UOL


São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Comunidade deu tinta e mão-de-obra para cobrir as marcas de tiros que atingiram a base comunitária da PM no Parque Anhanguera

Atentados deixam policiais militares tensos

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

O sargento Parisi não consegue disfarçar o choro ao se lembrar do também sargento Fábio Soares, morto no último domingo em atentado contra a base comunitária da Polícia Militar no Parque Anhanguera (zona norte de SP). Parisi chegou uma hora após o ataque. "Foi uma cena horrível", diz, diante de paredes esburacadas pelos tiros -que um pintor cobria com tinta azul.
A comunidade ofereceu tinta e mão-de-obra para os reparos. "Seria muito difícil ficar aqui com aquelas marcas. Embora as outras marcas continuem", diz.
Os filhos ligam de tempos em tempos para saber se ele está bem. O sargento os tranquiliza, embora tema novos ataques.
Normalmente, dois PMs ficam na base e outros dois atendem às ocorrências em motocicletas. A PM encaminhou mais um policial ao local e disponibilizou uma carabina. Mas os policiais ainda sentem medo.
O sentimento é o mesmo em outras bases atacadas. "Evito ficar dentro do posto, que é mais vulnerável. Se os bandidos tivessem chegado antes, poderia ter sido eu", diz um soldado da base do Tremembé (zona norte), que não quis se identificar. Ele era colega do cabo Pedro Cassiano Cunha, 44, que morreu após ataque anteontem. Na hora do crime havia três policiais no local; ontem à tarde, nove.
A segurança também foi reforçada na base móvel da PM na Consolação (centro), atingida no domingo. De cinco policiais e três veículos, a unidade passou para cinco carros e nove policiais. Além disso, os PMs afunilaram a rua com cones para reduzir a velocidade dos carros.
A reportagem também visitou ontem três bases da PM na zona norte -no Imirim, na avenida Brás Leme e na ponte das Bandeiras. Em todas, a revolta e o medo dos PMs era evidente.
Na base do Imirim, onde existe um tanque de combustível para os carros do 9º Batalhão, havia três PMs. Dois deles portavam um revólver 38, cada um com apenas cinco cápsulas. A situação do terceiro policial era ainda pior: não tinha arma nem colete à prova de balas. "Normalmente, aqui fica só uma soldado feminina, sem ninguém para apoiá-la. Imagina o que pode acontecer se esses bandidos jogarem uma granada nesse tanque [de combustível]?", disse um policial militar.
O radiocomunicador da base também está sendo evitado pelos policiais, que só se comunicam por telefone.
"Nosso serviço de inteligência descobriu que os bandidos estão escutando a nossa frequência."
Na Brás Leme, o único reforço era uma escopeta calibre 12 com sete tiros. Na base da ponte das Bandeiras, totalmente construída com vidro e que não tem telefone funcionando, os dois PMs disseram que "se sentem como animais expostos em uma vitrine, prontos para serem abatidos".
Até a conclusão desta edição, o comando da PM não respondeu às ligações para comentar a situação dos PMs nessas bases.


Colaborou o "Agora"


Texto Anterior: PM participa de blitze em prisões
Próximo Texto: Ordens continuam a sair das prisões
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.