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Assassino de Liana afirma à polícia que fuga foi "fácil"
Recapturado na última quarta-feira, rapaz negou que tenha recebido ajuda de funcionários para escapar do complexo
Em depoimento, jovem chegou a menosprezar a segurança da Febem;
investigação aponta para indícios de negligência
KLEBER TOMAZ
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O assassino do casal de namorados Liana Friedenbach,
16, e Felipe Caffé, 19, afirmou,
em depoimento à polícia, que
foi "fácil" e "tranqüilo" fugir do
complexo da Fundação Casa
-ex-Febem- na Vila Maria
(zona norte de São Paulo) na última quarta-feira. O complexo
era apontado como o mais seguro da fundação.
Segundo a polícia, o jovem
chegou a menosprezar o sistema de segurança da fundação.
"Eu vi a escada e subi", narrou.
O rapaz, hoje com 20 anos,
usou uma escada deixada por
empregados que reformavam o
local para pular o muro de seis
metros da Unidade Tietê juntamente com outro jovem.
A investigação policial aponta até agora indícios de negligência de funcionários. A possibilidade de facilitação de fuga
continua sendo apurada pela
polícia e pela fundação, que
afastou o diretor e 19 agentes. O
assassino de Liana e o outro jovem foram recapturados em
Ferraz de Vasconcelos (Grande
São Paulo), anteontem, 8 horas
e 25 minutos após fugirem.
No depoimento que prestou
à polícia na UAI (Unidade de
Atendimento Inicial) da Fundação Casa, o interno negou
que teve ajuda de funcionários
para escapar. O rapaz comentou que ele e o colega aproveitaram o descuido do único vigia
no local -que cuidava de três
internos - quando este foi ler
uma carta de um outro jovem.
Para a polícia, a versão de que
havia roupas do lado de fora da
unidade à espera dos fugitivos,
como disse a Fundação Casa
-reforçando a tese de fuga premeditada-, perdeu força.
Quinze pessoas já foram ouvidas pela pela 1ª Delegacia
Seccional Centro. Nenhum depoimento sugere ter havido conivência dos funcionários.
Anteontem, o juiz Trazíbulo
José Ferreira da Silva, do Departamento de Execuções da
Infância e Juventude, negou
pedido do governo de transferência do jovem para o Hospital
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Taubaté (130 km
de SP) -um presídio comum.
Segundo Silva, o jovem não
completou 21 anos e ainda está
sob a responsabilidade da Justiça da Infância e da Juventude
e do ECA (Estatuto da Criança
e do Adolescente).
O crime foi cometido quando
ele tinha 16 anos. Ele está interditado judicialmente -sob responsabilidade do Estado por
representar risco à sociedade-
desde o ano passado.
O governo deve recorrer ao
Tribunal de Justiça no começo
da próxima semana para tentar
anular a decisão de Silva. Segundo o secretário de Estado
da Justiça, Luiz Antonio Marrey, o jovem já cumpriu os três
anos de internação previstos
no ECA e não é mais responsabilidade da Fundação Casa.
O jovem foi transferido para
uma unidade de saúde da fundação inaugurada em dezembro, que permanecia desocupada -é o único interno na unidade feita para 40 infratores.
A Folha não identifica o assassino de Liana em cumprimento ao ECA. Segundo o estatuto, notícias sobre ato infracional cometido por adolescente não poderão identificá-lo,
vedando fotografia, referência
a nome ou apelido, inclusive
iniciais (artigo 143). A lei determina que deve ser considerada
a idade do infrator à data do
crime (artigo 104).
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