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Cresce o número de queixas sobre barulho em São Paulo
Reclamações ao Psiu até agosto aumentaram 31,36% e já equivalem a 83,5% do total de 2007
Região da Subprefeitura de Pinheiros, onde está a Vila Madalena, é a campeã de notificações; foram 2.667, ou 36,91% a mais que em 2007
Choque/Folha Imagem
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Bar na Mooca; bairro é o segundo em reclamações na prefeitura |
EVANDRO SPINELLI
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nem Lei Seca nem restrições
a caminhões nem fiscalização.
Nada deteve a escalada das reclamações de barulho em São
Paulo. O Psiu (Programa de Silêncio Urbano) recebeu, de janeiro a agosto deste ano,
31,36% mais queixas que no
mesmo período do ano passado. A soma dos registros de
2008 já equivale a 83,47% de
todas as reclamações recebidas
em 2007 inteiro.
A Folha teve acesso a um relatório do Psiu que aponta o
número de reclamações mês a
mês, de janeiro de 2007 ao mês
passado, de cada uma das 96
subprefeituras.
A campeã de reclamações é a
de Pinheiros, na zona oeste,
com 2.667 notificações ao Psiu,
36,91% a mais que no ano passado. Não é por acaso. A Vila
Madalena, onde se concentra a
maior parte dos bares da moda,
fica exatamente em Pinheiros.
Tantos registros podem não
significar a solução do problema. Há quem, cansado de ter
que se adaptar ao barulho, prefere se mudar. "A gente está
procurando um apartamento
em Pinheiros, mas que fique
longe dos bares", conta o comerciante Luiz Carlos Afonso,
64, morador da rua Mourato
Coelho há 40 anos e vizinho de
bares com música ao vivo. "A
gente liga, liga, liga [para o
Psiu] e não adianta nada."
Até agora, porém, a placa de
"aluga-se", pendurada há quatro meses no portão do comerciante, só atraiu os donos de
bares. "Vou ter que me juntar a
eles, mas vou cair fora", brinca.
As maiores reclamações de
poluição sonora em São Paulo
também ficam na região. De
acordo com a pesquisa DNA
Paulistano, do instituto Datafolha, 24% dos moradores do
distrito de Pinheiros e 18% do
distrito do Jardim Paulista
acham que o barulho é o principal problema de onde moram.
Ambos pertencem à Subprefeitura de Pinheiros.
Entre os dois, com 21% de
moradores que apontam a poluição sonora como o pior problema do bairro, está o distrito
da Consolação, na Subprefeitura da Sé, campeã de reclamações ao Psiu no ano passado e
terceira colocada neste ano. A
rua Augusta, onde se concentram diversos bares e casas noturnas, fica nessa região.
Para a prefeitura, a cidade não
está mais barulhenta. A explicação para a disparada de queixas
é a maior divulgação das ações
do Psiu, que tem multado e fechado casas, por exemplo, na
Vila Mariana e em Moema.
Alta concentração
Para Sarah Feldman, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da USP
de São Carlos, essa concentração faz com que o barulho seja
incontrolável. "[A prefeitura]
Não tem controle de bares que
podem se instalar em uma rua
residencial." Ela explica que, na
hora em que se somam dez ou
15 bares em uma mesma rua, o
barulho produzido por eles pode ultrapassar o limite, mesmo
que cada um, sozinho, atenda
às restrições. "Isso não foi bem
resolvido na legislação."
A prefeitura confirma que
não tem controle sobre o número de bares instalados em
uma única rua ou região. Se o
zoneamento permitir, os empreendimentos podem se instalar livremente.
Segundo Sarah, as exigências
são insuficientes. "Não temos
uma cultura de instalação de
bar que tenha preocupação
com o barulho que vai ocorrer
na vizinhança. Isso deveria estar no projeto do bar", diz.
Na rua Augusta, por exemplo, apenas nos sete quarteirões que separam a avenida
Paulista e a rua Caio Prado, há
35 bares, restaurantes e casas
noturnas. Na rua Mourato Coelho, Vila Madalena, nos seis
quarteirões entre as ruas dos
Pinheiros e Wisard se enfileiram 56 estabelecimentos.
"É insuportável. É todo tipo
de barulho, desde samba até
pessoas com som alto e brigas
na rua. Todo mundo acha que a
Vila Madalena é uma festa e esquece que é um bairro residencial", reclama o mecânico Bruno Alberto Barbosa, 21, que
mora em uma casa na rua Mourato Coelho.
De acordo com o governo, os
técnicos do Psiu, quando vão
vistoriar os bares, precisam fazer duas medições de barulho.
A primeira da rua, virado para o
bar. A segunda, para a via. Se a
rua estiver mais barulhenta
que o bar, o empreendimento
não pode ser multado, mesmo
que esteja descumprindo os limites de ruído permitidos.
Mais reclamações não significam, necessariamente, mais
autuações. Os números obtidos
pela Folha são equivalentes às
notificações de moradores ao
Psiu. Muitas delas, no entanto,
não são de responsabilidade do
órgão -brigas de vizinhos ou
trânsito, por exemplo.
Além disso, de acordo com a
prefeitura, de 45% a 50% das
queixas são repetidas, em alguns casos da mesma pessoa.
O aumento das reclamações
refletiu também em mais fechamentos de bares pelo Psiu.
Neste ano, até 31 de julho (último dado tabulado pelo Psiu)
foram 34 fechamentos, 6.549
notificações e 289 multas. De
janeiro a outubro de 2007 foram 35 fechamentos, 3.929 notificações e 493 multas.
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