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SAÚDE
Segundo secretaria, funcionários de hospital acharam medicamentos misturados em uma caixa lacrada; laboratório descarta hipótese
Rio suspende remédios após morte de bebês
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
A Secretaria Municipal da Saúde suspendeu ontem à tarde uso
dos medicamentos Succinil Colin
e Cortisonal, do laboratório
União Química Farmacêutica Nacional, em todos os hospitais da
cidade. No início da noite, a Secretaria Estadual da Saúde estendeu
a medida aos outros municípios
do Rio de Janeiro.
A troca das duas medicações
pode ter sido responsável pela
morte de quatro bebês no hospital
Salgado Filho (zona norte do
Rio), em menos de 24 horas desde
quinta-feira. As crianças podem
ter sido medicadas com o anestésico Succinil Colin, no lugar do
Cortisonal, usado para combater
problemas respiratórios. A polícia
ainda suspeita que a morte de Rodelson dos Santos Flores Júnior,
de cinco meses, no dia 25 de maio,
pode ter tido a mesma causa.
De acordo com a secretaria,
funcionários do hospital observaram, ontem de manhã, em uma
caixa aberta, os medicamentos
misturados. Eles abriram uma
outra caixa lacrada de Succinil
Colin, onde teriam encontrado
dois frascos de Cortisonal.
No hospital Rocha Maia (Botafogo, zona sul), teriam sido achadas duas caixas de Succinil, informou o secretário da Saúde, Ronaldo Cezar Coelho. Como o hospital não trabalha com o remédio,
o secretário presume que as caixas foram trazidas dentro de uma
embalagem de Cortisonal.
A Vigilância Sanitária suspeita
que a troca dos medicamentos na
fábrica pode ter matado as crianças, informou o secretário, que assumiu o cargo ontem e hoje se
reúne com o ministro José Serra
(Saúde), que virá ao Rio acompanhar a investigação do caso.
A União Química Farmacêutica
Nacional considera nula as chances da veracidade da hipótese levantada pela Secretaria da Saúde.
De acordo com o fabricante, as
embalagens dos medicamentos
são individuais, lacradas e, ao
contrário do que o hospital informa, diferentes. O Succinil tem
embalagem, rótulo e cartucho na
cor verde e a tampa do frasco-ampola é cinza. Já o Cortisonal, tem
embalagem, rótulo e cartucho na
cor cinza e tampa do frasco-ampola vermelha. "O Succinil não
poderia estar na pediatria, pois é
um anestésico fortíssimo. Já verificamos e não houve troca na fábrica", disse o assessor da empresa Claudemir dos Santos.
Uma inspeção dos peritos farmacêuticos do Icce (Instituto de
Criminalística Carlos Éboli), da
Polícia Civil, praticamente descartou a tese de que a troca tenha
ocorrido antes dos medicamentos
chegaram ao hospital.
"Os peritos percorreram todos
os hospitais da rede municipal,
abriram caixas de ambos os medicamentos e não encontraram nenhuma outra troca", disse o delegado Augusto Paiva, da Delegacia
de Repressão aos Crimes Contra a
Saúde Pública. Até as 19h, Paiva
não sabia da descoberta do Succinil no hospital Rocha Maia.
Paiva disse ontem que está investigando as mortes das crianças
como crime de homicídio culposo, "pois até agora não existem
elementos que indiquem dolo
[intenção"", disse o delegado.
Segundo Paiva, a hipótese mais
viável para a causa da morte das
crianças é um erro no momento
de aplicar o medicamento, porque "as embalagens e os frascos
dos remédios são parecidos".
O delegado quer a exumação
das crianças mortas, enterradas
sem a necropsia completa, "porque o remédio [Succinil Colin" some rapidamente no organismo."
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