São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2005

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TRANSPORTE

Proposta fracassou porque não é possível proibir o acesso de homens; deputados paulistas querem ressuscitar a idéia

Assédio fez SP testar vagões para mulheres

DA REPORTAGEM LOCAL

O assédio sexual já levou São Paulo a testar vagões de trens preferenciais para mulheres na década de 90, mas a proposta não deu certo. O espaço acabou invadido pelos homens por conta da superlotação nas demais composições.
Os vagões femininos foram implantados em 1995 pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) depois de protestos do Clube de Mães de Vila Falchi, de Mauá, no ABC paulista.
Uma mulher ligada à entidade foi vítima de um homem que, dentro do trem, tirou seu pênis para fora da roupa e ejaculou em cima dela. O fato foi motivo de revolta das usuárias e fez a CPTM tentar a separação entre os sexos.
A empresa colocava cartazes e adesivos, mas os vagões não eram exclusivos e sim preferenciais para mulheres, idosos, crianças e deficientes físicos. A CPTM alegava que não poderia vetar a entrada de outros homens em razão do artigo 5º da Constituição, que estabelece a igualdade de direitos.
A idéia foi ampliada às diversas linhas da rede sobre trilhos até 1997, mas acabou desativada. Os casais, que não querem se separar, também foram um obstáculo.
Uma cena semelhante à vivida pela mulher do Clube de Mães de Vila Falchi levou um deputado estadual paulista a preparar um projeto de lei sobre esse tema.
José Dilson (PDT) estava em seu gabinete em uma segunda-feira de maio de 2005 quando foi abordado por uma mãe que, desesperada, estava com a filha. Um rapaz tinha acabado de ejacular na roupa da garota dentro do Metrô.
Dilson tenta ressuscitar a idéia de vagões específicos para mulheres na rede sobre trilhos. Seu colega de partido Geraldo Vinholi tem proposta parecida, que abrange também os ônibus.
A separação entre homens e mulheres no transporte coletivo é alvo de algumas experiências internacionais, a principal delas no metrô de Tóquio, no Japão.
A Keio Line, que adotou a experiência em 2001 para combater as situações de assédio sexual, cita pesquisas segundo as quais 82% das mulheres e 56% dos homens eram favoráveis à medida.
No Cairo, capital do Egito, também houve a iniciativa, mas estimulada por questões religiosas, diz Cláudio de Senna Frederico, que foi secretário dos Transportes Metropolitanos da gestão Covas/ Alckmin e integrou um grupo de especialistas convidados pela UITP (associação internacional de transportes públicos) para traçar as diretrizes do setor em 2020.
O México é citado por Frederico entre os lugares que tiveram experiências desse tipo. "É uma queixa universal das mulheres", diz.
"São países com cultura muito machista. O brasileiro está acostumado a se tocar, e as mulheres lançam mão de estratégias de defesa. Lá fora isso é inadmissível", afirma Maria Olívia Martin Santana, chefe do setor do Metrô que cuida do relacionamento com os clientes -e que é contra a existência de vagões femininos.
"A separação não é a solução que mais me agrada enquanto mulher e cidadã. É algo triste. Mas, se não houver alternativa, é preciso uma forma de preservar a integridade da pessoa", avalia Silvana Zuccolotto, presidente da comissão de recursos humanos da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
Zuccolotto defende campanhas para intimidar os homens e orientar as mulheres a denunciar, além de treinamento para os agentes de segurança que mantêm contato com as passageiras. "A mulher não sabe como vai ser recebida do outro lado, por causa do machismo. Ela precisa se sentir confortável", diz. (ALENCAR IZIDORO)


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