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Para ONGs, indústrias continuarão tendo interesse no país
Mercado brasileiro é muito grande para sofrer retaliações dos Estados Unidos, afirmam representantes de entidades
Em ato de apoio à decisão de Lula, as organizações defenderam a quebra de patente de remédios contra o câncer e a hepatite C
FABIANE LEITE
DA REVISTA DA FOLHA
Entidades e organizações
não-governamentais que se
mobilizaram em apoio à decisão do governo Lula de quebrar
a patente do Efavirenz disseram ontem que a medida não
trará riscos ao país.
Isso, porque, segundo as entidades, a indústria farmacêutica continuará tendo interesse
no mercado brasileiro e vários
outros países também consomem a versão genérica do medicamento produzido na Índia.
"Os Médicos Sem Fronteiras
[ONG francesa] tratam 80%
dos seus 80 mil pacientes com
genéricos indianos e as pessoas
estão muito bem", afirmou Gabriela Chaves, farmacêutica da
Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids).
O ex-coordenador do programa brasileiro de Aids, Pedro
Chequer, que hoje trabalha para a Unaids (braço da ONU para
a Aids) na Argentina, disse que
o Brasil tem condições de fabricar com qualidade o Efavirenz e
outras drogas contra a Aids, como o Kaletra e o Tenofovir.
Chequer destacou ainda que
países desenvolvidos já quebraram patentes em outras áreas,
caso dos EUA e Canadá e que
não acredita em retaliações dos
EUA. "Somos um mercado
muito grande para eles."
As entidades e ONGs criticaram ainda argumento de representantes da indústria de que o
licenciamento compulsório pode afastar novos investimentos
em pesquisas. Para eles, não é
verdade que a indústria tenha
tanto interesse em inventar novos medicamentos. Citaram estudos que mostram que dois
terços das drogas aprovadas
nos EUA entre 1989 e 2000
eram só modificações.
Gabriela Chaves aponta ainda que a indústria farmacêutica
usa boa parte dos milhões de
dólares investidos para criar
uma nova droga em marketing.
Para manifestar apoio ao decreto do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, cerca de 80 pessoas ligadas a ONGs que atuam
em defesa dos portadores de
HIV se reuniram ontem à tarde, na catedral da Sé, centro de
São Paulo. Além de apoiar a decisão, as entidades cobraram
novas quebras de patentes de
outros remédios para Aids,
além de medicamentos para
câncer e hepatite C.
Genéricos
Representantes de genéricos
não quiseram se manifestar sobre a quebra de patente. Odnir
Finotti, presidente da Pró-Genéricos preferiu defender o setor. "O volume [de vendas] hoje
nos dá crédito de que as pessoas
que optam estão sendo tratadas
e beneficiadas." Os fabricantes
de genéricos detêm 15% das
vendas de medicamentos.
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