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AMBIENTE
Fenômeno estaria sendo provocado após siderúrgica, hoje desativada, ter despejado resíduos industriais em Matozinhos
Área contaminada provoca incêndios em MG
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Focos de combustão no solo
causados pela disposição incorreta de resíduos industriais ameaçam vizinhos de uma siderúrgica
desativada no município de Matozinhos (região metropolitana
de Belo Horizonte).
A empresa responsável pelo
passivo ambiental é a Inbrasil (Indústria Brasileira de Siderurgia),
fechada desde 1995 e com falência
decretada em 1998. Os focos de
calor -que retorcem plásticos e
chegam a produzir pequenos incêndios- são resultado do descarte de moinha de carvão, subproduto do peneiramento do
combustível não utilizado nos altos-fornos da siderúrgica.
Como o muro que cercava a
empresa foi depredado, moradores ficam expostos ao risco de acidentes. No local, em meio a uma
área residencial, não há sinalização de advertência e o trânsito de
pessoas é constante. A reportagem da Agência Folha verificou
pelo menos três pontos de combustão no terreno, de 3.000 m2.
Capaz de retorcer garrafas de
plástico, a mistura de terra e pó de
carvão não é facilmente perceptível e afunda quando pressionada.
De acordo com Licínio Xavier,
técnico da Feam (órgão ambiental
estadual) que vistoriou a área,
nem mesmo a chuva pode interromper o aquecimento do solo.
Isso só seria possível, diz ele, se a
água brotasse do chão.
O aposentado Osvaldo Garcia,
59, mora ao lado da siderúrgica há
20 anos. Sua casa fica a menos de
50 m de um dos focos de calor.
"Todo mundo fica preocupado.
Em qualquer lugar onde você cava, há fogo." A maioria dos moradores disse conhecer casos de pessoas queimadas no local, mas nenhum dos supostos feridos foi localizado pela reportagem.
A Feam vistoriou a área no dia
16. Em relatório, constatou "risco
iminente de acidentes". Informou
que solicitará o fechamento da
área ao responsável pela massa falida, mas que ainda serão necessários estudos para avaliar profundidade e volume do material incandescente.
A Inbrasil iniciou suas atividades em 1959. Nos anos 80, produzia 3.000 t de ferro-gusa por mês,
que geravam outras 40 t mensais
de moinha de carvão. Apesar de a
empresa possuir histórico de problemas ambientais, esses eram relacionados só à emissão de pó de
carvão na atmosfera. Até o dia 16,
não havia, nos arquivos da Feam
sobre a Inbrasil, qualquer menção
aos focos de combustão.
Em dezembro de 1979, ofício da
Prefeitura de Matozinhos à Comissão de Política Ambiental do
Estado alertava para "insistentes
reclamações" de moradores contra a poluição causada pela Inbrasil. No ano seguinte, uma vistoria
realizada no local concluiu que as
atividades da empresa não prejudicavam "significativamente" a
população local. No entanto, por
não cumprir recomendações do
órgão ambiental estadual, a Inbrasil acabou sendo autuada duas
vezes, em 1985 e 1989.
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