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TRANSPORTE
Proposta fracassou porque não é possível proibir o acesso de homens; deputados paulistas querem ressuscitar a idéia
Assédio fez SP testar vagões para mulheres
DA REPORTAGEM LOCAL
O assédio sexual já levou São
Paulo a testar vagões de trens preferenciais para mulheres na década de 90, mas a proposta não deu
certo. O espaço acabou invadido
pelos homens por conta da superlotação nas demais composições.
Os vagões femininos foram implantados em 1995 pela CPTM
(Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos) depois de protestos do Clube de Mães de Vila
Falchi, de Mauá, no ABC paulista.
Uma mulher ligada à entidade
foi vítima de um homem que,
dentro do trem, tirou seu pênis
para fora da roupa e ejaculou em
cima dela. O fato foi motivo de revolta das usuárias e fez a CPTM
tentar a separação entre os sexos.
A empresa colocava cartazes e
adesivos, mas os vagões não eram
exclusivos e sim preferenciais para mulheres, idosos, crianças e deficientes físicos. A CPTM alegava
que não poderia vetar a entrada
de outros homens em razão do artigo 5º da Constituição, que estabelece a igualdade de direitos.
A idéia foi ampliada às diversas
linhas da rede sobre trilhos até
1997, mas acabou desativada. Os
casais, que não querem se separar, também foram um obstáculo.
Uma cena semelhante à vivida
pela mulher do Clube de Mães de
Vila Falchi levou um deputado estadual paulista a preparar um
projeto de lei sobre esse tema.
José Dilson (PDT) estava em seu
gabinete em uma segunda-feira
de maio de 2005 quando foi abordado por uma mãe que, desesperada, estava com a filha. Um rapaz
tinha acabado de ejacular na roupa da garota dentro do Metrô.
Dilson tenta ressuscitar a idéia
de vagões específicos para mulheres na rede sobre trilhos. Seu colega de partido Geraldo Vinholi
tem proposta parecida, que
abrange também os ônibus.
A separação entre homens e
mulheres no transporte coletivo é
alvo de algumas experiências internacionais, a principal delas no
metrô de Tóquio, no Japão.
A Keio Line, que adotou a experiência em 2001 para combater as
situações de assédio sexual, cita
pesquisas segundo as quais 82%
das mulheres e 56% dos homens
eram favoráveis à medida.
No Cairo, capital do Egito, também houve a iniciativa, mas estimulada por questões religiosas,
diz Cláudio de Senna Frederico,
que foi secretário dos Transportes
Metropolitanos da gestão Covas/
Alckmin e integrou um grupo de
especialistas convidados pela
UITP (associação internacional
de transportes públicos) para traçar as diretrizes do setor em 2020.
O México é citado por Frederico
entre os lugares que tiveram experiências desse tipo. "É uma queixa
universal das mulheres", diz.
"São países com cultura muito
machista. O brasileiro está acostumado a se tocar, e as mulheres
lançam mão de estratégias de defesa. Lá fora isso é inadmissível",
afirma Maria Olívia Martin Santana, chefe do setor do Metrô que
cuida do relacionamento com os
clientes -e que é contra a existência de vagões femininos.
"A separação não é a solução
que mais me agrada enquanto
mulher e cidadã. É algo triste.
Mas, se não houver alternativa, é
preciso uma forma de preservar a
integridade da pessoa", avalia Silvana Zuccolotto, presidente da
comissão de recursos humanos
da ANTP (Associação Nacional
de Transportes Públicos).
Zuccolotto defende campanhas
para intimidar os homens e orientar as mulheres a denunciar, além
de treinamento para os agentes de
segurança que mantêm contato
com as passageiras. "A mulher
não sabe como vai ser recebida do
outro lado, por causa do machismo. Ela precisa se sentir confortável", diz.
(ALENCAR IZIDORO)
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