São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Segundo investigação, a favela do Jacarezinho seria base de venda da droga, mais barata e mais nociva que a cocaína

PCC fornece crack para o Rio, diz polícia

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) está fornecendo crack para traficantes do CV (Comando Vermelho) venderem em favelas do Rio de Janeiro, de acordo com investigações da Cinpol (Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil).
O esquema foi descoberto na semana passada, quando policiais civis da Divisão de Capturas Norte da Polinter (Polícia Interestadual) prenderam, na favela do Jacarezinho (zona norte), o traficante Michel Levi dos Santos Araújo, o Testa, 19.
De acordo com o registro policial, Testa foi pego com nove pedras de crack. Em depoimento, ele disse que a droga veio de São Paulo, enviada por traficantes do PCC. Ele afirmou não saber quem seriam os fornecedores.
O delegado Marcos Ducker, que efetuou a prisão, afirmou que, desde setembro, já autuou duas pessoas que compraram a droga no Jacarezinho.
O fornecimento, pelo PCC, de crack a quadrilhas vinculadas ao CV começou no ano passado, de acordo com as investigações da Cinpol.
A favela do Jacarezinho, onde o tráfico de drogas é controlado pelo CV, serve de base para o esquema. A quadrilha da favela, liderada por André Anchieta Duarte, o Menininho, recebe o crack de São Paulo e distribui para outros redutos da facção.
Um mapeamento feito pela Cinpol sobre o tráfico no Jacarezinho revela que a favela possui dois pontos-de-venda exclusivos de crack. O preço da droga varia, em média, de R$ 5 a R$ 10.
Outras comunidades controladas pelo CV que também comercializam o crack são a Mangueira (zona norte), a Rocinha (zona sul) e o Pavão-Pavãozinho (zona sul).
Os policiais encarregados da investigação já identificaram pelo menos um fornecedor do PCC, cujo nome vem sendo mantido em sigilo.
Apesar do esquema, os policiais da Cinpol calculam que a venda de crack no Rio seja muito reduzida porque os traficantes fluminenses não têm interesse em comercializar a droga.
O motivo é que o crack não tem o mesmo valor de mercado do que a cocaína e causa danos mais rápidos à saúde dos usuários.
Criado na década de 1980 nas Bahamas, o crack, que é um subproduto da cocaína, se disseminou em São Paulo nos anos 90.
O envio de crack para o Rio é mais um indício da aliança entre PCC e CV, unidos para conter a ascensão das facções rivais TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigo dos Amigos). Além de tramarem ações em presídios, integrantes do PCC e CV negociam armas e drogas.
Segundo a Cinpol, traficantes como Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, chefe do tráfico na Rocinha, e Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, preso em Bangu 1, mantêm contatos frequentes com criminosos paulistas do PCC.


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