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RIO
Tim Lopes está sumido desde a noite de domingo, quando fazia reportagem sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro (zona norte)
Jornalista da Globo desaparece em morro
DA SUCURSAL DO RIO
O jornalista Tim Lopes, 51, da TV Globo, está desaparecido desde a noite de domingo, quando fazia uma reportagem sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte do Rio). No baile, segundo nota divulgada anteontem pela emissora, haveria consumo de drogas e a prática de
sexo explícito.
A nota informa que a emissora comunicou o desaparecimento de
Lopes à polícia na manhã de anteontem. Na tarde daquele dia,
uma equipe de policiais encontrou cinzas, um dente e pedaços
de uma mandíbula de um corpo
carbonizado no alto do morro.
Ao lado das cinzas, havia fragmentos de uma fita de oito milímetros, que não é usada em microcâmeras -equipamento que
era utilizado pelo jornalista no dia
em que desapareceu.
"Ainda não há confirmação de
que o corpo seja do jornalista e todos nós, seus companheiros de
trabalho, torcemos do fundo de
nossos corações para que isso não
aconteça", diz a nota.
Apesar de não confirmar que os
restos são de Tim Lopes, a Polícia
Civil está investigando a denúncia
anônima, recebida por telefone,
de que o jornalista teria sido confundido com um policial militar,
espancado, torturado e morto pelos criminosos que dominam o
tráfico na favela Vila Cruzeiro.
Segundo o inspetor Daniel Gomes, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), encarregada da investigação
do caso, o denunciante disse que
Lopes falou para os traficantes
que era repórter.
Os criminosos teriam então telefonado para o chefe do tráfico
no local, o traficante Elias Pereira
da Silva, o Elias Maluco, da facção
CV (Comando Vermelho). O inspetor disse que Elias Maluco
mandou matar o jornalista.
Gomes afirmou que enviará as
cinzas para análise do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil. Segundo ele,
somente com um exame de DNA
será possível identificar se o corpo
é o de Tim Lopes.
A comparação será feita por
meio de amostras de sangue colhidas de parentes.
No fim da tarde, a Core (Coordenadoria de Operações Especiais
da Polícia Civil) recebeu denúncia
de que o jornalista estaria em um
cativeiro no alto do morro.
Policiais da Core e do Bope (Batalhão de Operações Especiais da
PM) fizeram uma incursão na favela, mas não localizaram o suposto esconderijo. Eles foram recebidos a tiros pelos traficantes,
mas ninguém ficou ferido.
Na nota, a Globo informa que
Lopes vinha produzindo reportagem na Vila Cruzeiro sobre bailes
funks promovidos por traficantes. A emissora teria coletado com
moradores da Penha informações
sobre os bailes. Segundo a nota,
meninas, menores de idade, estariam sendo aliciadas para participar dos bailes.
De acordo com a emissora, o
jornalista esteve quatro vezes na
favela -duas sem microcâmeras
e duas com o equipamento, a última delas no domingo.
No domingo, segundo a Globo,
Lopes havia marcado um encontro com o motorista da emissora,
que estacionara longe da favela, às
20h. Na hora marcada, Lopes teria
dito ao motorista que ainda não
havia terminado sua apuração e
combinou um novo encontro às
22h. O jornalista faltou ao encontro e não foi mais visto, diz a nota.
O inspetor Daniel Gomes afirmou que recebeu a denúncia do
desaparecimento de Lopes às 11h
de anteontem. De acordo com ele,
o motorista que conduzira o jornalista à favela disse que ficou esperando até a 0h10 de segunda.
"Ele disse que decidiu ir embora
porque pensou que o jornalista tinha voltado de táxi. O motorista
falou que saiu da favela direto para a TV Globo e só soube do desaparecimento quando falou com a
mulher de Tim Lopes na manhã
do dia seguinte", afirmou Gomes.
Governo
O secretário da Segurança Pública do Rio, Roberto Aguiar, disse que só falará sobre o caso se a
perícia confirmar que o corpo é
do jornalista.
O segundo vice-presidente da
Fenaj (Federação Nacional dos
Jornalistas), Everaldo Gouveia,
afirmou que assassinatos ou sequestros de jornalistas costumam
ter, no Brasil, motivação política.
A ANJ (Associação Nacional de
Jornais) informou que investiga a
morte de jornalistas desde 1995.
Segundo a entidade, nenhuma
das sete mortes investigadas foi
causada por traficantes.
O Sindicato dos Jornalistas do
Rio e a ABI (Associação Brasileira
de Imprensa) divulgaram ontem
nota conjunta pedindo ao governo estadual o esclarecimento do
sumiço do jornalista.
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