São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

ANATOMIA

Corpos podem ser estudados

"Pessoas devem doar seus cadáveres em vida"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico anatomista Liberato Di Dio, 81, é o mais novo membro honorário da American Association of Anatomists, a mais importante entidade de anatomia. O título será concedido neste mês.
Di Dio, que lecionou na USP e hoje coordena o Departamento de Anatomia da Universidade de Santo Amaro (Unisa), foi professor, diretor e pró-reitor em cinco diferentes universidades americanas. Entre 1940 e 2000, publicou 370 trabalhos sobre anatomia e orientou 88 teses de mestrado e doutorado, metade no Brasil e metade nos EUA. Ao longo de 12 anos, entre 79 e 92, foi eleito como o anatomista de maior destaque pelo Simpósio Internacional de Ciências Morfológicas.
Foi secretário-geral da Comissão Federativa Internacional que elaborou a última Terminologia Anatômica, com todos os nomes do corpo humano. Entre seus livros estão "Tratado de Anatomia" e "Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada" (Editora Atheneu). É co-autor de um cd-rom que mostra o aparelho locomotor em movimento, a ser lançado.
Di Dio defende a idéia de que as pessoas, em vida, doem seus cadáveres para serem dissecados e estudados nas escolas médicas.

Folha - Por que doar cadáveres?
Liberato Di Dio -
Nos EUA, muitos dos cadáveres dissecados nas escolas médicas foram doados pelas pessoas, em vida. Os doadores, no geral, são pessoas de classe média, muitas com nível superior, que também autorizam o uso de seus prontuários médicos. Quer dizer, quando um cadáver é aberto, o aluno sabe quais doenças teve, os possíveis acidentes que sofreu e os tratamentos aos quais foi submetido, ampliando as possibilidades de aprendizagem. No Brasil, os alunos das faculdades de medicina estudam com cadáveres de indigentes, não sabemos nada sobre a história médica daquele corpo.

Folha - O senhor iniciou uma campanha assim na Unisa?
Di Dio -
Em uma semana, 46 pessoas escreveram oferecendo para doar seus corpos, a maioria com nível superior. Por questões de legislação, a campanha foi temporariamente interrompida. No Brasil, as escolas de medicina não têm cadáveres suficiente. O ideal é que a cada quatro estudantes haja um cadáver para ser estudado. Isso está longe de acontecer.

Folha - O que leva uma pessoa a doar seu cadáver?
Di Dio -
Reuni um banco com 4.000 doadores de cadáveres na minha faculdade, nos EUA. Um doou porque tinha se curado de um câncer e queria oferecer sua contribuição. Outro porque perdeu um filho. Pretendo reunir essas cartas em um livro.


Texto Anterior: Agenda
Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Atenção, candidatos: uma idéia óbvia para combater a violência
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.