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LETRAS JURÍDICAS
Dificuldades no caminho de Jobim
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
O mundo jurídico brasileiro aguarda, com especial atenção, as posições a serem
adotadas pelo ministro Nelson Jobim, novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Creio
ter sido Buffon o autor da frase "o
estilo é o próprio homem". Essas
palavras sobrevivem na correta
acepção moderna: o estilo é o próprio ser humano. Pensada em termos de Jobim, a formação de seu
estilo é mais ligada ao Congresso
e ao Executivo, o que pode ser útil
para sua nova função.
Nomeado em abril de 1997, viveu as transformações do STF,
com as posições doutrinárias e
políticas diversificadas de seus
novos magistrados. Aposentaram-se, desde então, 6 dos 11 ministros: Moreira Alves, que se
aproximava dos 30 anos de judicatura, Néri da Silveira, Sydney
Sanches e Octavio Gallotti (empossados na primeira metade dos
anos 80), Ilmar Galvão e Maurício Corrêa. Permanecem os ex-presidentes Sepúlveda Pertence,
Celso de Mello, Carlos Velloso e
Marco Aurélio. Entraram Ellen
Gracie, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Brito, Joaquim Barbosa e o mais recente, Eros Grau.
Jobim traz a experiência de parlamentar e ministro para enfrentar um Executivo que não preza
muito a magistratura, conforme
resume a alusão, feita mais de
uma vez pelo presidente da República, ao que chama de "caixa
preta" do Judiciário. Jobim foi
constituinte em 1988 e teve papel
importante na redação final da
Carta Magna. No começo dos
anos 90, tive oportunidade de
constatar essa capacitação especial quando, a convite do saudoso
André Franco Montoro, presidente do Ilam (Instituto Latino-Americano), participei de reuniões cujo objetivo era reescrever o parágrafo único do artigo 4º da Constituição, afirmador do interesse
do Brasil na América Latina.
Montoro queria ampliar a aplicação do tratado de Assunção e a
atuação do Mercosul. Jobim esteve presente em várias ocasiões,
contribuindo positivamente para
a qualidade dos trabalhos e a previsão de seu encaminhamento no
Congresso. Precisará dessa experiência, em seu biênio presidencial, porquanto enfrentará mais
dificuldades políticas e organizacionais que seus antecessores.
A relação direta do novo presidente do STF com o Judiciário,
nos últimos sete anos, teve a assinalá-la, além das mudanças na
mais alta corte do país, o período
no qual as deficiências reais e
imaginárias da magistratura chegaram à mídia, em particular à
eletrônica, com intensidade crescente. São percebidas e divulgadas nas críticas ao mau cumprimento do dever essencial de julgar rapidamente, de dar a cada
um o que é seu, na definição clássica. Está no mesmo rumo a visão
de Edson Vidigal, presidente do
Superior Tribunal de Justiça, advogado e jornalista antes de ser
juiz, que conheceu o Judiciário de
fora para dentro, antes de o viver
de dentro para fora. Vidigal disse
bem, nesta semana, que manter o
Judiciário como está interessa só
a quem não quer democracia.
O que se convencionou chamar
(embora erroneamente) de reforma do Judiciário deve tornar
mais expedita a capacidade e a
vontade, dos grandes e dos pequenos tribunais, de resolver contendas. Num problema que se vem
agravando há anos, o número de
processos aumentou geometricamente na Justiça estadual, federal
e trabalhista. São Paulo, nesse aspecto, está à frente, com muitos
milhões de processos. Por hoje,
contudo, não há mais espaço.
Voltarei ao tema pelo menos mais
uma ou duas vezes.
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