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França apura mudança de velocidade em voo
Órgão que investiga acidentes aéreos divulga nota em que cita "incoerência nas diferentes velocidades medidas" no Airbus
Divulgação ocorreu após reportagem do "Le Monde" informar que mensagens automáticas do avião indicaram incorreções
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma reportagem do jornal
francês "Le Monde" fez o BEA
(Birô de Investigações e Análises), órgão que investiga acidentes aéreos no país, adicionar mais uma peça no quebra-cabeças de hipóteses sobre o
que ajudou a derrubar o Air
France 447 com 228 pessoas a
bordo. Agora, alimentando a
especulação de que o avião pode ter rachado devido a uma
mudança brusca de velocidade.
O jornal dizia que entre as
mensagens automáticas que o
avião enviou entre as 23h10 e as
23h14, havia indicação de velocidade incorreta.
A reportagem também afirmou que a Airbus deveria enviar em breve um lembrete aos
pilotos de que eles devem manter as turbinas e o nível de voo
constantes ao enfrentar mau
tempo -como o que havia na
rota do AF 447. A Airbus não
fez comentários.
Pressionado, o BEA divulgou
nota marcando entrevista amanhã, condenando especulações
e confirmando duas coisas.
Primeiro: havia "importantes células convectivas" na rota
prevista para o avião da Air
France. Ou seja, tempestades
fortes, com ventos verticais perigosos.
Segundo: "A partir da exploração das mensagens automáticas transmitidas pelo avião,
[há] incoerência nas diferentes
velocidades medidas".
O "Le Monde" não diz qual
seria a diferença. Procurada, a
porta-voz do BEA, Martine del
Bono, disse que só falaria na entrevista de amanhã.
É normal, ao avistar no radar
ou visualmente uma tempestade, o piloto tentar uma manobra evasiva. Desacelera e controla manualmente a potência
dos motores para evitar que
eles se apaguem.
Entre pilotos e especialistas,
a especulação é que o avião possa ter desacelerado muito rapidamente -ou acelerado, embora isso pareça menos provável.
Uma freada brutal poderia
partir o Airbus no meio de uma
tempestade, dependendo do
ângulo que a aeronave atingisse. Fica a dúvida: por que haveria tal desaceleração?
A primeira mensagem automática ao centro de manutenção da Air France indicou o
desligamento do piloto automático. Nos quatro minutos seguintes, diversos sistemas elétricos de controle de voo e navegação são desconectados.
Em 2008, um defeito no
computador de navegação de
dois Airbus-330 semelhantes
ao usado no AF 447 enviou dados errados para o sistema que
mantém o avião estável no ar e
o fizeram "enlouquecer".
No caso mais grave, o piloto
automático desligou e o avião
subiu bruscamente, por entender, pelos dados errados do
computador, que baixava perigosamente. Depois teve duas
descidas rápidas pela leitura inversa. Com tempo bom, os pilotos retomaram o controle.
Tudo isso acontecer numa
tempestade a 35 mil pés (10,7
km), a altitude em que o avião
estava quando foi registrado
pela última vez no radar, às
22h48, poderia ser catastrófico.
O fato de aparentemente haver muito combustível entre os
destroços indica uma desintegração sem explosão no ar e alimenta a teoria -embora tal
despedaçamento possa ocorrer
num mergulho radical, como
no caso do Boeing que caiu sobre a Amazônia em 2006.
Como as respostas esperadas
nas caixas-pretas podem nunca
ser achadas, as pistas vão sendo
dadas pelas mensagens automáticas, guardadas a sete chaves pelos franceses -com exceção de vazamentos eventuais.
Colaborou MARCELO NINIO, enviado especial a Paris
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