São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Traficante depõe e diz ter pago policiais

Juan Carlos Abadía afirmou ao Ministério Público, após fazer acordo de delação premiada, que foi extorquido em R$ 3,2 milhões

Três extorsões, disse, foram feitas mediante seqüestro de integrantes da sua quadrilha por policiais da delegacia antinarcóticos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía contou para promotores que sofreu cinco extorsões da Polícia Civil de São Paulo no ano passado. Foi o primeiro depoimento gravado em vídeo de Abadía sobre o caso -antes, ele falara informalmente à Polícia Federal. Três extorsões, disse, foram feitas mediante seqüestro de integrantes da sua quadrilha por policiais do Denarc, a delegacia antinarcóticos.
O traficante disse ter pago US$ 1,48 milhão (em dólares mesmo) para integrantes do Denarc e R$ 400 mil a um delegado da área fazendária. Ao todo, os policiais teriam tomado R$ 3,2 milhões. Abadía disse também ter dado a eles um jipe Toyota, um jet-ski e uma moto Yamaha de 650 cilindradas.
O colombiano era um dos traficantes mais procurados do mundo até ser preso pela PF em agosto. À época, a Folha revelou que o traficante dissera à PF ter sido extorquido em US$ 800 mil por policiais do Denarc. Anteontem, a Folha revelou que dois integrantes da quadrilha de Abadía contaram a promotores ter sofrido outras extorsões. Três setores da polícia foram citados: Denarc, Detran (a delegacia de trânsito) e a delegacia fazendária.
O traficante só aceitou falar sobre as supostas extorsões da Polícia Civil porque fez um acordo de delação premiada com o juiz Fausto Martin de Sanctis, com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal. Ele quer ser extraditado o mais rapidamente possível para os EUA. Para demonstrar que quer colaborar, entregou o local onde escondia cerca de R$ 3 milhões e topou relatar os casos que chama de corrupção.
O depoimento de Abadía foi tomado anteontem à noite por promotores depois de ele ter sido interrogado por quatro horas e meia pelo juiz.
O traficante foi ouvido por Roberto Porto e Arthur Lemos Jr., do Gaeco, grupo do Ministério Público que investiga o crime organizado. Depois, eles disseram aos jornalistas que o traficante ficara em silêncio.
Era um despiste para tentar evitar o vazamento de uma investigação sigilosa. O advogado de Abadía, Sergio Alambert, repetiu ontem à Folha o que dissera na véspera: que seu cliente usou o direito de ficar quieto.

Tortura
Abadía relatou detalhes dos supostos seqüestros. Contou que os policiais inicialmente não se identificaram como policiais. Quando perceberam que a tática não funcionaria, apresentaram-se como policiais da delegacia antinarcóticos, segundo ele.
Três integrantes de sua quadrilha foram seqüestrados, disse Abadía: o colombiano Henry Edval Lagos, o Pacho, que está foragido, o piloto de aviões André Luiz Telles Barcellos e Ana Maria Stein, mulher do empresário Daniel Maróstica.
André e Daniel são suspeitos de ajudar Abadía a comprar bens em nome de laranjas e são réus no processo junto com o traficante, acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros crimes.
O colombiano contou aos promotores que André foi torturado por policiais do Denarc. Disse que o piloto apanhou e foi ameaçado com choques e com um pedaço de pau -que seria usado para empalar o piloto, segundo o traficante.
André foi liberado depois de os policiais receberem US$ 400 mil, segundo o depoimento.
A libertação de Pacho custou US$ 280 mil, colocados dentro de um Peugeot com a chave no contato, ainda de acordo com Abadía. Ele contou que os policiais pegaram o carro no estacionamento de uma farmácia.
O resgate mais caro foi o de Ana Maria Stein (US$ 800 mil), segundo o traficante. Ele afirmou que entregou pessoalmente o dinheiro aos policiais num posto de gasolina.
Abadía contou que, quando afirmou aos policiais que não tinha dinheiro para o resgate, eles teriam sugerido o pagamento em cocaína. Ao ver a foto de um policial gordo, Abadía disse que era praticamente certo o seu envolvimento no caso.
Ele disse ter pago R$ 400 mil a um delegado fazendário que descobriu que uma lancha dele estava em nome de um laranja. O traficante relatou que deu dinheiro a policiais do Detran pelo mesmo motivo: tinha carros em nome de laranjas.

US$ 1,5 MILHÃO
foi quanto o traficante Abadía disse ter pago a policiais do Denarc de São Paulo

R$ 400 MIL
foi quanto o traficante diz ter pago a um delegado fazendário que descobriu uma lancha de Abadía em nome de um laranja


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