|
Próximo Texto | Índice
CLIMA
Represas de hidrelétricas também estão funcionando abaixo de sua capacidade, mas racionamento de energia é descartado
Seca ameaça abastecimento em SP e no RJ
Marlene Bergamo/Folha Imagem
|
Represa de Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, que está com cerca de 40% de sua capacidade |
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DAS REGIONAIS
A estiagem que se mantém desde junho já representa uma ameaça real às represas e à captação de
água dos rios para abastecimento
público no Rio de Janeiro e em
São Paulo. A situação é mais grave
na bacia do rio Paraíba do Sul, que
corta os dois Estados e enfrenta
sua pior seca desde 1955.
Além da falta de chuvas, outra
razão para o baixo nível das represas do Paraíba do Sul foi o vazamento de resíduos de fabricação
de papel, ocorrido em março em
Cataguases (MG), que consumiu
cerca de 4% do total da capacidade de armazenamento de água da
bacia para a limpeza do trecho
atingido -volume equivalente a
cerca de um mês de consumo.
A situação levou a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) a racionalizar o uso da água e
diminuir a transposição do Paraíba do Sul para o rio Guandu, principal fonte de abastecimento dos
8,5 milhões de consumidores da
região metropolitana do Rio. Cerca de 70% da água captada no
Guandu vem do Paraíba do Sul.
Apesar disso, o secretário do
Meio Ambiente e vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde,
descarta, por hora, um racionamento. "O que estamos pedindo
às pessoas é que usem a água racionalmente, deixando de lavar os
carros, não usando mangueiras."
Para tentar contornar o problema, também está sendo feita a diminuição da vazão dos reservatórios da bacia, que precisam economizar 30 mil litros (m3) de água
por segundo. Ontem, a redução
foi de 10 mil litros por segundo.
Os reservatórios do Paraíba do
Sul para geração de energia também foram afetados pela estiagem. O mais prejudicado foi o da
usina do Funil (da estatal Furnas).
O lago está com 12,78% de sua
capacidade, contra 22,89% na
mesma época de 2002. A usina está produzindo apenas 64 MW, ante uma capacidade de 216 MW.
O reservatório de Paraibuna (da
Cesp, na cidade com o mesmo nome, em São Paulo) está com
24,54% de sua capacidade, contra
33,7% na mesma época de 2002.
Segundo prognósticos do ONS
(Operador Nacional do Sistema
Elétrico), os reservatórios podem
ficar completamente secos em
outubro, caso o período de estiagem que atinge a região se prolongue e o consumo se mantenha nos
mesmos patamares.
Mesmo com essa perspectiva, o
órgão descarta adotar um plano
de racionamento de energia.
Atenção
Apesar de não estar tão crítico
quanto o do Rio, o quadro do
abastecimento público também
não é tranquilo em São Paulo.
Todos os cinco sistemas que
abastecem a Grande São Paulo
operam com menor volume do
que em 2002, e a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo) avalia que o
estado atual é de atenção.
Embora rejeite a idéia de um racionamento de água a curto prazo, a empresa conta com chuvas
próximas às médias históricas em
agosto, setembro e outubro para
evitar deixar paulistanos e vizinhos sem água no verão.
Desde junho chove abaixo da
média nas bacias que formam os
reservatórios -em julho, por
exemplo, os dois maiores sistemas, Cantareira e Guarapiranga,
tiveram chuvas 35,6% e 54% abaixo do esperado, respectivamente.
Segundo o Cptec/Inpe (Centro
de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), as chances de as chuvas serem próximas à
média no Sudeste até outubro são
de 40% (a probabilidade é de 30%
para chuvas abaixo da média e de
30% para acima da média).
O Cantareira é o sistema em
pior condição -tem 26,7% de
sua capacidade, contra 49,6% em
2002- o que pode afetar não apenas mais da metade da Grande
São Paulo mas também 10 milhões de habitantes da região de
Campinas (95 km da capital).
Isso porque ele completa o volume de água dos rios Atibaia e Jaguari, que abastecem o interior.
Somente no rio Atibaia, em dois
pontos de captação de água de
Campinas, foi registrada uma
queda de 50% na vazão.
O apelo em São Paulo é o mesmo do Rio: fechar as torneiras. O
inverno mais quente que o usual,
porém, não tem ajudado, e, até
outubro, não está prevista nenhuma campanha de conscientização
da população porque a Sabesp está sem agência de publicidade.
Já na região do Paraíba do Sul,
deverá ser lançada, nos próximos
dias, uma campanha incentivando o uso racional da água.
O objetivo é tentar evitar a adoção de atitudes mais drásticas, como o racionamento.
Próximo Texto: Comitê de bacia quer racionamento Índice
|