São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Alerta de Airbus difere do de simulador

No treino para pilotos, aviso fica ativo até que manetes estejam na posição correta; no avião da TAM, ele pode parar antes

No acidente do vôo da TAM, que matou 199 pessoas, um dos manetes foi deixado em aceleração, o que impediu o avião de frear devidamente

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Investigadores da Aeronáutica constataram diferenças entre o simulador de treinamento de pilotos e a cabine do Airbus-A320 da TAM no que diz respeito à apresentação do aviso sonoro "retard" -que alerta o piloto a colocar as alavancas das turbinas em "idle" (ponto morto ou baixa aceleração).
No acidente do vôo 3054 da TAM, um dos manetes foi deixado em aceleração, o que impediu o avião de frear devidamente. O Airbus ultrapassou a pista e colidiu com um prédio, deixando 199 mortos.
A informação sobre a divergência foi dada a deputados da CPI do Apagão Aéreo pelo coronel Fernando Camargo, chefe da investigação no Cenipa (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Segundo ele, há "diferenças" no modo como o "retard" aparece no simulador e na cabine de um A320. Além de simular as condições do acidente no simulador, os investigadores observaram a operação na cabine de um vôo regular da TAM.
Segundo os deputados, no simulador o "retard" continua avisando o piloto caso os manetes não estejam em ponto morto. Mas, na cabine do A320, o aviso pode parar mesmo com as alavancas na posição incorreta.
No caso do vôo 3054, há o registro na caixa-preta de três avisos de "retard" -dois deles emitidos pelo computador de bordo, antes de o piloto mexer nos manetes, e um depois da operação, feito por um sensor.
No acidente de outro A320 em Taiwan, em condições similares, os investigadores chegaram a questionar a Airbus sobre o motivo de parada do aviso "retard" sem que ambas as alavancas estivessem corretamente desaceleradas.
Foi daí que surgiu a proposta de um alerta novo para esse tipo de falha, que a TAM anunciou que irá instalar em sua frota a partir do próximo mês.
No vôo 3054, a turbina esquerda foi desacelerada corretamente, mas a direita permaneceu em aceleração. Isso desativou a frenagem automática e a turbina acelerou. Em conseqüência, os spoilers não abriram e a frenagem manual nas rodas não deteve o avião.
"A diferença constatada no simulador ajudou a suscitar dúvidas sobre o funcionamento do retard", disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB).
A TAM foi procurada, mas não comentou a questão por se tratar de investigação sigilosa. A Airbus não respondeu.

Sem falha humana
Após ouvirem os 22 minutos que faltavam do áudio da cabine do Airbus, o relator Marco Maia (PT-RS) e o vice-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da CPI do Apagão da Câmara, concluíram que não há indícios de falha humana no acidente com o avião da TAM.
Os deputados estiveram no Cenipa para ouvir a gravação.


Colaborou a Folha Online


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