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JOSÉ ALCIDES PINTO (1923-2008)
Poeta "maldito", que vivia além do real
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A epopéia de José Alcides
Pinto não cabe em sua "Trilogia da Maldição". Seus palhaços, demônios e beatos,
disputados entre o sagrado e
o profano, até se esforçam
para apreender seu mundo
fantástico. Mas ficam aquém
do "poeta maldito", do "homem que vivia além do real".
Nascido à beira do rio Acaraú, em São Francisco do Estreito (CE), narrava a juventude "de promiscuidade sem
limites" e aventuras animais.
O pai, capitão de tropas, e a
mãe, descendente de índios
Tremembés, viviam para "fazer filhos e fazer filhos". Foram 17; "fora os que morreram anjos, mais de um coro".
Em 1945 foi estudar jornalismo no Rio "infestado de
cabarés". Virou noites na Biblioteca Nacional, onde estudou biblioteconomia. E virou
organizador de coletâneas
no MEC. Até voltar para o
Ceará e encontrar a fama
com poesias, contos, peças e
romances de um "memorialismo místico", povoados de
criaturas do limbo entre perversão e loucura. Tornou-se
o "grande escritor maldito".
Diz a "Enciclopédia de Literatura Brasileira" que "fez
a ligação entre a geração de
45 e a nova literatura". Mas
ele não se fiava nem na crítica nem no elogio -dizia só
que o sobrenatural "fazia
parte de sua natureza e arte".
Indicado neste ano para o
prêmio de ficção da Academia Brasileira de Letras,
morreu antes, na segunda;
caminhava na rua quando foi
atropelado por uma moto.
Tinha 84 anos e cinco filhos
-desses, três registrados.
obituario@folhasp.com.br
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