morreram tentando conquistar a montanha.
"Somente os grandes alpinistas do mundo chegaram lá. Eu estou tentando ficar entre eles", diz o alpinista, que quer ser o primeiro brasileiro a conquistar o K2.

Treino
O brasileiro vai tentar escalar a montanha na companhia do alpinista italiano Abele Blanc. Antes de se aventurarem pelo K2, os dois vão "treinar" em três outras montanhas, todas elas com mais de 8.000 metros de altura no Himalaia. No mundo, apenas 14 montanhas superam essa altitude.
Os alpinistas vão aprimorar com isso o condicionamento físico, a técnica e a aclimatação do corpo a essas altitudes. Lá, o ar é rarefeito, e a concentração de oxigênio é de apenas 30% da concentração encontrada ao nível do mar.
Com tão pouco oxigênio, uma pessoa colocada no topo de uma dessas montanhas sem a aclimatação morreria em poucas horas.
Outro problema enfrentado é o desgaste físico. O consumo diário de energia dos alpinistas chega a ser de 5.000 calorias, quando o normal é de 2.000 a 2.500 calorias.
Por isso, os alpinistas têm uma equipe de apoio com dois cozinheiros e um médico. Também são necessários cem homens apenas para levar os 2.500 quilos de equipamentos ao pé da montanha.
Vencida a fase de preparação, a aventura para chegar ao topo do K2 começa em maio de 1999 e deve se estender até o início de agosto.



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