São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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Juiz barra venda de área no Itaim Bibi

Para magistrado, tombamento provisório impede que o terreno seja vendido por Kassab à iniciativa privada

Prefeito queria negociar área nobre em troca da construção de creches; Condephaat não tem prazo para analisar caso

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO

A Justiça suspendeu ontem a lei que autoriza a prefeitura a vender um quarteirão no Itaim Bibi, bairro nobre da zona oeste de São Paulo. Em troca, o comprador construiria 200 creches.
A liminar (decisão provisória) foi concedida pelo juiz Adriano Marcos Laroca, da 8ª Vara da Fazenda Pública, em ação movida pelo vereador Aurélio Miguel (PR).
A lei, proposta pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD), foi aprovada pela Câmara em julho. Outros projetos de igual teor foram aprovados para áreas em locais como Pinheiros, Vila Mariana e Mooca.
A área do Itaim tem uma creche, duas escolas, uma biblioteca, duas unidades de saúde, um teatro e um prédio da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).
O juiz avaliou que a lei poderia causar prejuízo irreversível à cidade, uma vez que há um processo de tombamento do quarteirão em discussão no Condephaat (conselho estadual de preservação do patrimônio histórico).
O juiz diz ainda que a venda foi "autorizada ilegalmente pela lei municipal", em "flagrante e potencial dano ao patrimônio cultural".
O mercado avalia a área em R$ 200 milhões a R$ 300 milhões, mas não haverá dinheiro no negócio. Kassab quer que a empresa vencedora construa 200 creches para 32 mil crianças. Em junho, a fila tinha 147.027 crianças.
Outros problemas judiciais poderão surgir, já que o Ministério Público Estadual abriu inquérito para investigar todo o pacote de Kassab.
Para o presidente da Associação Preserva SP, Jorge Eduardo Rubies, a iniciativa de Kassab era "ilegal e contrária aos interesses da cidade". A decisão judicial, afirma, reforça o movimento.
A prefeitura informou que não havia sido notificada da decisão e que o secretário Marcos Cintra (Desenvolvimento Econômico e Trabalho) só falaria após conhecê-la. Em entrevista anterior, ele disse que é obrigação do administrador dar o melhor uso possível aos ativos públicos.
O principal argumento da prefeitura era que a iniciativa privada tem mais agilidade para localizar áreas, comprá-las e construir as creches.
Com a decisão judicial, não há mais prazo para o negócio se realizar. O Condephaat é ligado ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), hoje adversário político do prefeito.
O pedido de tombamento do local, elaborado pela arquiteta Vanessa Kraml (contratada pelos moradores), afirma, entre outros exemplos, que o quarteirão tem remanescentes da antiga casa da família Couto Magalhães, dona da chácara Itahy. A propriedade, loteada, deu origem ao bairro do Itaim.
Já a biblioteca Anne Frank foi a primeira filial da Biblioteca Infantil Municipal, instalada no local em 1945 após palpites de Monteiro Lobato.

Colaboraram EVANDRO SPINELLI e VANESSA CORREA


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