Punida por atrasos e cancelamentos nos últimos dias, empresa pode recorrer

"Anac sabe o que está fazendo", diz ministro da Defesa; situação dos voos da companhia era mais tranquila ontem

CIRILO JUNIOR
DO RIO

A Gol receberá a maior punição da história recente da aviação brasileira por conta da série de cancelamentos e atrasos de seus voos nos últimos dias, que afetaram milhares de passageiros.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) calcula que o total de multas pelo episódio chegue a R$ 2 milhões. A empresa poderá recorrer.
Para Solange Vieira, diretora-presidente da agência, a multa "não é o melhor mecanismo" de punição das companhias aéreas.
"Temos procurado punir mais com restrições operacionais de voo. Mas o histórico mostra que vai começar a doer no bolso das companhias", afirmou Solange.
Ela admite que o dinheiro das multas às empresas demora a ser recebido. "Muitas multas aplicadas no caos aéreo, no fim de 2006, só estão entrando agora."
Reportagem da Folha publicada em 20 de junho mostrou que desde a criação da Anac, em 2006, só 17,5% das multas aplicadas até 2009 haviam sido recebidas.

SOFTWARE
A Anac diz que suas investigações preliminares confirmam a justificativa dada pela Gol, de que um novo programa de computador usado para a elaboração das escalas de trabalho fez com que os tripulantes chegassem perto do limite da carga horária.
Solange Vieira, porém, defendeu a companhia, que, segundo ela, nunca apresentou problemas de sobrecarga de trabalho, ao contrário do que afirma o sindicato dos pilotos e comissários.
Ela afastou a hipótese de um aumento no número de voos fretados (alugados para agências de viagem, em um pacote que inclui os tripulantes) ter contribuído para a crise. Apesar disso, determinou que a empresa suspenda fretamentos até que a situação esteja normalizada.
Os Ministérios Públicos Federal e Estadual e o Procon de São Paulo notificaram a Gol pedindo explicações sobre os atrasos e cancelamentos de voos, que afetam passageiros desde sexta.
Ontem, até as 22h, 17,5% dos voos da Gol no dia tinham registrado atraso (são contabilizados os superiores a 30 minutos) e 5,7% haviam sido cancelados -número de problemas superior ao da média das empresas, mas abaixo de dias anteriores.

JOBIM
O ministro Nelson Jobim (Defesa) defendeu ontem as medidas tomadas pela Anac.
"[A multa] vai resolver o problema. A Anac sabe o que está fazendo", afirmou.
Questionado se as denúncias e os atrasos registrados não apontavam para o risco de problemas mais graves no setor aéreo do país, o ministro respondeu que "essa síndrome da conspiração e do acidente não existe".