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Inquérito diz que milícia matou 200 no Rio
Sargento e quatro cabos da PM são apontados como mandantes de grupo que assassinou e expulsou traficantes de favelas
Levados sob sigilo até a corregedoria, moradores da favela reconheceram, através de fotografias,
os cinco PMs acusados
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Um sargento e quatro cabos
da Polícia Militar são apontados em inquérito da Draco (Delegacia de Repressão às Ações
do Crime Organizado, da Polícia Civil) como os principais comandantes de uma milícia que,
desde novembro do ano passado, já causou cerca de 200 mortes em muitas das favelas da zona norte do Rio.
O inquérito vem se desenvolvendo em sigilo, porque líderes
comunitários dessas favelas cariocas dominadas pelo grupo
estão sob ameaça de mortes.
Com medo de serem assassinados, todos eles tiveram de deixar suas casas nas comunidades. Vivem, agora, nas casas de
alguns parentes ou também
protegidos por entidades de defesa dos direitos humanos.
A milícia comandada pelos
cinco policiais militares atacou
a favela Kelson's, que fica no
bairro da Penha (zona norte),
na madrugada do dia 5 de novembro. Os traficantes vinculados ao CV (Comando Vermelho) ou foram mortos ou fugiram para a Vila Cruzeiro, também na Penha e controlada pela mesma facção criminosa.
Com a favela dominada, os
integrantes da milícia passaram a cobrar taxa de proteção.
São R$ 10 dos moradores e outros R$ 20 dos comerciantes,
para impedir que os traficantes
voltem a ocupar a área. Os milicianos assumiram também a
venda de gás e a exploração das
ligações clandestinas de TV a
cabo, apelidada de "gatonet"
nas favelas cariocas.
Líderes comunitários
Em dezembro do ano passado, sob a acusação de colaborar
com o tráfico na região, eles expulsaram a presidente da associação de moradores, Iraci Moreira da Silva, da favela Kelson's. Melhor sorte não teve
seu sucessor na presidência da
entidade, o comerciante Jorge
Neto. Em abril deste ano, ele foi
ameaçado de morte e teve de
deixar a comunidade.
Além do inquérito na Draco,
os cinco líderes da milícia também são alvo de investigação
reservada da Corregedoria Geral Unificada da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Levados sob sigilo até a corregedoria, moradores da favela
reconheceram, através de fotografias, os cinco PMs apontados como os chefes das milícias.
São eles um cabo do 22º BPM
(Batalhão de Polícia Militar),
no complexo da Maré (zona
norte); outros três cabos e até
mesmo um sargento do 16º
BPM, em Olaria (zona norte).
Eles não foram afastados do
serviço até agora, mas estão
sendo mantidos sob vigilância.
Os nomes não são divulgados
pelos investigadores.
Expansão
Desde que assumiu a Kelson's, a milícia adotou uma política tida como expansionista
por outros policiais militares
que formaram grupos semelhantes para tomar as favelas
dos traficantes de drogas. Dois
dos cabos, em dezembro passado, chegaram a ser atingidos
em tiroteios contra criminosos
que estariam rondando o local
para planejar um ataque. Mesmo tendo sido baleados, os dois
sobreviveram ao confronto.
Em fevereiro, os mesmos milicianos invadiram a favela Cidade Alta, em Cordovil (zona
norte). Como feito na Kelson's,
eles expulsaram e mataram traficantes e se estabeleceram, cobrando taxas de segurança, de
gás e, claro, do "gatonet".
As 200 mortes contabilizadas são de traficantes mortos a
sangue-frio pela milícia ou em
confrontos, quando das tentativas de recuperação dos pontos de venda de drogas das favelas. Também estão na lista, os
moradores da comunidade que
não aceitaram a invasão e ação
dos milicianos.
A expansão das milícias é um
fenômeno relativamente novo
nos subúrbios e favelas cariocas. Originalmente, elas surgiram na zona oeste, no final da
década de 70. Moradores formavam grupos que impediam o
controle das comunidades por
quadrilhas do tráfico de drogas.
Há cerca de dois anos, as milícias, já formadas por policiais,
passaram a se espalhar pela zona norte, especialmente em favelas de menor porte, por serem mais fáceis de serem controladas rapidamente.
No caso da milícia da Kelson's, os cinco policiais montaram uma tropa com moradores
simpatizantes, traficantes chamados de "arrependidos" e
também ex-assaltantes radicados na comunidade. Trouxeram também soldados novatos
da PM, para integrar a equipe
que atua na favela.
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