São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Para ONGs, indústrias continuarão tendo interesse no país

Mercado brasileiro é muito grande para sofrer retaliações dos Estados Unidos, afirmam representantes de entidades

Em ato de apoio à decisão de Lula, as organizações defenderam a quebra de patente de remédios contra o câncer e a hepatite C

FABIANE LEITE
DA REVISTA DA FOLHA

Entidades e organizações não-governamentais que se mobilizaram em apoio à decisão do governo Lula de quebrar a patente do Efavirenz disseram ontem que a medida não trará riscos ao país.
Isso, porque, segundo as entidades, a indústria farmacêutica continuará tendo interesse no mercado brasileiro e vários outros países também consomem a versão genérica do medicamento produzido na Índia.
"Os Médicos Sem Fronteiras [ONG francesa] tratam 80% dos seus 80 mil pacientes com genéricos indianos e as pessoas estão muito bem", afirmou Gabriela Chaves, farmacêutica da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids).
O ex-coordenador do programa brasileiro de Aids, Pedro Chequer, que hoje trabalha para a Unaids (braço da ONU para a Aids) na Argentina, disse que o Brasil tem condições de fabricar com qualidade o Efavirenz e outras drogas contra a Aids, como o Kaletra e o Tenofovir.
Chequer destacou ainda que países desenvolvidos já quebraram patentes em outras áreas, caso dos EUA e Canadá e que não acredita em retaliações dos EUA. "Somos um mercado muito grande para eles."
As entidades e ONGs criticaram ainda argumento de representantes da indústria de que o licenciamento compulsório pode afastar novos investimentos em pesquisas. Para eles, não é verdade que a indústria tenha tanto interesse em inventar novos medicamentos. Citaram estudos que mostram que dois terços das drogas aprovadas nos EUA entre 1989 e 2000 eram só modificações.
Gabriela Chaves aponta ainda que a indústria farmacêutica usa boa parte dos milhões de dólares investidos para criar uma nova droga em marketing.
Para manifestar apoio ao decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 80 pessoas ligadas a ONGs que atuam em defesa dos portadores de HIV se reuniram ontem à tarde, na catedral da Sé, centro de São Paulo. Além de apoiar a decisão, as entidades cobraram novas quebras de patentes de outros remédios para Aids, além de medicamentos para câncer e hepatite C.

Genéricos
Representantes de genéricos não quiseram se manifestar sobre a quebra de patente. Odnir Finotti, presidente da Pró-Genéricos preferiu defender o setor. "O volume [de vendas] hoje nos dá crédito de que as pessoas que optam estão sendo tratadas e beneficiadas." Os fabricantes de genéricos detêm 15% das vendas de medicamentos.


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