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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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LIXO

Cooperativas temem concorrência de empresas que recolherão material reciclável; prefeitura diz que catadores não serão prejudicados

Centrais de coleta reagem a novo sistema

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O início, na próxima semana, da coleta seletiva porta a porta em 45 dos 96 distritos de São Paulo, sob responsabilidade das empresas de lixo, pode significar o fim das cooperativas de catadores de material reciclável que atuam em diversos bairros -e servem de sustento para mais de 20 mil pessoas-, além de colocar em risco a sobrevivência das cinco centrais de triagem implantadas pela própria prefeitura, por meio do projeto Coleta Seletiva Solidária, onde trabalham cem ex-catadores.
A avaliação é de dirigentes das centrais e da coordenadora-geral do Fórum Lixo e Cidadania da Cidade de São Paulo, Elisabeth Grimberg, que ajudou a implantar a Coleta Seletiva Solidária.
A conclusão pode soar estranha, afinal, o objetivo declarado da Secretaria de Serviços e Obras do município ao entregar a coleta seletiva nas mãos das empresas é justamente alavancar a quantidade de material que chega às centrais de triagem (que operam com só 15% da capacidade máxima).

Qualidade do material
A regra é que as centrais recebam tudo o que for coletado. A expectativa é que sejam recolhidas 600 toneladas de lixo reciclável por dia; hoje as centrais não recebem, juntas, mais do que 1.500 toneladas por mês.
Os problemas desse modelo são maiores, porém, que os benefícios por ele prometidos, afirmam Grimberg e os ex-catadores.
Entre os problemas estão a qualidade duvidosa do material recolhido pelas empresas -que não farão campanha sobre como separar o lixo e usarão caminhões compactadores-; o possível desvio do "filé mignon" da reciclagem, como latas de alumínio e papelão (o que já ocorre em cidades que adotaram modelo semelhante); e a competição das empresas com os catadores que atuam informalmente nos bairros -o que vai contra a proposta inicial da prefeitura de inserir essas pessoas no projeto oficial, já que teriam seu material vendido em conjunto nas centrais de triagem.
Para os críticos, a administração quer "mostrar serviço" e disseminar a coleta seletiva rapidamente, sem preocupação com a sustentabilidade da ampliação repentina nem com o envolvimento dos catadores.

Teste duro
"Será um teste duro de passar para as centrais, que ainda não têm estrutura. Somos poucos, e as esteiras ainda estão sendo instaladas", diz Daniel Bazílio da Silva, presidente da Cooperativa Tietê, que opera a central de triagem no Tatuapé (zona leste). "Por que não pegam o dinheiro que vão gastar pagando às empresas para fazer o trabalho e investem nas centrais para que elas possam fazer e ampliar a coleta?", pergunta.
Para fazer valer a cláusula que obriga as empresas que recolhem lixo na cidade a executar a coleta seletiva, a prefeitura vai gastar, até abril de 2004, R$ 612 mil -aditados ao contrato original. O dinheiro é suficiente para implantar uma nova central de triagem.

Resposta
"Entendo as preocupações e acho até que elas procedem, mas as centrais também reclamavam que não tinham material para vender -o que não vai ocorrer mais", afirma Rubens Xavier Martins, coordenador da Coleta Seletiva Solidária. Ele diz que não esperava a reação negativa à idéia.
Sobre a qualidade do material, o coordenador do projeto da prefeitura afirma que os caminhões não vão compactar os recicláveis e que, no início, as pessoas poderão até mandar material sujo, mas isso deve melhorar com o tempo.
O desvio de material também pode ocorrer, admite, uma vez que o pagamento das empresas não será por tonelada, mas por equipe de trabalho. "Temos de ficar de olho nisso", afirma.
Sobre a concorrência com os grupos de catadores, Martins diz acreditar que "haverá lixo reciclável para todos". "O aumento de material nas centrais de triagem vai também possibilitar o aumento do número de cooperados de 20 para 100 em cada local."


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