São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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JOSÉ ALCIDES PINTO (1923-2008)

Poeta "maldito", que vivia além do real

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A epopéia de José Alcides Pinto não cabe em sua "Trilogia da Maldição". Seus palhaços, demônios e beatos, disputados entre o sagrado e o profano, até se esforçam para apreender seu mundo fantástico. Mas ficam aquém do "poeta maldito", do "homem que vivia além do real".
Nascido à beira do rio Acaraú, em São Francisco do Estreito (CE), narrava a juventude "de promiscuidade sem limites" e aventuras animais. O pai, capitão de tropas, e a mãe, descendente de índios Tremembés, viviam para "fazer filhos e fazer filhos". Foram 17; "fora os que morreram anjos, mais de um coro".
Em 1945 foi estudar jornalismo no Rio "infestado de cabarés". Virou noites na Biblioteca Nacional, onde estudou biblioteconomia. E virou organizador de coletâneas no MEC. Até voltar para o Ceará e encontrar a fama com poesias, contos, peças e romances de um "memorialismo místico", povoados de criaturas do limbo entre perversão e loucura. Tornou-se o "grande escritor maldito".
Diz a "Enciclopédia de Literatura Brasileira" que "fez a ligação entre a geração de 45 e a nova literatura". Mas ele não se fiava nem na crítica nem no elogio -dizia só que o sobrenatural "fazia parte de sua natureza e arte".
Indicado neste ano para o prêmio de ficção da Academia Brasileira de Letras, morreu antes, na segunda; caminhava na rua quando foi atropelado por uma moto. Tinha 84 anos e cinco filhos -desses, três registrados.


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