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PM culpa bandidos por metade dos protestos
Investigações sobre 5 das 10 manifestações violentas neste ano em SP não comprovam suposto elo entre moradores e criminosos
Para a PM, os inquéritos nem sempre descobrem os responsáveis por protestos porque a população teme denunciar os traficantes
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
A afirmação de que traficantes manipulam moradores de
comunidades pobres para que
façam protestos, como os ocorridos nesta semana na favela de
Heliópolis, foi usada pela PM
em 5 das 10 manifestações do
gênero realizadas neste ano em
São Paulo. Em nenhum caso, a
Polícia Civil conseguiu provar o
suposto elo entre os criminosos
e a população local.
Cinco inquéritos foram abertos para apurar os responsáveis
pelos protestos em Paraisópolis, Tiquatira, Vila Jacuí, Jardim Filhos da Terra e Heliópolis.
Por ser o mais antigo, só no
caso de Paraisópolis (zona sul)
as investigações estão em fase
de conclusão. Segundo o delegado Celso Lahoz Garcia, a suspeita de que a manifestação fora arquitetada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) não foi provada.
Nos outros casos, mais recentes, a polícia não tem prazo
para concluir os inquéritos,
mas ainda não vê indícios de
vínculo com o crime.
No caso do Jardim Filhos da
Terra (zona norte), em que os
moradores queimaram ônibus
e bloquearam ruas, em agosto,
a PM informou que o protesto
ocorreu porque policiais mataram o suposto traficante Ronnan Santos, 20, após ele reagir a
uma abordagem. A família disse que Ronnan não reagiu e negou que ele fosse traficante.
Após uma semana de investigação, a Polícia Civil passou a
duvidar da versão da PM. Investigadores ouvidos pela Folha disseram haver indícios de
que a manifestação não tenha
relação com traficantes.
Para um desses policiais, os
traficantes devem ter ficado
"dentro de casa rindo de tudo o
que estava acontecendo".
Nesta semana, em Heliópolis
(zona sul), os moradores protestaram depois que a estudante Ana Cristina de Macedo, 17,
foi morta durante suposta troca de tiros entre ladrões e guardas-civis de São Caetano do Sul
(Grande SP) no último dia 30.
Um bilhete apócrifo convocando moradores para protestarem em troca de uma cesta
básica é o principal indício do
envolvimento de traficantes
com o tumulto, disse a PM.
As investigações se baseiam
em depoimentos de testemunhas e em imagens -fornecidas por emissoras de TV e feitas
por uma câmera instalada no
helicóptero da Polícia Militar.
Por intermédio da assessoria, a PM disse que os inquéritos nem sempre descobrem
quem são os responsáveis pelas
manifestações porque a população se sente inibida em denunciar os líderes do tráfico.
Para mudar esse cenário de
intimidação, a PM afirma que
está reforçando o policiamento
comunitário onde houve conflitos. A estratégia, diz a corporação, é se aproximar da comunidade para impedir que ela seja manipulada por criminosos.
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