|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI
Não à ditadura virtual
O estado policialesco, em que uns vigiam os outros, cheira mais a stalinismo do que a proteção aos bons internautas
FALTA MUITA DISCUSSÃO e aperfeiçoamento para que a internet ganhe um projeto de lei à
altura de sua importância no Brasil,
um dos países em que mais cresce o
número de internautas, e em que os
usuários ficam mais tempo conectados. Dois aspectos polêmicos se sobressaem no substitutivo do projeto
de lei do senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG): o conceito de defesa
digital e a "deduragem virtual" obrigatória, de parte dos provedores de
acesso à internet.
Defesa digital seria o sinal verde
para que técnicos de informática invadissem as comunicações de suspeitos de ser hackers (piratas de
computador). Uma espécie de liberdade para piratear pretensos piratas. Como disse um mestre na área,
em comentário no meu blog: "Atuo
com "security officer" para um produto em uma multinacional. Isso
me habilita a interceptar e alterar
dados on-line?".
Deduragem virtual, obviamente,
não é um conceito do senador, mas é
exatamente isso que o projeto propõe. Imaginem provedores de internet, que não são juízes, com a liberdade para "entregar" suspeitos de
práticas criminosas na web! Que poder fora do comum, que facilidade
para destruir reputações em uma
só tacada.
Como punir, então, os bandidos
da web, sem esses mecanismos que
o projeto sugere? Em primeiro lugar, é necessário que os internautas
decentes, a maioria, tenham canais e
proteção para informar às autoridades sobre e-mails com armadilhas
para roubar senhas, com vírus executáveis e outras patifarias.
E que, daí, sim, juízes autorizem a
quebra, digamos, do sigilo
internético.
Além disso, sites picaretas de vendas que aplicam golpes em incautos
abrem e reabrem o tempo todo, embora se saiba quem são seus donos e
de onde vêm. Por que eles escapam
impunes?
Promover um estado policialesco,
em que uns vigiam os outros, cheira
mais a stalinismo do que a proteção
aos bons internautas. Tornar crime
inafiançável o uso de logotipos de
órgãos públicos seria uma punição
adequada para golpistas.
Estabelecer equivalência em anos
de prisão para cada mil reais roubados pela internet, outra forma de
coibir crimes como "phishing" (criação de páginas falsas para "pescar"
dados como senha bancária).
Sem esquecer que, para escapar
dos golpes virtuais, os internautas
também devem fazer sua parte, refreando a vontade de levar vantagem (caso típico das ofertas de produtos a preços muito abaixo do mercado), utilizando softwares antivírus e anti-spyware (espiões escondidos em sites da internet).
Criar cadastros de golpistas; dificultar o acesso a contas de e-mail,
serviços de banda larga e de provedores de conteúdo; estabelecer penas severas de prisão, sem direito a
redução por bom comportamento,
são algumas formas de aumentar a
segurança da web.
Vamos aproveitar que a votação
do projeto foi suspensa, temporariamente, para melhorá-lo.
Hackers, crackers e outros pilantras merecem cadeia. Mas sem Big
Brother legalizado, por favor!
NA INTERNET - http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
Texto Anterior: Cooperativas terão que renovar a frota Próximo Texto: Consumo: Cliente reclama do Ponto Frio por computador com defeito Índice
|