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SANEAMENTO
Companhias estaduais e empresas privadas consideram o anteprojeto que regula o setor "extremamente centralizador"
Lobby combate projeto de serviços de água
GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO
O anteprojeto de regulamentação do saneamento proposto pelo
governo federal amplia os poderes da União no setor e dá poderes
aos prefeitos para intervir nos
contratos com as companhias estaduais de saneamento sem a
aprovação das Câmaras Municipais e sem o pagamento prévio de
indenização dos investimentos já
efetuados.
Esses dois pontos são a base do
lobby que a maioria dos governos
estaduais faz contra o anteprojeto
mesmo antes de ele chegar ao
Congresso. A proposta ainda está
em fase de consulta pública. Hoje
a grande maioria dos serviços de
água está nas mãos de companhias estaduais, que temem ser
inviabilizadas pelas novas regras.
Essas companhias não são as
únicas a tecer críticas. A Abcon
(Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços
Públicos de Água e Esgoto), que
reúne as 18 maiores empresas privadas do setor, considera o anteprojeto "extremamente centralizador". Para o presidente da entidade, Fernando Albernaz, ele
"suscita conflitos extremos de interesse entre Estados, municípios
e a própria União".
Essa é a também a opinião da
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
(Abes). "O projeto elenca uma série de medidas que fortalecem o
poder do governo federal", diz o
presidente da entidade, Antônio
César da Costa e Silva.
De sete instituições ouvidas pela
Folha, duas consideraram o projeto bem resolvido como marco
regulatório: a Associação Nacional dos Serviços Municipais de
Saneamento (Assemae) e a Federação Nacional dos Urbanitários
(FNU), filiada à CUT (Central
Única dos Trabalhadores), que
querem proibir a concessão do
serviço para a iniciativa privada.
Todas as instituições defendem
a elaboração de uma regulação
para o saneamento, que ficou sem
rumo desde que o BNH (Banco
Nacional de Habitação), que controlava o setor, foi extinto, em
1986. A dificuldade é que, diferentemente do setor elétrico, cujas
concessão é federal, o saneamento é uma concessão municipal.
Apesar de deterem a concessão,
os municípios tinham pouco poder durante o regime militar e a
maioria teve que passar compulsoriamente o serviço para as companhias estaduais. Com a extinção do BNH, cada município fez o
que quis, continuando a dar a
concessão às companhias, privatizando o serviço ou tomando para si a responsabilidade.
Hoje, 71% dos serviços de água
são estaduais, 28% são municipais e 1% é privado. Nos de esgoto, 84,5% são municipais, 14,5%
são estaduais e 1% é privado.
Como o governo federal não
tem poder de concessão, ele institui no anteprojeto que só receberá
recursos federais ou financiamentos quem aderir às condições propostas. E essas condições colocam
o Ministério das Cidades como o
órgão central de coordenação do
saneamento. "É o engessamento
do setor", diz o presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Saneamento, Frederico
Antunes, do Rio Grande do Sul.
Os municípios continuarão a ter
o poder de decidir quem fornecerá água e tratará o esgoto. Mas, se
optarem por parcerias dentro do
setor público, com outros municípios ou com o Estado (as companhias estaduais), terão de firmar o chamado "contrato de programa", que não existe atualmente e cuja criação está prevista em
outro projeto que está no Congresso, o de consórcios públicos.
O contrato de programa prevê a
possibilidade de o município "intervir" para "garantir a continuidade" dos serviços. "O anteprojeto praticamente destrói o modelo
atual sem colocar nada no lugar",
diz Karla Bertocco, chefe de Gabinete da Presidência da Sabesp,
empresa de saneamento de São
Paulo. "A Sabesp assina um contrato de 30 anos com um município. Aí muda o prefeito, ele decide
que não quer mais a empresa e
pronto. Cria uma situação de instabilidade, ninguém vai investir."
"O que as empresas estaduais
não querem dizer é que hoje as
decisões são unilaterais. Apesar
de a concessão ser municipal,
quem define a quantidade de
água que vai para cada município
é a Sabesp. Quem define tarifa é a
Sabesp. Os municípios não participam", diz o presidente da Assemae, Silvano Silvério da Costa.
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