UOL


São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMBIENTE

Fenômeno estaria sendo provocado após siderúrgica, hoje desativada, ter despejado resíduos industriais em Matozinhos

Área contaminada provoca incêndios em MG

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Focos de combustão no solo causados pela disposição incorreta de resíduos industriais ameaçam vizinhos de uma siderúrgica desativada no município de Matozinhos (região metropolitana de Belo Horizonte).
A empresa responsável pelo passivo ambiental é a Inbrasil (Indústria Brasileira de Siderurgia), fechada desde 1995 e com falência decretada em 1998. Os focos de calor -que retorcem plásticos e chegam a produzir pequenos incêndios- são resultado do descarte de moinha de carvão, subproduto do peneiramento do combustível não utilizado nos altos-fornos da siderúrgica.
Como o muro que cercava a empresa foi depredado, moradores ficam expostos ao risco de acidentes. No local, em meio a uma área residencial, não há sinalização de advertência e o trânsito de pessoas é constante. A reportagem da Agência Folha verificou pelo menos três pontos de combustão no terreno, de 3.000 m2. Capaz de retorcer garrafas de plástico, a mistura de terra e pó de carvão não é facilmente perceptível e afunda quando pressionada.
De acordo com Licínio Xavier, técnico da Feam (órgão ambiental estadual) que vistoriou a área, nem mesmo a chuva pode interromper o aquecimento do solo. Isso só seria possível, diz ele, se a água brotasse do chão.
O aposentado Osvaldo Garcia, 59, mora ao lado da siderúrgica há 20 anos. Sua casa fica a menos de 50 m de um dos focos de calor. "Todo mundo fica preocupado. Em qualquer lugar onde você cava, há fogo." A maioria dos moradores disse conhecer casos de pessoas queimadas no local, mas nenhum dos supostos feridos foi localizado pela reportagem.
A Feam vistoriou a área no dia 16. Em relatório, constatou "risco iminente de acidentes". Informou que solicitará o fechamento da área ao responsável pela massa falida, mas que ainda serão necessários estudos para avaliar profundidade e volume do material incandescente.
A Inbrasil iniciou suas atividades em 1959. Nos anos 80, produzia 3.000 t de ferro-gusa por mês, que geravam outras 40 t mensais de moinha de carvão. Apesar de a empresa possuir histórico de problemas ambientais, esses eram relacionados só à emissão de pó de carvão na atmosfera. Até o dia 16, não havia, nos arquivos da Feam sobre a Inbrasil, qualquer menção aos focos de combustão.
Em dezembro de 1979, ofício da Prefeitura de Matozinhos à Comissão de Política Ambiental do Estado alertava para "insistentes reclamações" de moradores contra a poluição causada pela Inbrasil. No ano seguinte, uma vistoria realizada no local concluiu que as atividades da empresa não prejudicavam "significativamente" a população local. No entanto, por não cumprir recomendações do órgão ambiental estadual, a Inbrasil acabou sendo autuada duas vezes, em 1985 e 1989.


Texto Anterior: Porto Ferreira: Relatório pede cassação de mandatos de vereadores
Próximo Texto: Outro lado: "Fogo resulta de ação de pessoas", afirma advogado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.