São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Meu filho teve medo, diz mãe de promotor

Eurydice Schoedl pede que família de Diego Modanez, morto em luau, perdoe seu filho e diz que ele agiu em legítima defesa

Professora critica imprensa, procurador-geral de SP e declarações de Felipe Cunha de Souza, baleado na época, e da família de Diego

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Eurydice Schoedl, para quem o filho, Thales, agiu em legítima defesa


DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mãe do promotor Thales Schoedl, que alega legítima defesa para ter matado o atleta Diego Modanez na Riviera de São Lourenço, em 2004, a professora Eurydice Schoedl, 53, segura firme a mão do repórter. "Faça essa matéria com carinho. Já disseram muitas coisas erradas a respeito do Thales."
Seus olhos estão marejados. Ela havia acabado de dar a entrevista à Folha, na qual criticou a imprensa, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, e declarações de familiares de Diego e de Felipe Siqueira Cunha de Souza, que também foi baleado na ocasião, mas sobreviveu.
Eurydice, que também é mãe de um médico e de uma psicóloga, diz que Felipe "deve ter uma culpa muito grande dentro dele, de saber que foi ele que começou a briga e que o amigo poderia estar vivo".

 

FOLHA - Como avalia a repercussão do caso?
EURYDICE SCHOEDL
- O Thales agiu em legítima defesa. Vejo coisas distorcidas na imprensa, informações que não correspondem ao que está nos autos. Nada vai trazer o filho [Diego] da dona Sônia de volta. Mas existe Justiça. No TJ [no Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde promotores são julgados] também existe Justiça, não é só no júri popular (leia ao lado). Não concordo com a postura do procurador-geral [Rodrigo Pinho].

FOLHA - Qual sua crítica ao procurador?
EURYDICE
- O procurador-geral disse claramente que não quer meu filho lá [no Ministério Público]. Ele não poderia ter ido a esse órgão [o Conselho Nacional do Ministério Público, que suspendeu temporariamente decisão de procuradores de São Paulo para efetivar Thales no cargo], deveria ter acatado a decisão estadual. A sociedade, a mídia, o doutor Pinho, todos pré-condenaram o Thales, desde o começo.

FOLHA - Como seu filho tem lidado com isso?
EURYDICE
- Ele tem tido uma força muito grande. Fez pós-graduação [de direito penal no Mackenzie, iniciada após o crime]. Ontem, ficou estudando o caso dele, vendo se o conselho poderia ter tomado essa decisão. Ele sabe que é inocente, que guardou a arma duas vezes, que se defendeu. Ele fica triste. Na televisão, o pai do Diego, na emoção, falou muitas coisas usando as palavras erradas.

FOLHA - Como assim?
EURYDICE
- Peço a Deus que ilumine o Diego onde ele estiver, para que tire essa revolta do coração do pai dele, que isso não faz bem a ninguém. Quem começou tudo não foi o Thales, foi o Felipe, que está com uma bala alojada no fígado, deve ser muito difícil. Mas as acusações... Tem palavras erradas. Existe alguma coisa muito forte dentro do Wilson [pai de Felipe] para ele querer incriminar tanto o Thales. Ele [Felipe] deve ter uma culpa muito grande dentro dele, de saber que foi ele que começou a briga e que o amigo poderia estar vivo.

FOLHA - Thales errou ao ir armado ao luau em Bertioga?
EURYDICE
- De jeito nenhum. Meu filho tem porte de arma. Ele foi ameaçado depois de um júri em Diadema e, por isso, fez o curso, andava com arma. O porte de arma não restringe o lugar, se é na praia... Ele avisou aos homens que era promotor, deu tiro de advertência. Ele correu, fez de tudo.

FOLHA - Era preciso tantos tiros [12, dos quais 7 acertaram as vítimas]?
EURYDICE
- Na hora, a pessoa não sabe como reagir. O Thales estava com medo.

FOLHA - A senhora já esteve frente a frente com a mãe de Diego?
EURYDICE
- Não.

FOLHA - Se estivesse, o que diria?
EURYDICE
- Diria que a gente tem de perdoar. Peço perdão e peço que ela perdoe meu filho. Que não haja mágoa, vingança.

FOLHA - Como o crime afetou sua vida?
EURYDICE
- Mudou tudo. Chego à escola [da rede municipal], vejo o jornal para me preparar para os comentários. Outro dia, um aluno disse que me viu em um programa de "descarrego" da Record. Fomos massacrados na mídia.

FOLHA - Seu filho terá condições de ser promotor apesar desse caso?
EURYDICE
- Mas é claro! Ele tem muita vocação. Meu filho fez 33 júris em um ano e meio! É muita coisa. Era enviado para júris perigosos, em Itapevi, Diadema. Era um promotor muito envolvido. Se ele for inocentado, qual o problema? Tem o mesmo direito que todos.

FOLHA - A senhora teme a possibilidade de júri popular?
EURYDICE
- No júri popular, a emoção das pessoas está em jogo. Essa família [de Diego] pode emocionar, ir vestida com camisetas. Mas acho que, no caso de júri popular em Bertioga, as pessoas de lá estão cansadas dessas pessoas que vêm do interior e vão lá fazer confusão.


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