São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Grupo pára marginal Tietê e enfrenta PM

Moradores de favela e conjunto Bela Vista (zona norte) protestaram contra suposta violência de policiais militares

Manifestantes usaram paus e pedras e a polícia reagiu com bombas; acesso a SP pela rodovia Ayrton Senna foi bloqueado duas vezes


ROGÉRIO PAGNAN
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Armados com paus, pedras e bombas de fabricação caseira, um grupo de moradores da favela e conjunto habitacional Bela Vista, na zona norte de São Paulo, entrou ontem em confronto com policiais militares por mais de seis horas em protesto contra a suposta violência policial praticada contra membros da comunidade.
Pelo menos seis pessoas ficaram feridas no conflito, três delas policiais. Não houve feridos em estado grave.
O primeiro confronto começou perto das 9h30, quando um grupo de cem pessoas bloqueou a marginal Tietê, no acesso a SP pela rodovia Ayrton Senna (sentido Castello Branco), com pneus e madeiras incendiados.
A interdição total desse trecho durou meia hora e criou um congestionamento de cerca de quatro quilômetros.
Os policiais que tentaram liberar o trânsito foram apedrejados e revidaram com bombas de efeito moral, de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Os manifestantes então recuaram para o conjunto, onde o confronto continuou. Escolas e creches pararam de funcionar.
Por volta das 14h, houve uma trégua quando o comandante da PM da região norte, José Hermínio Rodrigues, prometeu investigar as denúncias.
Por volta das 18h30, os manifestantes voltaram a interditar a marginal. A situação só foi contornada às 20h30, quando os policiais conseguir transpor as quatro barricadas de fogo. A pista só foi liberada, porém, após a limpeza -que terminou 22h20. O congestionamento chegou a cinco quilômetros.
Um capitão da PM foi atingido por uma pedra na cabeça e teve de receber três pontos. Outros dois policiais foram atingidos nas pernas e braços por uma bomba de fabricação caseira atirada pelos manifestantes. O escudo de um dos PMs ficou em pedaços.
O carroceiro Wilson Barbosa, 28, foi ferido na orelha pelos estilhaços de uma bomba de efeito moral atirada pela PM. Os estilhaços feriram a perna de um adolescente. Já uma adolescente diz ter levado um tiro de borracha na perna.
Os moradores disseram que o protesto era contra as agressões e torturas. "A gente não agüenta apanhar mais. A gente quer ser tratado como gente, não como animais", disse o vendedor Gleison Alves, 18.
Uma policial militar, apelidada de Kate Mahoney -em referência à personagem durona e violenta do seriado da década de 80 "Dama de Ouro"-, é apontada como a mais violenta entre os agressores. Os moradores não sabem o nome dela.
Vários moradores, que não quiseram se identificar, disseram que essa policial agride as pessoas com o revólver, com faca ou com as próprias mãos. "Ela cortou a orelha de um adolescente que pediu socorro na minha casa, mas, com medo dela, eu falei para ir sozinho ao hospital", confirmou outra, que se identificou como Cristina.


Colaborou o "Agora"


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