São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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Morre fundador da Nenê de Vila Matilde

Corpo de Alberto Alves da Silva, o seu Nenê, 89, está sendo velado na quadra, de onde sai às 10h para enterro

Causa foi insuficiência respiratória; em 1949, ele e amigos decidiram criar uma escola de samba na zona leste

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Uma das mais tradicionais escolas de samba de SP, a Nenê de Vila Matilde abriu ontem sua quadra, na zona leste da capital, para o choro e a tristeza da comunidade. Os que foram ao velório no local viram pela última vez o fundador da escola, Alberto Alves da Silva, o seu Nenê.
Aos 89 anos, ele morreu na madrugada de ontem, de insuficiência respiratória.
Nascido na cidade mineira de Santos Dumont, Nenê chegou a São Paulo ainda criança. Era filho de um funcionário da Central do Brasil.
Aos nove anos, utilizando uma lata de goiabada e tampinhas de garrafa, ele fez seu primeiro pandeiro -mesmo instrumento colocado ontem pela família sobre o caixão, ao lado de seu chapéu.
Em 1949, Nenê e os amigos da roda de samba que se reunia no largo do Peixe, na Vila Matilde, em SP, decidiram criar uma escola. No dia de registrarem a ideia no cartório, porém, ainda não tinham um nome para a agremiação.
O funcionário do cartório, ao vê-los discutir a questão, perguntou como se chamava o rapaz que não parava de batucar o pandeiro. Era Nenê. Ao ouvir a resposta, o cartorário sugeriu: "Nenê de Vila Matilde". O nome ficou.
Com 11 títulos, a agremiação que Nenê presidiu por 47 anos -saiu do cargo em 1996, por problemas de saúde- é a segunda maior campeã em SP, perdendo apenas para a Vai-Vai, com 13.
Além de se dedicar aos Carnavais, ele também trabalhou como metalúrgico, com uma carroça e teve uma banca de revistas, conta a sobrinha Arlete, que cuidou do tio nos últimos nove anos.
Nenê morava na rua Julio Rinaldi, onde fica a quadra da escola, e se alternava o dia todo entre os dois locais. Nos últimos três anos, devido a problemas de saúde, não conseguia mais andar.
Exigente com o funcionamento da escola, gostava de desfilar na bateria, tocando caixa. Por um período de 26 anos seguidos, a bateria da escola só tirou nota dez.
Da carioca Portela, que ele admirava, pegou emprestadas as cores (azul e branco) e o símbolo da águia.
Orgulhava-se de sua escola ter sido a única paulista convidada para desfilar no Carnaval do Rio, em 1985.
No ano passado, justo na comemoração dos 60 anos da escola, a Nenê foi rebaixada. Ela retorna ao grupo especial no próximo ano.
No final de setembro, o sambista foi agraciado com a Ordem do Ipiranga, mais alta condecoração do Estado. Recebeu, numa cadeira de rodas, o título do governador.
Viúvo desde 1986 de Maria Tereza, a quem conheceu num baile, teve três filhos -um deles morreu em 2008.
Hoje, seu corpo sai às 10h da quadra da escola para o cemitério da Quarta Parada, onde acontece o enterro.


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