|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Meu filho teve medo, diz mãe de promotor
Eurydice Schoedl pede que família de Diego Modanez, morto em luau, perdoe seu filho e diz que ele agiu em legítima defesa
Professora critica imprensa,
procurador-geral de SP e
declarações de Felipe Cunha
de Souza, baleado na época,
e da família de Diego
Raimundo Paccó/Folha Imagem
|
Eurydice Schoedl, para quem o filho, Thales, agiu em legítima defesa |
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mãe do promotor Thales
Schoedl, que alega legítima defesa para ter matado o atleta
Diego Modanez na Riviera de
São Lourenço, em 2004, a professora Eurydice Schoedl, 53,
segura firme a mão do repórter.
"Faça essa matéria com carinho. Já disseram muitas coisas
erradas a respeito do Thales."
Seus olhos estão marejados.
Ela havia acabado de dar a entrevista à Folha, na qual criticou a imprensa, o procurador-geral de Justiça de São Paulo,
Rodrigo Pinho, e declarações
de familiares de Diego e de Felipe Siqueira Cunha de Souza,
que também foi baleado na
ocasião, mas sobreviveu.
Eurydice, que também é mãe
de um médico e de uma psicóloga, diz que Felipe "deve ter
uma culpa muito grande dentro dele, de saber que foi ele
que começou a briga e que o
amigo poderia estar vivo".
FOLHA - Como avalia a repercussão
do caso?
EURYDICE SCHOEDL - O Thales
agiu em legítima defesa. Vejo
coisas distorcidas na imprensa,
informações que não correspondem ao que está nos autos.
Nada vai trazer o filho [Diego]
da dona Sônia de volta. Mas
existe Justiça. No TJ [no Órgão
Especial do Tribunal de Justiça
de São Paulo, onde promotores
são julgados] também existe
Justiça, não é só no júri popular
(leia ao lado). Não concordo
com a postura do procurador-geral [Rodrigo Pinho].
FOLHA - Qual sua crítica ao procurador?
EURYDICE - O procurador-geral
disse claramente que não quer
meu filho lá [no Ministério Público]. Ele não poderia ter ido a
esse órgão [o Conselho Nacional do Ministério Público, que
suspendeu temporariamente
decisão de procuradores de São
Paulo para efetivar Thales no
cargo], deveria ter acatado a decisão estadual. A sociedade, a
mídia, o doutor Pinho, todos
pré-condenaram o Thales, desde o começo.
FOLHA - Como seu filho tem lidado
com isso?
EURYDICE - Ele tem tido uma
força muito grande. Fez pós-graduação [de direito penal no
Mackenzie, iniciada após o crime]. Ontem, ficou estudando o
caso dele, vendo se o conselho
poderia ter tomado essa decisão. Ele sabe que é inocente,
que guardou a arma duas vezes,
que se defendeu. Ele fica triste.
Na televisão, o pai do Diego, na
emoção, falou muitas coisas
usando as palavras erradas.
FOLHA - Como assim?
EURYDICE - Peço a Deus que ilumine o Diego onde ele estiver,
para que tire essa revolta do coração do pai dele, que isso não
faz bem a ninguém. Quem começou tudo não foi o Thales, foi
o Felipe, que está com uma bala
alojada no fígado, deve ser muito difícil. Mas as acusações...
Tem palavras erradas. Existe
alguma coisa muito forte dentro do Wilson [pai de Felipe]
para ele querer incriminar tanto o Thales. Ele [Felipe] deve
ter uma culpa muito grande
dentro dele, de saber que foi ele
que começou a briga e que o
amigo poderia estar vivo.
FOLHA - Thales errou ao ir armado
ao luau em Bertioga?
EURYDICE - De jeito nenhum.
Meu filho tem porte de arma.
Ele foi ameaçado depois de um
júri em Diadema e, por isso, fez
o curso, andava com arma. O
porte de arma não restringe o
lugar, se é na praia... Ele avisou
aos homens que era promotor,
deu tiro de advertência. Ele
correu, fez de tudo.
FOLHA - Era preciso tantos tiros
[12, dos quais 7 acertaram as vítimas]?
EURYDICE - Na hora, a pessoa
não sabe como reagir. O Thales
estava com medo.
FOLHA - A senhora já esteve frente
a frente com a mãe de Diego?
EURYDICE - Não.
FOLHA - Se estivesse, o que diria?
EURYDICE - Diria que a gente
tem de perdoar. Peço perdão e
peço que ela perdoe meu filho.
Que não haja mágoa, vingança.
FOLHA - Como o crime afetou sua
vida?
EURYDICE - Mudou tudo. Chego
à escola [da rede municipal],
vejo o jornal para me preparar
para os comentários. Outro dia,
um aluno disse que me viu em
um programa de "descarrego"
da Record. Fomos massacrados
na mídia.
FOLHA - Seu filho terá condições de
ser promotor apesar desse caso?
EURYDICE - Mas é claro! Ele tem
muita vocação. Meu filho fez 33
júris em um ano e meio! É muita coisa. Era enviado para júris
perigosos, em Itapevi, Diadema. Era um promotor muito
envolvido. Se ele for inocentado, qual o problema? Tem o
mesmo direito que todos.
FOLHA - A senhora teme a possibilidade de júri popular?
EURYDICE - No júri popular, a
emoção das pessoas está em jogo. Essa família [de Diego] pode
emocionar, ir vestida com camisetas. Mas acho que, no caso
de júri popular em Bertioga, as
pessoas de lá estão cansadas
dessas pessoas que vêm do interior e vão lá fazer confusão.
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Frase Índice
|