São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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França apura mudança de velocidade em voo

Órgão que investiga acidentes aéreos divulga nota em que cita "incoerência nas diferentes velocidades medidas" no Airbus

Divulgação ocorreu após reportagem do "Le Monde" informar que mensagens automáticas do avião indicaram incorreções


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Uma reportagem do jornal francês "Le Monde" fez o BEA (Birô de Investigações e Análises), órgão que investiga acidentes aéreos no país, adicionar mais uma peça no quebra-cabeças de hipóteses sobre o que ajudou a derrubar o Air France 447 com 228 pessoas a bordo. Agora, alimentando a especulação de que o avião pode ter rachado devido a uma mudança brusca de velocidade.
O jornal dizia que entre as mensagens automáticas que o avião enviou entre as 23h10 e as 23h14, havia indicação de velocidade incorreta. A reportagem também afirmou que a Airbus deveria enviar em breve um lembrete aos pilotos de que eles devem manter as turbinas e o nível de voo constantes ao enfrentar mau tempo -como o que havia na rota do AF 447. A Airbus não fez comentários.
Pressionado, o BEA divulgou nota marcando entrevista amanhã, condenando especulações e confirmando duas coisas. Primeiro: havia "importantes células convectivas" na rota prevista para o avião da Air France. Ou seja, tempestades fortes, com ventos verticais perigosos. Segundo: "A partir da exploração das mensagens automáticas transmitidas pelo avião, [há] incoerência nas diferentes velocidades medidas".
O "Le Monde" não diz qual seria a diferença. Procurada, a porta-voz do BEA, Martine del Bono, disse que só falaria na entrevista de amanhã. É normal, ao avistar no radar ou visualmente uma tempestade, o piloto tentar uma manobra evasiva. Desacelera e controla manualmente a potência dos motores para evitar que eles se apaguem.
Entre pilotos e especialistas, a especulação é que o avião possa ter desacelerado muito rapidamente -ou acelerado, embora isso pareça menos provável. Uma freada brutal poderia partir o Airbus no meio de uma tempestade, dependendo do ângulo que a aeronave atingisse. Fica a dúvida: por que haveria tal desaceleração? A primeira mensagem automática ao centro de manutenção da Air France indicou o desligamento do piloto automático. Nos quatro minutos seguintes, diversos sistemas elétricos de controle de voo e navegação são desconectados.
Em 2008, um defeito no computador de navegação de dois Airbus-330 semelhantes ao usado no AF 447 enviou dados errados para o sistema que mantém o avião estável no ar e o fizeram "enlouquecer".
No caso mais grave, o piloto automático desligou e o avião subiu bruscamente, por entender, pelos dados errados do computador, que baixava perigosamente. Depois teve duas descidas rápidas pela leitura inversa. Com tempo bom, os pilotos retomaram o controle. Tudo isso acontecer numa tempestade a 35 mil pés (10,7 km), a altitude em que o avião estava quando foi registrado pela última vez no radar, às 22h48, poderia ser catastrófico.
O fato de aparentemente haver muito combustível entre os destroços indica uma desintegração sem explosão no ar e alimenta a teoria -embora tal despedaçamento possa ocorrer num mergulho radical, como no caso do Boeing que caiu sobre a Amazônia em 2006. Como as respostas esperadas nas caixas-pretas podem nunca ser achadas, as pistas vão sendo dadas pelas mensagens automáticas, guardadas a sete chaves pelos franceses -com exceção de vazamentos eventuais.

Colaborou MARCELO NINIO, enviado especial a Paris



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