São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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Aluno afirma que trabalha como ajudante

DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais de um ano após a implementação do Ler e Escrever na rede municipal de ensino, professores e estagiários ainda reclamam de que são necessários ajustes no projeto.
Para os universitários, muitas vezes eles são encarados como ajudantes que devem cuidar da disciplina e ajudar as crianças a tomarem o lanche ou irem ao banheiro. Para os docentes, falta uma melhor programação para que os estagiários sejam inseridos no processo pedagógico da escola e, assim, possam ajudar na alfabetização de fato.
"É uma questão de sorte: se você cai em uma classe que o professor te dá abertura, é possível trabalhar melhor e auxiliar nas aulas e nas lições", conta Fernando, aluno de letras da USP, que participa desde o ano passado do Ler e Escrever. "Mas, em outros casos, você não passa de um auxiliar de luxo que só cuida das crianças como uma babá", disse ele.
Já Cláudio Fonseca, presidente do Sinpeem (o sindicato dos professores municipais) e ex-vereador do PC do B, afirma que o trabalho teria melhores resultados se o estagiário também participasse do planejamento escolar e das reuniões de trabalho dos professores.
"Eles chegam para ajudar sem nem saber qual é o projeto pedagógico que a escola está usando", afirma. "O estagiário acaba ficando com as questões práticas mesmo, não é um segundo professor. Ele cuida, não educa."
Fonseca afirma que, para uma melhor alfabetização das crianças, mais necessário do que estagiários são mais professores. "Não dá para ensinar a ler e a escrever em salas lotadas." O estagiário Fernando concorda: "Na sala onde faço o estágio há 36, 37 alunos, dependendo da semana. É muita gente para uma classe de alfabetização".

Aprendiz
Supervisora de estágios do curso de pedagogia da Universidade São Marcos, Maria do Carmo Silva, que orienta 45 alunos da sua instituição participantes do Ler e Escrever, enfatiza que o estagiário não é mesmo um segundo professor. "Precisamos explicar para a comunidade, para os pais, para as mães, que ele é um aprendiz, não tem as mesmas obrigações que um professor."
De acordo com Maria do Carmo, o papel dos universitários não é nem assumir o papel do professor nem ser apenas um cuidador de crianças. O trabalho deles é o de auxiliar as crianças em dificuldade de aprendizagem.
"Recebi umas duas reclamações de estagiários que acabavam apenas ajudando em questões como lanche e idas ao banheiro e os orientei a conversar com a direção da escola. A função da universidade é essa: explicar o papel de cada um", afirma ela.

Problemas pontuais
Alexandre Schneider, secretário municipal da Educação, afirma que os problemas são pontuais. "Esse é um processo que exige trabalho conjunto. É possível que haja resistência em alguns lugares que, aos poucos, deixarão de existir."
O secretário também diz que os estagiários estão sendo incentivados a participar do planejamento escolar e que a rede está incorporando o Ler e Escrever. O projeto, segundo ele, está em 85% da rede e deverá chegar a 100% até o fim do ano. (DT)


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