Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Restringir vôos nos horários de pico é paliativo, diz especialista
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Restringir vôos em horários
de pico como solução ao caos
aéreo é uma medida apenas paliativa, que não resolve as deficiências de infra-estrutura de
aeroportos e controle de vôo e
que pode causar aumento de
tarifas aos passageiros.
A avaliação é do economista
Alessandro Oliveira, do Nectar
(Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo), do ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica),
autor de um estudo que mostra
que, dos 138 principais aeroportos do país, apenas 15 concentram 73% dos vôos -Congonhas e Brasília somam 20%
do tráfego aéreo brasileiro.
O governo estuda determinar mudanças nas malhas das
companhias para reduzir a concentração em horários e aeroportos muito movimentados.
O ideal, defende Oliveira, seria estimular a desconcentração cobrando tarifas de aeroporto mais baixas em horários
de menor movimento.
Leia abaixo trechos da entrevista com o especialista.
FOLHA - O governo aponta como
uma das soluções para o caos aéreo
a desconcentração de vôos em horários de pico. Para isso as companhias
aéreas teriam que mexer em suas
malhas. É viável?
ALESSANDRO OLIVEIRA - Mesmo
que as alterações sejam pequenas, as companhias teriam que
reformular as malhas por inteiro. Isso porque há um conjunto
de conexões e pontos de rede
que interligam essas malhas. Se
a companhia não consegue fazer as mesmas conexões, deixa
mais aviões parados porque
não consegue usá-los nos horários desejados e repassa isso
para o preço. Um mecanismo
de mercado, como cobrar das
empresas tarifas de aeroporto
mais ou menos caras dependendo da demanda para determinado horário seria uma solução menos arbitrária. Esse preço diferenciado faria com que
elas fizessem seus cálculos de
custo-benefício.
FOLHA - Essas tarifas não pesam
pouco nos custos das companhias?
OLIVEIRA - Teria que ser feito
um ajuste de forma a reduzir a
lucratividade nos horários de
pico e induzi-las a deslocar ao
menos alguns vôos para horários menos convidativos. Essa
seria uma solução em que o
mercado naturalmente se ajustaria. E não uma canetada, algo
como "tira 10 vôos desse horário que o sistema não agüenta".
FOLHA - Um dos argumentos do
governo é que as companhias trabalham com uma grade de vôos muito
apertada, com alta utilização de
aviões e muitas escalas, o que potencializa o caos.
OLIVEIRA - As companhias hoje
estão mais eficientes, usam
melhor seus aviões para poder
competir. Os preços estão mais
baixos porque as empresas se
adaptaram a um modelo mais
flexível. Não deveríamos culpá-las por serem mais eficientes. É
verdade que os riscos de atraso
são maiores com esse modelo
de alta utilização de aviões, mas
não diria que é ele o vilão da crise aérea. O problema principal
é a falta de investimento em infra-estrutura de aeroportos e
controle de tráfego aéreo.
FOLHA - Dos principais aeroportos,
15 concentram 73% dos vôos, e Congonhas e Brasília representam 20%
do total. Como esse quadro potencializa o caos aéreo?
OLIVEIRA - Esses aeroportos ficam sobrecarregados, o que aumenta o risco de efeito cascata.
Se um em cinco vôos no Brasil
passam por Congonhas ou Brasília, quando há um problema
em um desses dois aeroportos
todo o sistema é afetado.
FOLHA - O sr. acredita que a prática
de overbooking [venda de passagens em número superior ao de assentos disponíveis] tem parcela de
culpa pelo apagão no setor?
OLIVEIRA - O overbooking é uma
resposta ao "no-show" [quando
o passageiro não comparece
para fazer o check-in]. Não
acho que tenha ligação com a
crise. O overbooking sempre
aconteceu no Brasil, e o apagão
é coisa de meses pra cá.
Texto Anterior: Aeronáutica decide expulsar controladores Próximo Texto: Flagrado pela TV, Palocci nega ter furado fila em Cumbica Índice
|