São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Restringir vôos nos horários de pico é paliativo, diz especialista

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Restringir vôos em horários de pico como solução ao caos aéreo é uma medida apenas paliativa, que não resolve as deficiências de infra-estrutura de aeroportos e controle de vôo e que pode causar aumento de tarifas aos passageiros. A avaliação é do economista Alessandro Oliveira, do Nectar (Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo), do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), autor de um estudo que mostra que, dos 138 principais aeroportos do país, apenas 15 concentram 73% dos vôos -Congonhas e Brasília somam 20% do tráfego aéreo brasileiro. O governo estuda determinar mudanças nas malhas das companhias para reduzir a concentração em horários e aeroportos muito movimentados. O ideal, defende Oliveira, seria estimular a desconcentração cobrando tarifas de aeroporto mais baixas em horários de menor movimento. Leia abaixo trechos da entrevista com o especialista.

 

FOLHA - O governo aponta como uma das soluções para o caos aéreo a desconcentração de vôos em horários de pico. Para isso as companhias aéreas teriam que mexer em suas malhas. É viável?
ALESSANDRO OLIVEIRA -
Mesmo que as alterações sejam pequenas, as companhias teriam que reformular as malhas por inteiro. Isso porque há um conjunto de conexões e pontos de rede que interligam essas malhas. Se a companhia não consegue fazer as mesmas conexões, deixa mais aviões parados porque não consegue usá-los nos horários desejados e repassa isso para o preço. Um mecanismo de mercado, como cobrar das empresas tarifas de aeroporto mais ou menos caras dependendo da demanda para determinado horário seria uma solução menos arbitrária. Esse preço diferenciado faria com que elas fizessem seus cálculos de custo-benefício.

FOLHA - Essas tarifas não pesam pouco nos custos das companhias?
OLIVEIRA -
Teria que ser feito um ajuste de forma a reduzir a lucratividade nos horários de pico e induzi-las a deslocar ao menos alguns vôos para horários menos convidativos. Essa seria uma solução em que o mercado naturalmente se ajustaria. E não uma canetada, algo como "tira 10 vôos desse horário que o sistema não agüenta".

FOLHA - Um dos argumentos do governo é que as companhias trabalham com uma grade de vôos muito apertada, com alta utilização de aviões e muitas escalas, o que potencializa o caos.
OLIVEIRA -
As companhias hoje estão mais eficientes, usam melhor seus aviões para poder competir. Os preços estão mais baixos porque as empresas se adaptaram a um modelo mais flexível. Não deveríamos culpá-las por serem mais eficientes. É verdade que os riscos de atraso são maiores com esse modelo de alta utilização de aviões, mas não diria que é ele o vilão da crise aérea. O problema principal é a falta de investimento em infra-estrutura de aeroportos e controle de tráfego aéreo.

FOLHA - Dos principais aeroportos, 15 concentram 73% dos vôos, e Congonhas e Brasília representam 20% do total. Como esse quadro potencializa o caos aéreo?
OLIVEIRA -
Esses aeroportos ficam sobrecarregados, o que aumenta o risco de efeito cascata. Se um em cinco vôos no Brasil passam por Congonhas ou Brasília, quando há um problema em um desses dois aeroportos todo o sistema é afetado.

FOLHA - O sr. acredita que a prática de overbooking [venda de passagens em número superior ao de assentos disponíveis] tem parcela de culpa pelo apagão no setor?
OLIVEIRA -
O overbooking é uma resposta ao "no-show" [quando o passageiro não comparece para fazer o check-in]. Não acho que tenha ligação com a crise. O overbooking sempre aconteceu no Brasil, e o apagão é coisa de meses pra cá.


Texto Anterior: Aeronáutica decide expulsar controladores
Próximo Texto: Flagrado pela TV, Palocci nega ter furado fila em Cumbica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.