São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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ÔNIBUS

Motoristas dizem temer demissões de cobradores; novo presidente foi acusado de participar da "máfia dos transportes" em 2003

Sindicato muda e quer atacar bilhete único

ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo sofreu ontem uma mudança de comando para se tornar mais "agressivo" nas reivindicações da categoria, algo que poderá trazer dor de cabeça para a administração Marta Suplicy (PT) a menos de dois meses das eleições.
O bilhete único, que permite deslocamentos livres por duas horas pagando R$ 1,70, será um dos alvos dos condutores, sob a alegação de que deverá trazer a demissão de cobradores.
Eleito para a presidência da entidade em novembro de 2003, para um mandato até 2008, Luiz Gonçalves, que é filiado ao PT, foi retirado do cargo pela diretoria e substituído por Isao Hosogi, conhecido como Jorginho, um dos melhores amigos de Edivaldo Santiago desde os anos 70.
Santiago, polêmico ex-presidente do sindicato que adotou uma estratégia radical de paralisações durante a gestão Luiza Erundina e nos primeiros dois anos do governo Marta, ficou preso ao lado de Hosogi e de outros 17 sindicalistas no ano passado sob a acusação de liderar um esquema de organização de greves, que ficou conhecido como a máfia dos transportes. Eles conseguiram na Justiça a possibilidade de responder ao processo em liberdade e se dizem vítimas de perseguição.
Hosogi nega que tenha havido um "golpe" na mudança e diz que Santiago, embora esteja ciente, não teve interferência. O estatuto do sindicato, afirma ele, prevê a possibilidade de remanejamento de funções entre os diretores -e Gonçalves foi deslocado para a Secretaria de Patrimônio.
A saída dele da presidência foi proposta numa reunião na última terça-feira com os 12 integrantes da executiva -5 dos quais também estiveram presos com Santiago. Anteontem à noite, a decisão foi concretizada numa plenária com 50 diretores de garagem.
Gonçalves, que não organizou nenhuma greve geral na cidade de São Paulo desde que assumiu, não se opôs à decisão. "Foi feito um balanço do meu mandato. Os problemas apontados pela categoria foram os meus métodos de condução. Eu optei por ter uma atuação mais institucional, priorizando a negociação, e não a ação. A diretoria achou que precisava mudar, que precisaria ser mais agressiva. Em virtude de eu ser filiado ao PT, acharam que eu não faria uma luta assim", afirmou ele, que será representante da entidade nas próximas discussões da reforma sindical -motivo que tem sido alardeado pelos condutores como determinante para essa troca de comando.
"Não significa que agora vai haver uma greve atrás da outra. Mas poderemos ter uma radicalização, não ficar tão parado como nos últimos meses. Eu tenho essa característica de ser mais sossegado. O Jorginho é de ação, ele não tem essa minha paciência, tem um pavio mais curto", completou.
Os sindicalistas negam a relação da mudança com as eleições municipais, embora alguns, como Gonçalves, admitam que haja uma predisposição da maioria de apoiar José Serra (PSDB), "até pelos ranços criados com a Marta nos últimos tempos".
Oficialmente, porém, a chapa que comanda a entidade decidiu formalizar apoio a três candidatos a vereador: Jucelino Gabela (PSDB), ligado à Uninove (universidade), Eunice Cabral (PDT), do sindicato das costureiras, e um sargento da PM militante do PV.


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