|
Próximo Texto | Índice
TORTURA
Com base no parecer do IML, secretário diz que é impossível que comerciante chinês tenha se autolesionado, como alegam agentes
Preso morre após suposto espancamento
FABIANA CIMIERI
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O chinês naturalizado brasileiro
Chan Kim Chang, 46, morreu ontem em consequência de suposto
espancamento que teria sofrido
no presídio estadual Ary Franco.
Laudo do Instituto Médico Legal,
divulgado ontem pela Secretaria
Estadual de Direitos Humanos do
Rio, indica que o prisioneiro foi
espancado. Chang morreu às
20h40, após passar oito dias hospitalizado, em coma, com traumatismo craniano.
Para o secretário estadual de Direitos Humanos do Rio, João Luiz
Duboc Pinaud, é impossível que
Chang tenha se autolesionado a
ponto de entrar em coma, conforme a versão de agentes penitenciários -a de que ele teve um
"surto psicótico" e bateu com a
própria cabeça num arquivo de
metal de uma sala do presídio.
Chang deu entrada no hospital
Salgado Filho, na quarta-feira da
semana passada. Dois dias antes,
havia sido preso pela PF no aeroporto Tom Jobim, ao tentar embarcar com US$ 30 mil sem declará-los à Receita.
O laudo, assinado pelos peritos
Miguel Ângelo Ribeiro e Mônica
Martins Vasconcellos, aponta lesões no corpo todo, menos no tórax e no abdômen. Fotos feitas pela equipe da Secretaria Estadual
de Direitos Humanos também
mostra hematomas no corpo, exceto no tórax e no abdômen.
Para Pinaud, o exame das lesões
indica que Chang ficou em posição fetal (com os joelhos dobrados em direção ao peito) quando
apanhou. Isso, em sua opinião, é
uma posição de defesa. "Chang é
um exemplo de um ser humano
cruelmente transformado em coisa, porque nem com um animal se
pode fazer isso", disse Pinaud.
O exame foi solicitado na última
segunda-feira pelo procurador da
República no Rio Rogério Nascimento, depois que o caso foi levado ao Ministério Público Federal.
O procurador pediu à PF a lista
dos policiais que fizeram a escolta
do comerciante até a prisão.
Pinaud mostrou fotos de Chang
tiradas por um agente penitenciário. Com uma mancha de sangue
na blusa, ele aparece de pé, na sala
de triagem do Ary Franco, de
olhos fechados e apoiado nas grades. "Ele apresentava um traumatismo grave. Não se deve nem mexer, quanto mais pôr de pé uma
pessoa assim", disse.
O secretário criticou a prisão do
comerciante pela PF. "Ele poderia
ter declarado o dinheiro ali e depois responder a processo. A prisão foi um ato arbitrário", disse.
O advogado Michel Assef, que
defende quatro agentes penitenciários, disse ter como testemunha um policial militar que viu
Chang chegar ao presídio com os
pés amarrados. Assef quer provar
a versão de que o comerciante teria chegado ferido ao presídio.
Seus clientes são os agentes Carlos Luís Correia, Carlos Alberto
Souza Rodrigues, Ricardo Vagner
Alves e Ricardo Pires Valério, os
mesmos que, anteontem, estiveram no IML à procura de informações. Para Pinaud, eles estiveram lá para pedir o endereço dos
responsáveis pelo laudo do chinês. O secretário não descartou a
possibilidade de os agentes quererem intimidar os médicos.
Assef disse que foram à procura
de alguém que pudesse testemunhar a favor deles, dizendo que
Chang também "surtara" no IML.
Próximo Texto: Secretário critica divulgação de resultado Índice
|