São Paulo, quarta-feira, 05 de junho de 2002

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RIO

Tim Lopes está sumido desde a noite de domingo, quando fazia reportagem sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro (zona norte)

Jornalista da Globo desaparece em morro

DA SUCURSAL DO RIO

O jornalista Tim Lopes, 51, da TV Globo, está desaparecido desde a noite de domingo, quando fazia uma reportagem sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte do Rio). No baile, segundo nota divulgada anteontem pela emissora, haveria consumo de drogas e a prática de sexo explícito.
A nota informa que a emissora comunicou o desaparecimento de Lopes à polícia na manhã de anteontem. Na tarde daquele dia, uma equipe de policiais encontrou cinzas, um dente e pedaços de uma mandíbula de um corpo carbonizado no alto do morro.
Ao lado das cinzas, havia fragmentos de uma fita de oito milímetros, que não é usada em microcâmeras -equipamento que era utilizado pelo jornalista no dia em que desapareceu.
"Ainda não há confirmação de que o corpo seja do jornalista e todos nós, seus companheiros de trabalho, torcemos do fundo de nossos corações para que isso não aconteça", diz a nota.
Apesar de não confirmar que os restos são de Tim Lopes, a Polícia Civil está investigando a denúncia anônima, recebida por telefone, de que o jornalista teria sido confundido com um policial militar, espancado, torturado e morto pelos criminosos que dominam o tráfico na favela Vila Cruzeiro.
Segundo o inspetor Daniel Gomes, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), encarregada da investigação do caso, o denunciante disse que Lopes falou para os traficantes que era repórter.
Os criminosos teriam então telefonado para o chefe do tráfico no local, o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, da facção CV (Comando Vermelho). O inspetor disse que Elias Maluco mandou matar o jornalista.
Gomes afirmou que enviará as cinzas para análise do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil. Segundo ele, somente com um exame de DNA será possível identificar se o corpo é o de Tim Lopes.
A comparação será feita por meio de amostras de sangue colhidas de parentes.
No fim da tarde, a Core (Coordenadoria de Operações Especiais da Polícia Civil) recebeu denúncia de que o jornalista estaria em um cativeiro no alto do morro.
Policiais da Core e do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) fizeram uma incursão na favela, mas não localizaram o suposto esconderijo. Eles foram recebidos a tiros pelos traficantes, mas ninguém ficou ferido.
Na nota, a Globo informa que Lopes vinha produzindo reportagem na Vila Cruzeiro sobre bailes funks promovidos por traficantes. A emissora teria coletado com moradores da Penha informações sobre os bailes. Segundo a nota, meninas, menores de idade, estariam sendo aliciadas para participar dos bailes.
De acordo com a emissora, o jornalista esteve quatro vezes na favela -duas sem microcâmeras e duas com o equipamento, a última delas no domingo.
No domingo, segundo a Globo, Lopes havia marcado um encontro com o motorista da emissora, que estacionara longe da favela, às 20h. Na hora marcada, Lopes teria dito ao motorista que ainda não havia terminado sua apuração e combinou um novo encontro às 22h. O jornalista faltou ao encontro e não foi mais visto, diz a nota.
O inspetor Daniel Gomes afirmou que recebeu a denúncia do desaparecimento de Lopes às 11h de anteontem. De acordo com ele, o motorista que conduzira o jornalista à favela disse que ficou esperando até a 0h10 de segunda.
"Ele disse que decidiu ir embora porque pensou que o jornalista tinha voltado de táxi. O motorista falou que saiu da favela direto para a TV Globo e só soube do desaparecimento quando falou com a mulher de Tim Lopes na manhã do dia seguinte", afirmou Gomes.

Governo
O secretário da Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, disse que só falará sobre o caso se a perícia confirmar que o corpo é do jornalista.
O segundo vice-presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Everaldo Gouveia, afirmou que assassinatos ou sequestros de jornalistas costumam ter, no Brasil, motivação política.
A ANJ (Associação Nacional de Jornais) informou que investiga a morte de jornalistas desde 1995. Segundo a entidade, nenhuma das sete mortes investigadas foi causada por traficantes.
O Sindicato dos Jornalistas do Rio e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) divulgaram ontem nota conjunta pedindo ao governo estadual o esclarecimento do sumiço do jornalista.



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