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Traficante depõe e diz ter pago policiais
Juan Carlos Abadía afirmou ao Ministério Público, após fazer acordo de delação premiada, que foi extorquido em R$ 3,2 milhões
Três extorsões, disse, foram feitas mediante seqüestro de integrantes da sua quadrilha por policiais da delegacia antinarcóticos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía
contou para promotores que
sofreu cinco extorsões da Polícia Civil de São Paulo no ano
passado. Foi o primeiro depoimento gravado em vídeo de
Abadía sobre o caso -antes, ele
falara informalmente à Polícia
Federal. Três extorsões, disse,
foram feitas mediante seqüestro de integrantes da sua quadrilha por policiais do Denarc, a
delegacia antinarcóticos.
O traficante disse ter pago
US$ 1,48 milhão (em dólares
mesmo) para integrantes do
Denarc e R$ 400 mil a um delegado da área fazendária. Ao todo, os policiais teriam tomado
R$ 3,2 milhões. Abadía disse
também ter dado a eles um jipe
Toyota, um jet-ski e uma moto
Yamaha de 650 cilindradas.
O colombiano era um dos
traficantes mais procurados do
mundo até ser preso pela PF
em agosto. À época, a Folha revelou que o traficante dissera à
PF ter sido extorquido em US$
800 mil por policiais do Denarc. Anteontem, a Folha revelou que dois integrantes da
quadrilha de Abadía contaram
a promotores ter sofrido outras
extorsões. Três setores da polícia foram citados: Denarc, Detran (a delegacia de trânsito) e
a delegacia fazendária.
O traficante só aceitou falar
sobre as supostas extorsões da
Polícia Civil porque fez um
acordo de delação premiada
com o juiz Fausto Martin de
Sanctis, com a Polícia Federal e
com o Ministério Público Federal. Ele quer ser extraditado
o mais rapidamente possível
para os EUA. Para demonstrar
que quer colaborar, entregou o
local onde escondia cerca de R$
3 milhões e topou relatar os casos que chama de corrupção.
O depoimento de Abadía foi
tomado anteontem à noite por
promotores depois de ele ter
sido interrogado por quatro
horas e meia pelo juiz.
O traficante foi ouvido por
Roberto Porto e Arthur Lemos
Jr., do Gaeco, grupo do Ministério Público que investiga o
crime organizado. Depois, eles
disseram aos jornalistas que o
traficante ficara em silêncio.
Era um despiste para tentar
evitar o vazamento de uma investigação sigilosa. O advogado
de Abadía, Sergio Alambert, repetiu ontem à Folha o que dissera na véspera: que seu cliente
usou o direito de ficar quieto.
Tortura
Abadía relatou detalhes dos
supostos seqüestros. Contou
que os policiais inicialmente
não se identificaram como policiais. Quando perceberam
que a tática não funcionaria,
apresentaram-se como policiais da delegacia antinarcóticos, segundo ele.
Três integrantes de sua quadrilha foram seqüestrados, disse Abadía: o colombiano Henry
Edval Lagos, o Pacho, que está
foragido, o piloto de aviões André Luiz Telles Barcellos e Ana
Maria Stein, mulher do empresário Daniel Maróstica.
André e Daniel são suspeitos
de ajudar Abadía a comprar
bens em nome de laranjas e são
réus no processo junto com o
traficante, acusados de lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha, entre outros crimes.
O colombiano contou aos
promotores que André foi torturado por policiais do Denarc.
Disse que o piloto apanhou e foi
ameaçado com choques e com
um pedaço de pau -que seria
usado para empalar o piloto, segundo o traficante.
André foi liberado depois de
os policiais receberem US$ 400
mil, segundo o depoimento.
A libertação de Pacho custou
US$ 280 mil, colocados dentro
de um Peugeot com a chave no
contato, ainda de acordo com
Abadía. Ele contou que os policiais pegaram o carro no estacionamento de uma farmácia.
O resgate mais caro foi o de
Ana Maria Stein (US$ 800 mil),
segundo o traficante. Ele afirmou que entregou pessoalmente o dinheiro aos policiais
num posto de gasolina.
Abadía contou que, quando
afirmou aos policiais que não
tinha dinheiro para o resgate,
eles teriam sugerido o pagamento em cocaína. Ao ver a foto de um policial gordo, Abadía
disse que era praticamente certo o seu envolvimento no caso.
Ele disse ter pago R$ 400 mil
a um delegado fazendário que
descobriu que uma lancha dele
estava em nome de um laranja.
O traficante relatou que deu dinheiro a policiais do Detran pelo mesmo motivo: tinha carros
em nome de laranjas.
US$ 1,5 MILHÃO
foi quanto o traficante Abadía disse
ter pago a policiais do Denarc de
São Paulo
R$ 400 MIL
foi quanto o traficante diz ter pago
a um delegado fazendário que descobriu uma lancha de Abadía em
nome de um laranja
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