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Governo queria um culpado, diz ex-presidente da Infraero
José Carlos Pereira, demitido da estatal, afirmou que prestou um serviço ao país
O brigadeiro afirmou que não aceitou se demitir do cargo, como queria o ministro Nelson Jobim (Defesa); ele não se disse magoado
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Demitido anteontem da presidência da Infraero (estatal
responsável pelos aeroportos),
o brigadeiro José Carlos Pereira disse que, se o governo precisava de um "culpado" pela crise
aérea, então sua saída do cargo
é um "serviço ao país". Ele afirmou, no entanto, que não
está magoado.
O brigadeiro disse que não
aceitou se demitir do cargo, como queria o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A sua saída será formalizada
em reunião do Conselho de Administração da Infraero, marcado para amanhã à tarde.
Só então poderá assumir Sérgio Gaudenzi, ex-deputado e
atual presidente da Agência Espacial Brasileira.
"Sou "imagoável'", disse
J.Carlos, como o ex-presidente
da Infraero é conhecido, sobre
sua demissão após dez meses
de crise nos aeroportos. "Se o
governo precisava encontrar
um culpado pela situação, então estou prestando um serviço
ao país", afirmou.
Na última sexta-feira, ele se
reuniu com Jobim e com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, na base aérea de Brasília para tratar da reforma da
pista do aeroporto de Cumbica
(Guarulhos). Reforçou seu plano de reforma em três etapas,
incluindo o recapeamento
completo, e depois foi chamado
à parte pelo ministro e comunicado de sua demissão.
Jobim, segundo o brigadeiro,
decidiu pela realização da reforma, mas disse a ele que a decisão só será tomada ao voltar
de viagem a Manaus.
J.Carlos havia dito em entrevista à Folha que considerava a
pista "não confiável" -o aeroporto de Cumbica havia sido
escolhido para acolher a sobrecarga de Congonhas. Ele pressionou para que a obra não fosse postergada.
Desgastado pelo caos crônico nos aeroportos e alvejado
pela controvérsia da segurança
da pista de Congonhas após o
acidente do vôo 3054, J.Carlos
ainda tentou articular sua permanência no cargo.
Sem autonomia
Antes da presidência, J.Carlos foi diretor de Operações na
gestão de Carlos Wilson (PT-PE) na Infraero, sobre a qual
pendem acusações de corrupção e superfaturamento de
obras. O brigadeiro argumenta
nos bastidores que não teve
verdadeira autonomia para trocar a diretoria da estatal.
Sobre planos futuros, J.Carlos foi lacônico. "Só quero ficar
longe do governo e de cargo público", disse.
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