São Paulo, quarta-feira, 05 de agosto de 2009

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Jacqueline sonhava ir à Disney desde os 8 anos

Reprodução/Agência O Globo
Jacqueline Ruas, 15, que trocou a festa de debutante pela viagem à Disney, onde começou a passar mal e acabou por morrer na volta

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A menina Jacqueline Ruas, que morreu a bordo do avião que a trazia de volta ao Brasil depois de 15 dias em Orlando, nos Estados Unidos, era "a princesa da família". Superprotegida, ela nunca saía sozinha para ir à casa de amigos ou à escola. Os pais faziam questão de levá-la e buscá-la. O passeio internacional na Disney, disse Jacqueline para a tia Magda da Paz Santos, pouco antes do embarque, seria o primeiro de muitos que viriam -"esse passaporte vai ficar cheio de carimbos", prometeu a garota.
A viagem foi um projeto acalentado por Jacqueline desde o aniversário de oito anos. "Vaidosa, ela tinha esses sonhos de princesas, castelos -tudo dela era cor-de-rosa. Era um fascínio. Jaque sempre dizia que não queria ter festa de debutante; que preferia viajar. E que fazia questão de que fosse para a Disney", lembra o tio Pedro Luiz Birais, supervisor de projetos.
Comprado da operadora de turismo Tia Augusta, 35 anos de atuação em excursões para a Disney, mais de 300 mil viagens realizadas, o pacote "Meus 15 anos em Orlando!" encaixava-se à perfeição nas ambições da menina.
Tinha "paparazzo", balada, cartão de autógrafo e outros "mimos", que somavam aos castelos e às princesas um tratamento à moda de celebridade. "Preços a partir de US$ 2.977 [cerca de R$ 6.000] em quarto quádruplo, com direito a café da manhã", disse a vendedora à reportagem.

Últimos registros
Ontem foi dia de os tios levarem a bagagem da menina morta para a casa em que ela morava com os pais.
Filha única da gerente de vendas Maria Aparecida dos Santos Ruas e do consultor de informática Danilo Elias Ruas Júnior, Jacqueline tinha providenciado lembrancinhas para toda a família. Do passeio pelo Jurassic Park, por exemplo, ela trouxe um dinossauro -era para o primo Bruno.
Os tios também localizaram entre as coisas o diário dela, a máquina fotográfica, o iPod. "As últimas músicas que ela ouviu, o que sentiu, o que viu, muita coisa certamente está lá." Mas os dois parentes não tiveram coragem de ir adiante. "Lacramos tudo, para quando minha irmã decidir que é hora de conhecer os últimos registros da filha", disse Magda. A mãe ainda não conseguiu voltar para a própria casa, em São Caetano (Grande São Paulo). "Tudo lá foi feito para a Jaque."
Jacqueline começou a passar mal na quarta-feira da semana passada. Na ocasião, avisou a família, que ficou monitorando os passos dela por celular.
A última sexta-feira foi especialmente triste para a adolescente. Antevéspera da viagem de volta, o dia estava consagrado às compras. Jacqueline bem que tentou acompanhar a turma, mas não aguentou.
O mal-estar obrigou-a a voltar para o hotel e lá esperar pela volta das amigas -cheias de pacotes. Para a tia, a menina contou como tinha ficado triste com o impedimento.

Olhar materno
Boa aluna, boas notas, estudante de violão, integrante do time de vôlei e animadora de torcida do Colégio Fênix Santa Paula, de São Caetano, Jacqueline era querida na escola -seus colegas estão providenciando uma homenagem na missa de sétimo dia, próximo sábado.
A Tia Augusta emitiu nota em que se manifesta "profundamente consternada com o falecimento da jovem" e afirma ter tomado "todas as providências médicas necessárias durante o período em que esteve presente com a adolescente".
Cauteloso, o tio Pedro Birais preferiu não condenar de antemão a empresa. Perguntou apenas: "Pode ter sido uma fatalidade? Pode. Mas talvez tenha faltado a eles um pouco do olhar materno. Às vezes eu me pergunto se eu colocaria uma criança com pneumonia dentro da atmosfera fria de um avião. E eu sempre respondo: não. Será que eles fariam isso com os próprios filhos? Por que eles fizeram isso com a Jacque?"


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