São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIXO

Medida visa reduzir descarte irregular diário de cerca de 12 mil toneladas de resíduos da construção civil em vias públicas

SP descentraliza recebimento de entulho

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Regularizar áreas onde caçambeiros e caminhões possam entregar o entulho, que passará, então, por uma triagem, na qual o material reaproveitável será separado e posteriormente vendido para reciclagem ou uso na construção civil e pavimentação, enquanto o restante será acumulado e encaminhado para o aterro de inertes de Itaquera (extremo da zona leste da cidade de São Paulo).
É essa a principal solução encontrada pela Prefeitura de São Paulo para reduzir o despejo irregular de cerca de 81% de todo o resíduo de construção gerado na capital paulista -ou cerca de 12 mil toneladas diárias de um material cuja porcentagem de reaproveitamento supera os 80%.
O projeto prevê a implantação de entre oito e dez Áreas de Transbordo e Triagem (ATTs) em toda a cidade, o que acabaria com a necessidade de longas jornadas até Itaquera, diminuindo os custos do transporte e facilitando a vida dos caçambeiros, que, muitas vezes, por causa da distância, despejam os resíduos em qualquer lugar pelo caminho. Mais que isso, ao fazer a separação do que é reaproveitável, as ATTs incentivariam a reciclagem.
A idéia é aprovada pelo Sieresp (sindicato dos caçambeiros) e especialistas da área de resíduos. Vai ao encontro também da mais recente resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que dá um prazo de até dois anos e meio para que prefeituras e grandes geradores implantem um plano de gerenciamento integral do entulho (leia abaixo).
Além de prejudicar o ambiente e a drenagem da cidade, favorecendo as enchentes, o entulho jogado nas ruas e córregos representa um gasto médio de R$ 20 milhões anuais para o município.
Por lei, o poder público só tem a obrigação de recolher o resíduo gerado por pequenas reformas -até 50 kg. Mais que isso fica sob a responsabilidade do gerador que deve contratar uma caçamba cadastrada no Limpurb (Departamento de Limpeza Pública). Na prática, porém, quando o entulho é despejado na via pública, torna-se um problema da prefeitura.

Iniciativa privada
Segundo o decreto municipal 42.217, publicado na semana passada, as ATTs serão implantadas e operadas pela iniciativa privada. Os interessados deverão consultar a Secretaria do Planejamento Urbano sobre as diretrizes urbanísticas do empreendimento e apresentar um projeto à administração regional correspondente, que o submeterá à Secretaria da Habitação e, após análise, expedirá a licença de funcionamento.
A idéia é ter entre oito e dez ATTs regularizadas. A primeira delas certamente será a de Gentil Ribeiro Ferraz, 53. Trabalhando no ramo de caçambas há cinco anos, ele resolveu, há três, implantar o primeiro local de transbordo e triagem da cidade. Mesmo operando de forma irregular, a iniciativa deu tão certo que serviu de inspiração para prefeitura disseminar a idéia (leia ao lado).
"Sabemos que existem mais duas ou três áreas de transbordo que funcionam na área cinzenta da ilegalidade e poderão, com as devidas adequações, se regularizar", afirma Dan Moche Schneider, assessor técnico do Limpurb.
Isso significa, entre outros, ser uma área cercada, identificada e ter equipamentos de segurança, além de só receber resíduos considerados inertes (que não reagem), o que exclui, por exemplo, tintas e solventes. Devem também separar materiais para os quais ainda não há tecnologia viável de reciclagem, caso dos derivados de gesso, e enviá-los para Itaquera.
Um encontro com o Sieresp deve acontecer até a próxima semana para que o poder público tenha uma idéia de quantos caçambeiros têm interesse em abrir ATTs.

Pontos de entrega
O projeto da prefeitura para a gestão dos resíduos de construção civil inclui ainda a implantação, em áreas municipais, de 98 pontos de entrega de entulho, um em cada distrito da cidade, que poderão receber até cerca de 750 toneladas de resíduo por pessoa. O processo, porém, está atrasado.
A primeira área deve começar a funcionar ainda neste ano na regional da Vila Maria/Vila Guilherme (zona norte de SP). A fiscalização também continuará sendo uma arma contra o descarte irregular: desde novembro do ano passado, o Limpurb já apreendeu mais de cem caminhões jogando entulho em vias públicas da cidade.



Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: País desperdiça 85 milhões de toneladas por ano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.