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Sargento afirma ser vítima de perseguição dentro do Exército
O pretexto para as perseguições seria suas mais de oito faltas seguidas ao trabalho, o que caracteriza crime de deserção
No entanto, Laci Marinho de Araújo diz que o motivo é o fato de ele cantar em uma banda como cover da cantora Cássia Eller
ANGELA PINHO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em textos e ações judiciais, o
sargento Laci Marinho de
Araújo diz ser vítima de perseguição por seus superiores hierárquicos no Exército.
O pretexto da suposta perseguição seriam suas faltas no
trabalho, o hospital geral de
Brasília. O verdadeiro motivo,
segundo o sargento, seria o fato
de ter atuado como cover da
cantora Cássia Eller na banda
Terceira Visão, em que usava o
pseudônimo de Éron Anderson. "[De Araújo] teve o dissabor de se tornar prévia e progressivamente desafeto de superiores que não viam com
bons olhos o fato de possuírem,
na instituição, um sargento que
também era artista e, o que é
mais grave, que imitava uma
cantora homossexual", diz artigo intitulado "Éron Anderson
-Durante o Dia Militar, à Noite
Cássia Eller Cover", enviado à
Folha, antes da prisão, pelo
também sargento Fernando
Alcântara de Figueiredo.
Os dois mantêm um relacionamento amoroso estável desde 1997 e moram juntos em um
apartamento funcional do
Exército, em Brasília.
Segundo Alcântara de Figueiredo, a atuação de seu companheiro como cover de Cássia
Eller cessou quando pioraram
os sintomas clínicos. "Laci tem
dificuldades para caminhar, alteração de equilíbrio, dificuldade de memorização, humor rebaixado, desesperança e ansiedade. Laci está doente."
Separação
Em janeiro do ano passado, o
Exército decidiu transferir os
dois sargentos de Brasília. Um
iria para Osasco (SP); o outro,
para São Leopoldo (RS).
Após uma representação formulada pela mãe de De Araújo,
Francinete Marinho de Araújo,
na qual ela dizia que o filho era
vítima de perseguição de seus
superiores, o Ministério Público Federal entrou com um pedido de liminar para impedir a
transferência dos dois, o que foi
aceito pela Justiça Federal.
No pedido, o procurador da
República Wellington Divino
Marques de Oliveira descreve
uma gravação que teria sido
realizada supostamente no gabinete do general Adhemar da
Costa Machado Filho.
Na transcrição, é atribuída ao
general a seguinte declaração:
"Manda o marido dele [referência ao sargento Fernando
Alcântara de Figueiredo] pro
Rio Grande do Sul".
O general Adhemar nega a
perseguição. "O problema dele
não é por ser gay, é por ser desertor", disse ontem à Folha.
Segundo o juiz Roberto Luis
Luchi Demo, que assina a decisão que impediu a transferência, a gravação "teria sido" realizada em dezembro de 2006; o
pedido de transferência de Alcântara de Figueiredo, em abril
de 2007. "Se existe homossexualismo, essa orientação sexual por si só não pode justificar qualquer sanção administrativa", diz o juiz.
Segundo o Ministério Público Militar, o sargento De Araújo faltou ao trabalho por mais
de oito dias, o que caracterizaria crime de deserção. Ao MPF,
o sargento se declarou doente,
com "patologia neurológica
ainda não identificada, provavelmente esclerose múltipla, o
que o impede de exercer plenamente suas funções militares".
Por causa da suposta deserção, militares da Polícia do
Exército foram, na semana
passada, ao prédio onde os sargentos moram, com o objetivo
de capturar De Araújo. Segundo funcionários do edifício, como o casal não se encontrava
em casa, a porta foi arrombada.
No Setor Militar Urbano, local onde ambos trabalhavam, o
caso dos sargentos era comentado por praticamente todos.
Quem queria se calar sobre o
assunto, apenas sorria quando
perguntado.
"Eu trabalhava com ele. Ninguém aqui sabia, até ver a reportagem [da revista "Época']",
disse um soldado que não quis
se identificar.
Um sargento que se disse
amigo de Figueiredo, e também preferiu não se identificar,
afirmou que a perseguição
existia, sim, e que ela ultrapassava a orientação sexual do casal. Segundo ele, superiores
suspeitavam de que o sargento
Alcântara de Figueiredo tivesse feito denúncias sobre irregularidades na corporação.
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