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Morre fundador da Nenê de Vila Matilde
Corpo de Alberto Alves da Silva, o seu Nenê, 89, está sendo velado na quadra, de onde sai às 10h para enterro
Causa foi insuficiência respiratória; em 1949, ele e amigos decidiram criar uma escola de samba na zona leste
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
Uma das mais tradicionais
escolas de samba de SP, a Nenê de Vila Matilde abriu ontem sua quadra, na zona leste da capital, para o choro e a
tristeza da comunidade. Os
que foram ao velório no local
viram pela última vez o fundador da escola, Alberto Alves da Silva, o seu Nenê.
Aos 89 anos, ele morreu na
madrugada de ontem, de insuficiência respiratória.
Nascido na cidade mineira
de Santos Dumont, Nenê
chegou a São Paulo ainda
criança. Era filho de um funcionário da Central do Brasil.
Aos nove anos, utilizando
uma lata de goiabada e tampinhas de garrafa, ele fez seu
primeiro pandeiro -mesmo
instrumento colocado ontem
pela família sobre o caixão,
ao lado de seu chapéu.
Em 1949, Nenê e os amigos
da roda de samba que se reunia no largo do Peixe, na Vila
Matilde, em SP, decidiram
criar uma escola. No dia de
registrarem a ideia no cartório, porém, ainda não tinham
um nome para a agremiação.
O funcionário do cartório,
ao vê-los discutir a questão,
perguntou como se chamava
o rapaz que não parava de
batucar o pandeiro. Era Nenê. Ao ouvir a resposta, o cartorário sugeriu: "Nenê de Vila Matilde". O nome ficou.
Com 11 títulos, a agremiação que Nenê presidiu por 47
anos -saiu do cargo em
1996, por problemas de saúde- é a segunda maior campeã em SP, perdendo apenas
para a Vai-Vai, com 13.
Além de se dedicar aos
Carnavais, ele também trabalhou como metalúrgico, com
uma carroça e teve uma banca de revistas, conta a sobrinha Arlete, que cuidou do tio
nos últimos nove anos.
Nenê morava na rua Julio
Rinaldi, onde fica a quadra
da escola, e se alternava o dia
todo entre os dois locais. Nos
últimos três anos, devido a
problemas de saúde, não
conseguia mais andar.
Exigente com o funcionamento da escola, gostava de
desfilar na bateria, tocando
caixa. Por um período de 26
anos seguidos, a bateria da
escola só tirou nota dez.
Da carioca Portela, que ele
admirava, pegou emprestadas as cores (azul e branco) e
o símbolo da águia.
Orgulhava-se de sua escola ter sido a única paulista
convidada para desfilar no
Carnaval do Rio, em 1985.
No ano passado, justo na
comemoração dos 60 anos
da escola, a Nenê foi rebaixada. Ela retorna ao grupo especial no próximo ano.
No final de setembro, o
sambista foi agraciado com a
Ordem do Ipiranga, mais alta
condecoração do Estado. Recebeu, numa cadeira de rodas, o título do governador.
Viúvo desde 1986 de Maria
Tereza, a quem conheceu
num baile, teve três filhos
-um deles morreu em 2008.
Hoje, seu corpo sai às 10h
da quadra da escola para o
cemitério da Quarta Parada,
onde acontece o enterro.
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