São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2001

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SAÚDE

Segundo secretaria, funcionários de hospital acharam medicamentos misturados em uma caixa lacrada; laboratório descarta hipótese

Rio suspende remédios após morte de bebês

PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

A Secretaria Municipal da Saúde suspendeu ontem à tarde uso dos medicamentos Succinil Colin e Cortisonal, do laboratório União Química Farmacêutica Nacional, em todos os hospitais da cidade. No início da noite, a Secretaria Estadual da Saúde estendeu a medida aos outros municípios do Rio de Janeiro.
A troca das duas medicações pode ter sido responsável pela morte de quatro bebês no hospital Salgado Filho (zona norte do Rio), em menos de 24 horas desde quinta-feira. As crianças podem ter sido medicadas com o anestésico Succinil Colin, no lugar do Cortisonal, usado para combater problemas respiratórios. A polícia ainda suspeita que a morte de Rodelson dos Santos Flores Júnior, de cinco meses, no dia 25 de maio, pode ter tido a mesma causa.
De acordo com a secretaria, funcionários do hospital observaram, ontem de manhã, em uma caixa aberta, os medicamentos misturados. Eles abriram uma outra caixa lacrada de Succinil Colin, onde teriam encontrado dois frascos de Cortisonal.
No hospital Rocha Maia (Botafogo, zona sul), teriam sido achadas duas caixas de Succinil, informou o secretário da Saúde, Ronaldo Cezar Coelho. Como o hospital não trabalha com o remédio, o secretário presume que as caixas foram trazidas dentro de uma embalagem de Cortisonal.
A Vigilância Sanitária suspeita que a troca dos medicamentos na fábrica pode ter matado as crianças, informou o secretário, que assumiu o cargo ontem e hoje se reúne com o ministro José Serra (Saúde), que virá ao Rio acompanhar a investigação do caso.
A União Química Farmacêutica Nacional considera nula as chances da veracidade da hipótese levantada pela Secretaria da Saúde.
De acordo com o fabricante, as embalagens dos medicamentos são individuais, lacradas e, ao contrário do que o hospital informa, diferentes. O Succinil tem embalagem, rótulo e cartucho na cor verde e a tampa do frasco-ampola é cinza. Já o Cortisonal, tem embalagem, rótulo e cartucho na cor cinza e tampa do frasco-ampola vermelha. "O Succinil não poderia estar na pediatria, pois é um anestésico fortíssimo. Já verificamos e não houve troca na fábrica", disse o assessor da empresa Claudemir dos Santos.
Uma inspeção dos peritos farmacêuticos do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil, praticamente descartou a tese de que a troca tenha ocorrido antes dos medicamentos chegaram ao hospital.
"Os peritos percorreram todos os hospitais da rede municipal, abriram caixas de ambos os medicamentos e não encontraram nenhuma outra troca", disse o delegado Augusto Paiva, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública. Até as 19h, Paiva não sabia da descoberta do Succinil no hospital Rocha Maia.
Paiva disse ontem que está investigando as mortes das crianças como crime de homicídio culposo, "pois até agora não existem elementos que indiquem dolo [intenção"", disse o delegado.
Segundo Paiva, a hipótese mais viável para a causa da morte das crianças é um erro no momento de aplicar o medicamento, porque "as embalagens e os frascos dos remédios são parecidos".
O delegado quer a exumação das crianças mortas, enterradas sem a necropsia completa, "porque o remédio [Succinil Colin" some rapidamente no organismo."


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