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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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CLIMA

Represas de hidrelétricas também estão funcionando abaixo de sua capacidade, mas racionamento de energia é descartado

Seca ameaça abastecimento em SP e no RJ

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Represa de Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, que está com cerca de 40% de sua capacidade


DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
DAS REGIONAIS

A estiagem que se mantém desde junho já representa uma ameaça real às represas e à captação de água dos rios para abastecimento público no Rio de Janeiro e em São Paulo. A situação é mais grave na bacia do rio Paraíba do Sul, que corta os dois Estados e enfrenta sua pior seca desde 1955.
Além da falta de chuvas, outra razão para o baixo nível das represas do Paraíba do Sul foi o vazamento de resíduos de fabricação de papel, ocorrido em março em Cataguases (MG), que consumiu cerca de 4% do total da capacidade de armazenamento de água da bacia para a limpeza do trecho atingido -volume equivalente a cerca de um mês de consumo.
A situação levou a Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) a racionalizar o uso da água e diminuir a transposição do Paraíba do Sul para o rio Guandu, principal fonte de abastecimento dos 8,5 milhões de consumidores da região metropolitana do Rio. Cerca de 70% da água captada no Guandu vem do Paraíba do Sul.
Apesar disso, o secretário do Meio Ambiente e vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, descarta, por hora, um racionamento. "O que estamos pedindo às pessoas é que usem a água racionalmente, deixando de lavar os carros, não usando mangueiras."
Para tentar contornar o problema, também está sendo feita a diminuição da vazão dos reservatórios da bacia, que precisam economizar 30 mil litros (m3) de água por segundo. Ontem, a redução foi de 10 mil litros por segundo.
Os reservatórios do Paraíba do Sul para geração de energia também foram afetados pela estiagem. O mais prejudicado foi o da usina do Funil (da estatal Furnas).
O lago está com 12,78% de sua capacidade, contra 22,89% na mesma época de 2002. A usina está produzindo apenas 64 MW, ante uma capacidade de 216 MW.
O reservatório de Paraibuna (da Cesp, na cidade com o mesmo nome, em São Paulo) está com 24,54% de sua capacidade, contra 33,7% na mesma época de 2002.
Segundo prognósticos do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), os reservatórios podem ficar completamente secos em outubro, caso o período de estiagem que atinge a região se prolongue e o consumo se mantenha nos mesmos patamares.
Mesmo com essa perspectiva, o órgão descarta adotar um plano de racionamento de energia.

Atenção
Apesar de não estar tão crítico quanto o do Rio, o quadro do abastecimento público também não é tranquilo em São Paulo.
Todos os cinco sistemas que abastecem a Grande São Paulo operam com menor volume do que em 2002, e a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) avalia que o estado atual é de atenção.
Embora rejeite a idéia de um racionamento de água a curto prazo, a empresa conta com chuvas próximas às médias históricas em agosto, setembro e outubro para evitar deixar paulistanos e vizinhos sem água no verão.
Desde junho chove abaixo da média nas bacias que formam os reservatórios -em julho, por exemplo, os dois maiores sistemas, Cantareira e Guarapiranga, tiveram chuvas 35,6% e 54% abaixo do esperado, respectivamente.
Segundo o Cptec/Inpe (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as chances de as chuvas serem próximas à média no Sudeste até outubro são de 40% (a probabilidade é de 30% para chuvas abaixo da média e de 30% para acima da média).
O Cantareira é o sistema em pior condição -tem 26,7% de sua capacidade, contra 49,6% em 2002- o que pode afetar não apenas mais da metade da Grande São Paulo mas também 10 milhões de habitantes da região de Campinas (95 km da capital).
Isso porque ele completa o volume de água dos rios Atibaia e Jaguari, que abastecem o interior. Somente no rio Atibaia, em dois pontos de captação de água de Campinas, foi registrada uma queda de 50% na vazão.
O apelo em São Paulo é o mesmo do Rio: fechar as torneiras. O inverno mais quente que o usual, porém, não tem ajudado, e, até outubro, não está prevista nenhuma campanha de conscientização da população porque a Sabesp está sem agência de publicidade.
Já na região do Paraíba do Sul, deverá ser lançada, nos próximos dias, uma campanha incentivando o uso racional da água.
O objetivo é tentar evitar a adoção de atitudes mais drásticas, como o racionamento.


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