São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Após documentário, FHC é chamado de corajoso a farsante

Ex-presidente recebe críticas e elogios por defender a descriminalização de drogas leves, como a maconha

"Quebrando o Tabu", que estreou na última sexta, mostra exemplos de políticas que deram certo em outros países


ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

O papel de âncora no filme "Quebrando o Tabu", que estreou na última sexta-feira, colocou Fernando Henrique Cardoso na berlinda. Ao defender a descriminalização de drogas leves, como a maconha, o ex-presidente é chamado de farsante a corajoso.
Para Anthony Henman, do Conselho Estadual de Entorpecentes e autor do livro "Mama Coca", a participação de FHC no documentário é "importante e corajosa".
"Faz tempo que nós que trabalhamos na área estamos em sintonia com a ideia de que mais repressão às drogas não resolve nada", diz Henman. "O filme traz argumentos claros."
Entre as opiniões exibidas no filme estão as de outros ex-presidentes como César Gavíria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México.
Primeiro titular da Secretaria Nacional Antidrogas criada no governo FHC, Walter Maierovitch critica a adesão do antigo chefe à luta que não abraçava no poder.
"Fernando Henrique é uma farsa. Ele fez o Brasil atrasar. Como explica que, como presidente, não quis seguir o exemplo de Portugal?", questiona Maierovitch, secretário de FHC entre 1998 e 2000.
No longa de Fernando Grostein, o ex-presidente percorre vários países para mostrar experiências exitosas em relação a drogas. Entre elas, a de Portugal, onde o consumo de maconha deixou de ser crime e passou a ser infração administrativa.
"Fiquei um ano no governo e não consegui fazer a revolução que Portugal está fazendo", diz o ex-secretário Nacional Antidrogas. "Lá, houve uma redução de 30% no consumo de maconha."
O modelo português de adotar a legislação que não criminaliza o uso, mas só o comércio, foi recomendado a países da União Europeia.
Em entrevista à Folha, no domingo passado, FHC disse que seu governo foi ambíguo. "Confesso que não tinha a posição que tenho hoje, porque não tinha informação."
Já o ex-secretário de Vigilância Sanitária de FHC, Elisaldo Carlini, se surpreendeu com a posição de vanguarda do ex-presidente brasileiro.
"Ele era contra o uso não médico da maconha. Era a opinião do presidente e não a do sociólogo. Hoje, Fernando Henrique tem uma visão mais humanista."
Para Carlini, "Quebrando o Tabu" serve para acelerar o debate em torno da liberação no Brasil de drogas à base de maconha usadas no tratamento de câncer e Aids.

PLATEIA
O médico Mauro Veras, 47, que assistiu à estreia, achou que FHC deu credibilidade ao debate. "É hora de mudar a abordagem sobre drogas."
Para a advogada Maria Theresa Dias, 80, FHC "usa a cabeça" para defender a ideia que fecha bem o filme. "Queremos paz. Basta de guerra às drogas."


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.